DESATIVADO / Entrevistas / Política

"O PT está derretendo", diz Benito Gama

Confira entrevista exclusiva à Tribuna da Bahia

Deputado federal e vice-líder do governo de Michel Temer no Congresso, Benito Gama (PTB-BA) acredita que, com a saída de Dilma Rousseff, a tendência do Brasil é alcançar a estabilidade econômica e institucional. Em entrevista à Tribuna, o congressista analisa a atual conjuntura política e explica os fatores que levaram ao impeachment nos bastidores do poder. “Como não conseguimos fazer o conserto da economia com a presidente Dilma, ela partiu para esses erros como as pedaladas fiscais. Sendo assim, fizemos essa operação do impeachment”. O petebista fala ainda sobre o desenrolar da Operação Lava-Jato, sobre a crise enfrentada pelo PT e comenta as eleições para presidente da Câmara Federal, além de fazer ponderações em torno das eleições municipais, apostando na reeleição de ACM Neto. 
 

Confira entrevista completa:

Tribuna - O jogo virou. Como avalia o momento da política no Brasil? Tenso?
Benito Gama -
Vivemos um momento muito tenso, mas agora há uma descompressão. Dois fatores aconteceram nas últimas semanas. A primeira foi o impeachment da presidente Dilma na Câmara. E o segundo foi a renúncia de Eduardo Cunha e agora a eleição de Rodrigo Maia. Então a Câmara deu dois grandes exemplos de mudanças e tenho certeza que esses dois eventos vão ser confirmados agora em agosto, tanto o impeachment da presidente quanto a situação de Eduardo Cunha. Então, poderemos cuidar da economia com muito mais vigor, criando uma expectativa positiva. E a política agora vai contaminar a economia positivamente, ao contrário do que foi com o PT e a ex-presidente Dilma, que contaminaram negativamente.

Tribuna - Estamos acompanhando a queda de Eduardo Cunha. Ele será cassado ou ainda tem fôlego para uma reviravolta?
Benito Gama -
A avaliação que Eduardo Cunha tem na Câmara é a mesma que tem na Comissão de Constituição e Justiça. A expectativa é o resultado da CCJ ir a plenário na Câmara, onde ele poderá sofrer um revés. Isso é o que ouvimos no plenário e no próprio ambiente político da Câmara dos Deputados, que deve repetir a votação da CCJ. Sendo assim, ele será cassado. Essa não é a minha expectativa, mas a conversa lá no plenário da Câmara.

Tribuna - A eleição para presidente da Câmara. Como avalia a ascensão do Democratas?
Benito Gama -
Eu poderia dizer como ciclo. O PT está derretendo, as esquerdas não apresentaram um projeto para o Brasil, são projetos pessoais e de pequenos clubes. Então houve um vazio muito grande no Congresso. Com a saída de Eduardo Cunha, criou-se a expectativa de os partidos de porte médio nomearem o presidente, inclusive o Democratas, que hoje é um partido médio. Mas o Rodrigo Maia conseguiu negociar bem. Tinha duas candidaturas postas com ele, uma era dele e a outra era de Heráclito Fortes, do Piauí. Mas Heráclito não conseguiu a indicação do PSB e se juntou a Rodrigo, que foi o mais inteligente e coordenou melhor pela sua experiência e abalizou a sua candidatura. Teve uma vitória muito boa e inclusive inesperada. Não se esperava uma eleição com 115 votos de frente. Mas ele soube coordenar melhor os partidos e não diria que foi uma vitória do DEM. Ele é o representante do DEM, a sua vitória é a vitória de mais cinco ou seis partidos que fizeram o confronto com o deputado Russo.

