Político experiente e comunicador respeitado, o apresentador Mário Kertész avalia que a condução coercitiva (quando a pessoa é levada forçadamente para depor) do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um teste e tanto para a democracia brasileira.
Para ele, o ato mostrou que as instituições do país estão “fortes e funcionando”. Em entrevista exclusiva à Tribuna, o apresentador diz que custará caro para o PT os envolvimentos de integrantes do partido em escândalos de corrupção. Kertész acredita que após a delação premiada do senador Delcídio do Amaral, o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) ganhará fôlego. “Acho que a convocação do PT para pessoas irem às ruas pode fortalecer a mobilização do dia 13 e pode haver até confrontos”, pontua. No entendimento dele, hoje o Brasil está sem governo. “A presidente não consegue tomar nenhuma medida que impacte na vida do brasileiro”, frisa.
Ao avaliar o cenário local, MK diz ainda que o prefeito ACM Neto chegará fortalecido na disputa à reeleição. “Acho que o prefeito tem uma condição excepcionalmente boa. Faltam adversários”. Ele diz também que caberá ao próprio prefeito escolher quem será seu vice, e arrisca um palpite: “O prefeito tem alguns preferidos. Eu tiraria Guilherme Bellintani, deixaria Bruno Reis, Luiz Carreira e Sílvio Pinheiro. São os três mais ligados a ele”.
Confira entrevista completa:
Tribuna da Bahia – Dois amigos seus, o marqueteiro João Santana e o ex-presidente Lula, estão diretamente envolvidos na Operação Lava Jato. O que há de consistente nesse caso?
Mário Kertész – Acho muito difícil dizer o que há de consistente. Na realidade, concordo com a presunção de inocência. O juiz Sérgio Moro tem dado exemplos importantes para o Brasil. Conversei com a juíza Eliana Calmon, por quem tenho muito respeito, e perguntei a ela: doutora, muita gente diz que o juiz Moro extrapola e foge da legalidade quando mantém prisões para forçar a delação premiada, segundo se fala. Ela disse que não. Todas as prisões têm sido julgadas, inclusive, por instâncias superiores que concordam inteiramente e afirmam que são absolutamente legais. Ela tem muito mais posição do que eu. Nesta mesma entrevista, perguntei: doutora, o juiz Moro pode decretar prisão do presidente Lula ou ele tem foro privilegiado? Ela respondeu que pode, porque ele não tem mais foro privilegiado. Ele é um cidadão como outro qualquer. Não me sinto nem um pouco habilitado para dizer se existem indícios que justifiquem as medidas que estão sendo tomadas. Agora, acho que a presunção de inocência é fundamental. Enquanto uma pessoa não for julgada e culpada, ela é inocente. E nenhum desses dois [João Santana e Lula] foram julgados e culpados. Foram julgados por uma parte da opinião pública, que, por conta do fato da impunidade no Brasil sempre existir para aqueles detentores do poder ou classe privilegiada, a população agora está querendo fazer linchamento. Então, a gente vê uma quantidade enorme de ódio, a necessidade de ver algum tipo de castigo.
Tribuna – A prisão do ex-presidente Lula era, até pouco tempo, inimaginável...
Mário Kertész – O que aconteceu nesta sexta [a condução coercitiva de Lula] testou a democracia brasileira. E até agora mostrou que as instituições estão fortes e funcionando. Nós estamos sentido as dores do parto, que ao mesmo tempo tem dores e tem alegrias. A gente sempre ficou esperando o pai da pátria, o salvador de todos os nossos pecados, era o presidente [Getúlio] Vargas. E agora, nós, brasileiros, entenderemos que cada um de nós é o salvador da pátria. E não adianta exigir ética e honestidade se nós não somos. O que adianta falar que um político não é honesto, se a gente compra um CD pirata, não paga imposto, da o jeitinho para ter vantagem. Então, através do voto cada um poderá salvar a própria pátria.
Tribuna – A condução coercitiva do ex-presidente pareceu uma medida de força exacerbada? Há respaldo para o discurso do PT, de que houve uso político do caso?
