Desde maio, quando a gente abre o jornal ou liga a televisão, pode tomar um choque. Agora, a qualquer momento, um deputado ou senador pode estar entrado ‘em cana’. Acho que a ‘tchurma’ política não consegue mais dormir em paz. E nem as suas mulheres ou família. Está todo mundo com medo da ‘lava-jato’, que não alivia pra nenhum lado. Cai esquerda, cai direita, cai centro, cai pau-mandado, cai até moleque-de-recado. E não tem discriminação de classe: cai ‘zelite’, ralé, meeiro, ou tico-tico-no-fubá. É botar a mão no milhão, se não tá cozido nem assado, entra em cana. Tedesconjuro!
Hoje nós não sabemos qual político será ‘presenteado’ com descobertas de suas malandragens. Até um ex-aluninho meu está em cana por alguns milhões, ou melhor, por um milharal. Eu acho que bobinha mesmo só tem euzinha, que nunca vi milhão reluzindo, nem cozido, nem assado.
Mas eu não quero ver nem de binóculo esse monte de dinheiro que está rolando na lava-jato. Se já caiu senador, deputado, presidente de Câmara e até a presidente do Brasil, imagine o pode acontecer com o resto. Parece que o país pisou em rastro de corno pois, pra completar o quadro, agora passa por uma séria epidemia de zika, chikungunya e dengue. Importante é não perdermos a esperança.
Estamos nos preparativos para as Olimpíadas do Rio de Janeiro, evento que irá atrair milhares de turistas. Todos estão preocupados com as duas epidemias: a da política e a da dengue. E o comitê ainda não sabe qual será o presidente que fará a abertura dos jogos: se será com a ‘afastada’ que ainda poderá voltar, ou será com o ‘em exercício’.
Cá pra nós, a situação está tenebrosa. Já se chegou a falar até em adiar os benditos jogos olímpicos. Mas o povo brasileiro saberá superar as dificuldades. E tudo terminará bem. Deus é brasileiro. E, quem sabe, vamos até ganhar algumas medalhas de ouro, com os baianos Alan do Carmo e Marcela que serão o Ouro da Natação.
Quanto ao futebol – oh! dúvida cruel. Nosso astral anda horroroso depois daquele 7 a 1. Agora, a gente apanha até de Peru. A queda na Copa América fez o Dunga voltar para a casinha da Branca de Neve que estava só com seis anões. E eu já baixei minha bola com a ‘selecinha’ brasileira. Agora só me dou ao trabalho de falar ou torcer pelo meu Bahia. Bora Bahêa!
Mas junho é um mês danado de bom. Tem um dia só para os Namorados, 12 – como se nos outros dias os namorados não ‘aprontassem todas’. Os amantes são apadrinhados por Santantoinho, que tem festa no dia 13. E pra quem ainda não arranjou um‘cacho’ bonito, é só pedir com fé que o santinho atende.
Quando ele faz corpo mole e não arranja o pretendente, é porque a criatura não está tendo merecimento. E aí, a criatura passa a judiar do santinho, mergulhando-o em copo com água ou colocando a imagem de cabeça pra baixo no oratório. Mas Santantoinho não é vingativo e, lá pras tantas, arruma um ‘nêgo’ para a malcriada. Se o fulano presta ou não, é problema da donzela. Ela pediu, ele atendeu. Mas ele não pode garantir a qualidade do produto principalmente por teve que escolher o ‘criaturo’ estando de cabeça pra baixo ou afogado.
Dia 23 as fogueiras são acesas para a chegada de São João, 24, que traz a potencia do milho verde cozido ou assado, da canjica, da pamonha, e de todo um cardápio saboroso. Trem bom era São João em Ibicaraí, quando a gente saia de casa em casa, tomava um licor, comia o tira-gosto de galinha, ou pamonha, milho, ou bolo de aipim, jogando conversa fora, renovando o carinho. Pena que estas coisas estão escasseando. Mas sobreviverão, enquanto nós existirmos.
Aí chega dia 26, quando cantam parabéns para mim, a gostosinha do pedaço. Em outras cidades, Cris Porto e Gilberto Gil também são acarinhados. Eu brinco mas, aqui pra nós, é duro fazer aniversário quando o povo ainda está curtindo a ressaca do São João. Chegam com aquela cara de nojo e ‘enguiam’ só em olhar pra bebida. Tem culpa eu, véio?
O chaveiro do céu, São Pedro, é o santo das viuvinhas alegres ou as ‘nem tanto’. No dia 29, as viúvas de Pedroca preparam muitas guloseimas gostosas e servem um licorzinho especial. As amiguinhas são solitárias mas nem por isso, choronas, e conversam pelos cotovelos. Algumas sentem saudades do ‘finado’; outras, sentem alívio. Por estas gostosas lembranças é que sempre vou para Ibicaraí para as festas juninas.
Agora chega de pular a fogueira e vem provar este bolo de aipim feito por Iracema Dias, minha amiga museóloga. Ela pegou a receita no livro recém-lançado pelo Espaço Cultural da Fundação Pierre Verger, ‘Cozinhando História – Receitas, Histórias e Mitos de Pratos Afro-Brasileiros’, com a colaboração de Josmara Fregoneze, Marlene Jesus e Nancy de Souza, com fotos de Pierre Verger.
O livro resgata a tradicional culinária baiana. Conta a origem, a história de cada doce e salgado. E traz receita do caruru, vatapá, xixim, feijoada, abará, molho de pimenta, maxixada, frigideira de palmito, moqueca e pirão de peixe, dentre outras, além dos deliciosos bolinho de estudante, cocada puxa e em pedaços, bolo de aipim e de fubá, cuscuz de tapioca, mugunzá, lelê, amoda. Tudo apresentado numa requintada produção editorial. É um volume lindo, que não pode faltar na nossa casa, para desafogar nas horas de necessidade. Mas agora, minha lindinha, vamos preparar o nosso bolo, para saborearmos pensando em pular a fogueira com um nêgo lindo.
‘Cozinhando História’ com Bolo de Aipim
Ingredientes:
-- 1kg de aipim ralado
-- 1coco ralado
-- 300g de açúcar
-- 100g de manteiga
-- 4 ovos inteiros
-- uma pitada de sal
-- 200ml de leite de coco.
Modo de preparar:
-- Colocar numa batedeira a manteiga, os ovos e o açúcar. Bater bem;
-- Adicionar o aipim ralado (atenção: o aipim deve ser espremido um pouco para retirar o excesso de líquido);
-- Adicionar o coco ralado, o sal e o leite de coco;
-- Misturar tudo com uma colher e depois colocar numa forma – que pode ser redonda – ou em um tabuleiro que deverá estar untado com manteiga e polvilhado com farinha de trigo;
-- Levar o forno médio por cerca de uma hora ou até que esteja cozido.
Saborear sonhando com um gato bonito ou uma bela donzela para dançar a quadrilha, ops, para pular a fogueira do São João.