Tribuna - Quais serão as prioridades da Câmara Federal agora? Qual a sua expetativa enquanto vice-líder do governo?
Benito Gama -
A orientação do presidente era resolver a nossa crise política que realmente estava contaminando a economia, que só funciona quando há segurança institucional e credibilidade no governo. E o governo da ex-presidente Dilma estava totalmente desacreditado, tanto no Brasil quanto no exterior. Então agora começa a se abrir um novo caminho. O presidente quer reformas, vamos trabalhar no controle dos gastos exagerados do governo, gastos inclusive que não levavam a lugar nenhum, vamos manter os programas sociais na integridade, sobretudo o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida. Na questão da educação, o Fies, vamos manter os jovens na universidade. Esse é o projeto de uma geração, porque essa questão dos jovens não é uma coisa de curto prazo, mas de médio prazo que está transformando uma nova geração de brasileiros, de profissionais. Tem a questão da previdência social, que ainda vai abrir a discussão; ainda não se sabe o que será feito. E o controle dos gastos públicos para reparar esse déficit. O Brasil não pode gastar R$180 bilhões a mais do que arrecada, se continuar assim estaremos em 10 anos em um buraco que não tem tamanho. Então vamos fazer essas reformas e a questão de aumento de impostos, o presidente não quer ouvir falar disso. Isso só seria lançado mão em última instância se fosse necessário. Mas penso que com a redução dos gastos e o controle do orçamento, o Brasil não vai precisar aumentar impostos, como a famigerada CPMF, que no Congresso hoje não tem apoio.

Tribuna - Esse loteamento de cargos políticos e de divisão de cargos que marca o início do governo Temer é uma repetição de erros do PT?
Benito Gama -
Eu não diria que o Temer está dividindo cargos, ele está fazendo um governo de coalizão. Ele está governando com os partidos que trabalharam no impeachment. Mas na seleção de pessoas para os cargos, é totalmente diferente do PT. Não há uma vinculação direta como tinha o PT, que organizou o Brasil como se fosse o próprio partido. Diferentemente, agora o PMDB, o PSDB, o Democratas têm espaço. Os partidos que fizeram o impeachment estão em uma coalizão de governo político. Não é a partilha pura e simples de cargos como se fez no governo do PT. Eles patrulhavam as pessoas e os cargos não eram para o país, mas para o partido.

Tribuna - A divisão de cargos na Bahia acomodou os interesses dos aliados?
Benito Gama -
Isso é um desdobramento desse processo nacional. Estamos justamente fazendo a seleção e os currículos são os melhores. Não vamos aparelhar o Estado brasileiro, muito menos os estados. Vamos colocar o que tem de melhor nessa seleção de novos cargos. É o que está acontecendo e é o que irá acontecer. As pessoas precisam ter experiência e história para fazer a operação. Então não vamos fazer aparelhamento partidário, mas é evidente que há uma coalizão partidária.

Tribuna - O que esperar do governo do PMDB. Temer vai conseguir tirar o Brasil da crise?
Benito Gama -
Não diria que é um governo do PMDB, mas um governo de Michel Temer. Esse é um governo de salvação nacional, no qual juntamos vários partidos. Tem um ano e meio de discussão, não do impeachment, mas de tentar encontrar um meio de organizar o país com a presidente Dilma, o que não conseguimos. A inflação, o desemprego, o orçamento estouraram. A moeda chegou a derreter. Então a perspectiva econômica era a pior possível. Como não conseguimos fazer o conserto da economia com a presidente Dilma, ela partiu para esses erros como as pedaladas fiscais. Sendo assim, fizemos essa operação do impeachment, que é política, democrática e constitucional, sob a supervisão de todas as jurisdições. E com a supervisão internacional. Na área internacional, todo mundo está na expectativa de apoiar o Temer. Não fazem ainda, como o Barack Obama, porque é interino, então não pode chegar o país a nível internacional. A expectativa é que, uma vez confirmado o impeachment, o mundo todo vai apoiar, tanto politicamente quanto do ponto de vista de investimentos. 

Tribuna - Foi a política, a economia ou roubalheira que derrubou Dilma Rousseff?
Benito Gama
- Os três formaram a tempestade que levou ela e o PT de rodo.

Tribuna - Acredita que a presidente Dilma possa retornar ao poder após o julgamento do Senado?
Benito Gama -
Essa questão do impeachment no Senado tem uma consciência de que 60 senadores já estão definidos pela aprovação do impeachment. O próprio PT tem argumentado internamente que não quer mais o retorno da presidente Dilma, que foi o grande equívoco do ex-presidente Lula. Eu não ouvi ele falar, estou citando segundo alguns. Mas evidentemente que isso é uma questão interna. O PT está derretendo e agora tem que se preocupar com o Brasil.