Mário Kertész – Não me parece. Do ponto de vista legal, não posso julgar porque não sou advogado e não conheço as leis o bastante para falar o que levou o juiz a tomar essa medida. Ele deve ter indícios de alguma coisa. Acho que é chocante. Gosto muito do Lula, até pouco tempo o entrevistei. Trabalhei como voluntário na campanha dele e me orgulho disso, não tenho nenhum arrependimento. Lula foi uma pessoa muito importante para o Brasil. Ajudou a quebrar alguns preconceitos nossos. Agora, é evidente, pelo que a gente vê, que a condução da política econômica do governo, sobretudo, da presidente Dilma, é desastrosa. Nós tivemos um período de inflação com desemprego e queda do PIB. Além disso, essa coisa do Petrolão. É de estarrecer.
O PT vai ter que pagar um preço por isso. Não adiantar dizer que é golpismo somente. Que há uma luta política, é evidente. O PT quando estava na oposição fazia o quê? Mas tudo que está sendo feito hoje é pela Justiça brasileira.
Tribuna – Muita gente está dizendo que a eleição de 2018 começou porque colocaram Lula na linha de frente. Ele sai mais fortalecido deste episódio, ou sua imagem foi atingida?
Mário Kertész – Tem duas possibilidades. Ele pode sair fortalecido e até enaltecido como herói que sofreu todo o tipo de tentativa de ser apagado. Ele mesmo disse que a vida dele sempre foi de adversidades. Agora, vai depender do andamento das coisas. Imagine se de repente prova-se que ele é inocente e não tem nada. Ele ficará muito forte. Agora, se de repente pega ele em algo sério, ele está liquidado. E tem outra consequência para o governo de Dilma. Isso tudo, desde a delação de Delcídio ao que aconteceu hoje, vai fortalecer o pedido pelo impeachment.
Tribuna – O impeachment voltou a ser algo palpável?
Mário Kertész – Acho que sim. Acho que a convocação do PT para pessoas irem às ruas pode fortalecer a mobilização do dia 13 e pode haver até confrontos. É da história.
Tribuna – A economia brasileira segue afundando em meio a essa crise. Se ela não tiver um desfecho rápido, o que pode acontecer com o Brasil, já que todas as classes estão sendo impactadas pela crise?
Mário Kertész – Hoje a gente sente que o Brasil está sem governo, porque a presidente não consegue tomar nenhuma medida que impacte na vida do brasileiro. Não adianta ela falar que o PAC investiu, ou luta contra a mosquita, nada está impactando. Já o Legislativo está paralisado por conta de Eduardo Cunha. Hoje o único poder que está funcionando é o Judiciário. Então, a economia está à deriva. Joaquim Levy saiu ao fazer o ajuste fiscal, sendo bombardeado pelo próprio governo. O novo ministro ninguém ouve falar nele. Não se sabe onde anda e nem o que faz. Não mudou nada até agora. Não estou vendo nenhum horizonte. As acusações foram pesadas tanto contra Lula quanto para Dilma na delação de Delcídio. Fiquei estarrecido, mas não quer dizer que seja verdade e nem que será homologada. Então, a gente vai ter algumas alternativas: ou se apressa o impeachment dela ou o Tribunal Superior Eleitoral derruba a presidente e vice e convoca novas eleições. Ou então depois desse tombo o governo vai reagir. Agora, essa crise vai crescer tanto que chegará num ponto que não vai ter mais para onde ir e irá se esgotar. Vai levar um tempo e fará o povo brasileiro sofrer.
Tribuna – Falando agora sobre o cenário local, o prefeito ACM Neto chegará fortalecido na disputa à reeleição?
Mário Kertész – Acho que o prefeito ACM Neto tem uma condição excepcionalmente boa na reeleição. Faltam adversários. O adversário dele hoje só pode ser ele mesmo se falar alguma besteira. Não acredito que vai fazer. Ele tem feito uma administração boa e, é claro, na medida em que o partido e os aliados cresçam, a oposição cresce também. Ele está em posição confortável. Agora, parece que ele vai perder o PDT mesmo.
Tribuna – Nessa briga pela disputa à vice, quem vai levar a melhor?