Tribuna - Como vê a movimentação do ex-presidente Lula para tentar reverter o impeachment? Mostra o desprestígio político, o sumiço dos amigos e a fragilidade dele nesse momento?
Benito Gama -
Ele está sofrendo agora no momento político e dentro do PT o que fez com outros amigos dele. Conquistou o poder e afastou os amigos. Hoje, 99% dos fundadores do PT não estão mais no partido. O meu sentimento é que os aliados dele no passado estão fazendo com ele agora o que ele fez. Penso que é uma relação de troca com os aliados que apanharam muito. Politicamente, Lula é quase um solitário no Brasil. 

Tribuna - Há excessos na Operação Lava-Jato?
Benito Gama -
Pelo contrário. Penso que é uma investigação correta e que as coisas vão continuar. O Judiciário está fazendo a parte dele, está fazendo tudo bem, como a Câmara fez. Dos três poderes, o que deu melhor resposta ao Brasil foi a Câmara, que fez o impeachment e tirou Eduardo Cunha. Vamos agora aguardar que o Judiciário termine a sua parte e o Executivo, com Michel Temer, faça as suas reformas. Penso que estamos em um caminho muito certo, muito direto. E, logo após a confirmação do impeachment em agosto, a visão será outra. Não há desconfiança hoje, mas a interinidade gera uma pequena insegurança. Mas o Senado está decidido e terá argumentos sólidos para votar a favor dessa mudança. 

Tribuna - Como viu a movimentação de peemedebistas, de petistas, para tentar barrar a Operação Lava-Jato? Ela corre algum tipo de risco?
Benito Gama -
Não vejo. Já presidi um processo como esse na época do Collor e essas pressões são naturais. Há esse jogo permanente na vida, às vezes muito mais na política. A Lava-Jato hoje é uma causa nacional. Todos nós hoje queremos passar esse país a limpo. Não acredito em qualquer movimentação que queira dificultar ou atrasar a Lava-Jato. O sentido está muito correto. E não há excessos. No geral, a investigação está indo no rumo certo.

Tribuna - Muito se fala que a operação Lava-Jato está fazendo a parte dela, mas a forma de fazer política tem que mudar para que corruptos e corruptores não continuem a usurpar o dinheiro público. O que fazer diante disso, já que só a Operação Lava-Jato não será suficiente para mudar a forma de fazer política no Brasil?
Benito Gama -
A Operação Lava-Jato tem que dar certo, ela só tem um caminho: ganhar ou ganhar. Mas se ela demorar muito ou se terminar agora não vai atrapalhar em nada o Brasil. O que atrapalhava o Brasil era a presidente Dilma Rousseff, era a presidência da Câmara dos Deputados, a economia com 11 milhões de desempregados. A Lava-Jato vai funcionar muito na ética, no futuro, na consciência das pessoas. É muito interessante hoje. Mas no ponto de vista do Brasil de hoje, a Lava-Jato vai continuar esse processo cada vez mais. Ela é importante, mas não é a salvação nacional. Não tem que acabar mais cedo ou mais tarde, tem é que continuar. 
 

Tribuna - Como viu o resultado do último Datafolha, que mostra que 50% da população quer a continuidade de Michel Temer e apenas 32% quer a volta de Dilma Rousseff. 
Benito Gama -
Quando trabalhamos no impeachment, não víamos isso nas ruas. A rejeição à presidente Dilma é muito grande. A pesquisa é só uma questão de tempo para você registrar isso em um país de 202 milhões de habitantes. Então isso não me surpreende e o Temer vai melhorar cada vez mais a sua popularidade. O que estávamos precisando era de um governo, agora temos um.

Tribuna - A base aliada do governo no Congresso estará dividida ou coesa no entorno de Michel Temer?
Benito Gama -
Michel Temer é um homem do parlamento. Foi nosso colega no Congresso durante muito tempo, foi duas vezes presidente da Câmara. Então ele acompanha isso com muita clareza, ele conhece muito bem isso. E a orientação dele para nós que estamos na liderança do governo e dos partidos no Congresso é realmente fazer o máximo possível para unir as bases de interesse nacional, e isso já está acontecendo. A equipe econômica começa a dar resultados extremamente positivos, as coisas estão muito positivas. As coisas que algumas pessoas reclamam são muito pequenas para atrapalhar a construção do governo Temer. 