Mário Kertész – Essa pergunta só ele pode responder (risos). Neto é muito matreiro. Ele vai ficar cozinhando todo mundo até a hora em que vai chegar e dizer quem será o seu escolhido. Vamos supor: o PMDB vai querer a vice, agora se ele não der a vice para Geddel, Geddel vai pra onde? Vai conseguir o quê indo pra onde? Então, a decisão vai ser só de Neto. Vamos ver quem ele vai querer. Tem alguns preferidos. Eu tiraria Guilherme Bellintani, deixaria Bruno Reis, Luiz Carreira e Sílvio Pinheiro. São os três mais ligados a ele.
Tribuna – Quem vai ser candidato do PT? Ou você acha que o partido vai marchar com algum aliado?
Mário Kertész – Pelo que o governador falava, era marchar com aliado. O PT não tem nome. A gente está fazendo brincadeirinha com Juca Ferreira, mas o PT não tem nome.
Tribuna – O partido vai ser impactado nessa eleição, não é?
Mário Kertész - Vai. Agora, o governador Rui Costa está muito bem. O pessoal fica querendo colar o PT a ele, mas não consegue. A população vê-lo como um bom governador. Um sujeito que surpreendeu a todo mundo.
Tribuna – Isso é fruto do trabalho de André Curvello, que tem conseguido construir a imagem de Rui como um gestor e não como um político filiado ao PT?
Mário Kertész – Por mais que André tenha trabalhado bem, e tem feito, concordo. Se ele não fosse real, não adiantaria. Você consegue enganar todo mundo por algum tempo, mas não o tempo todo. O Rui Costa é um bom gestor, muito melhor do que Jaques Wagner.
Tribuna – Rui Costa vai sair ileso desse desgaste do governo Dilma e do PT?
Mário Kertész – Ele tem tocado a vida dele. O governador tem tocado administrativamente. Em meio a todas essas dificuldades, ele tem feito o metrô, tem ido para o interior, vai às escolas, luta pela segurança pública, que é uma luta dificílima, e vai tocando. É isso que vai fazer.
Tribuna – Será que ele chega fortalecido na reeleição, em 2018, sobretudo, diante desse cenário de crise, de falta de dinheiro?
Mário Kertész – Acho que se continuar assim chegará forte, porque é um estilo novo. Não é aquele PT ranzinza, como o Rui Falcão.
Tribuna – Acredita que possa haver um rompimento entre Dilma e o PT?
Mário Kertész – Não. Ela tem uma absoluta solidariedade a Lula. Ela só poderia romper com o PT se rompesse com todos os partidos, o que é inviável. Teria que dizer: “Meu partido é o Brasil, erramos, mas que vamos liderar esse processo”. Não vejo isso não. É absolutamente utópico. Não vai acontecer. Ela vai ficar nesse rame-rame até o fim do governo, que pode ser com impeachment, pelo Tribunal Eleitoral ou até 2018. Só rompe se o PT engrossar com ela, mas o PT está fraco e não vai brigar com a presidente da República.
Tribuna – Ela vai conseguir sair dessas crises, sobretudo, a de confiança junto à população?
Mário Kertész – Não sairá fácil não. Agora, ela vai sofrer mais com essa tentativa de impeachment. Estamos vivendo período semelhante a aquele que Pedro Collor derrubou o irmão.
Tribuna – E o que sustenta Eduardo Cunha na Câmara Federal?
Mário Kertész – Fico impressionado. Tudo contra e mostrando que ele está envolvido supostamente, mas ele continua impassível. Não sei o que segura ele. Deve ser o baixo-clero que o elegeu. Me diga uma coisa, claro que não existe nenhuma denúncia de corrupção contra Marcelo Nilo e não quero levantar nenhuma hipótese, porque não sei e nem nunca ouvi, mas o que é que faz Marcelo Nilo ser presidente da Assembleia por nove anos? Será que dos 63 deputados só um sabe presidir? Pelo amor de Deus!
Tribuna – E ninguém, nem de governo e nem de oposição, questiona a força de Marcelo Nilo...
Mário Kertész – Nem o partido do governo, o PT, não conseguiu uma vez eleger um deputado como presidente da Assembleia Legislativa. Uma lástima.
Colaborou: Rodrigo Daniel Silva.