Tribuna - Como o senhor avalia o governo de ACM Neto em Salvador? Ele chega fortalecido para a reeleição?
Benito Gama -
Ele faz por merecer. Porque ele tem feito um ótimo trabalho político de coordenação, de liderança, mas ele também fez um trabalho prático de administração muito eficiente. E o sucesso sem ter tido o governo federal, não tem o governo federal. Se tivesse, estaria bem melhor do que está hoje. Então acho que o grande mérito dele é fazer essa administração séria e correta, e com resultados práticos nas intervenções urbanas. Ele cresceu muito na adversidade. E quanto tiver a onda a favor, que é um dos casos do governo federal, vai melhorar muito. E eleitoralmente, as pesquisas mostram que ele está no caminho certo e penso que fará uma eleição muito boa. 

Tribuna - Qual o principal erro e qual o principal acerto do governo ACM Neto?
Benito Gama -
Ele tem três anos e meio de governo, então não dá para fazer uma avaliação aprofundada, mas o grande acerto dele é essa coordenação política que ele faz diante do PT e das esquerdas. E em três anos e meio não dá para ter um defeito que possa contaminar uma administração. Ele tem uma boa equipe, uma equipe jovem; ele está fazendo uma nova geração de administradores públicos, de novas políticas. Não está desprezando a experiência das pessoas que sempre estiveram do lado dele. Então penso que está construindo uma coisa muito positiva. Defeitos todos nós temos, mas não sei detectar agora um defeito na cidade.

Tribuna - A falta de um candidato do PT em Salvador demonstra esse momento de fragilidade do partido?
Benito Gama -
Demonstra. Isso é uma fragilidade política que o governador e o PT não poderiam deixar transparecer, mas foi tão evidente essa força que eles estão atordoados. Eles tomaram uma pancada.


Tribuna - Como avalia o governo Rui Costa? Sem o apoio do governo federal, ele vai ter dificuldade para enfrentar até a reeleição em 2018?
Benito Gama -
O governo federal vai continuar, até porque tem a bancada federal, estamos trabalhando para isso. Tem o Senado também. Então não vamos deixar haver nenhuma perseguição ao governador, mesmo sendo do PT, porque seria uma posição à Bahia, não ao governo. Mas, fazendo uma avaliação muito rápida, ainda não vejo a obra estruturante desse governo. Nem a obra estruturante do governo do PT na Bahia, que está há 10 anos no poder. 

Tribuna - Qual a prioridade do PTB na próxima eleição e qual a expetativa para a eleição aqui em Salvador e na Bahia?
Benito Gama -
Nosso projeto nacional, como todo partido, é crescer. Estamos fazendo esse esforço, viajando o Brasil todo, o partido está definindo nos municípios as alianças e as eleições. Precisamos ganhar bem as eleições no interior. Nossa aliança com ACM Neto aqui na Bahia chegou para ficar e o nosso objetivo sempre é crescer. Nas últimas eleições tivemos 25 deputados federais e o nosso objetivo é chegar a 32 em 2018. Penso que é uma meta palatável.

Tribuna - Para finalizar, qual a mensagem que deixa para a população, sobretudo nesse período de pré-eleição?
Benito Gama -
A eleição confirma uma preferência e uma expectativa de administração. Quem realmente tem perspectiva e quer o bem do seu Estado e da sua cidade vai votar no melhor candidato. Penso que é escolher o melhor candidato, quem tem maior compromisso com a cidade, com os municípios. E esse compromisso do eleitor com o candidato é muito forte. A minha expectativa é que cada um faça a sua votação na expectativa de que a pessoa que vai ser eleita, seja vereador ou prefeito, cuide bem da cidade onde você mora, que trate a cidade como a própria casa. Isso, para mim, é muito importante. 

Colaboraram Fernanda Chagas e Guilherme Reis.