Não faz nem um mês que ele deu as caras pela primeira vez. Até 16 de agosto, proliferavam símbolos diversos nos protestos pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff – em camisetas, bandeiras, memes. Nada muito chamativo. Mas, desde que surgiu em frente ao Congresso Nacional, com 15 metros de altura, roupa de presidiário e bola de chumbo no pé, só se falou nele.
Criado pelo ainda modesto movimento social Movimento Brasil, o caricato boneco inflável que mostra Luiz Inácio Lula da Silva como presidiário – apelidado de "Pixuleco", termo usado por João Vaccari, ex-tesoureiro do PT, para se referir a propina – subitamente ganhou destaque entre grupos protagonistas de protestos, lojas virtuais e camelôs que comparecem aos atos de olho em um faturamento extra.
Desenhado por um publicitário integrante do grupo de Maceió, o boneco de 100 kg custou R$ 12 mil e ganhou tamanha repercussão que o próprio ex-presidente o citou para rebater a brincadeira, postando uma foto sua quando foi preso, em 1980, durante a Ditadura Militar.
Em 28 de agosto, a primeira edição do SPTV, da TV Globo, foi exibida com suas persianas fechadas por causa do boneco estendido sobre a Ponte Otávio Frias Filho, que serve de cenário para o telejornal. No mesmo dia, o Pixuleco foi alvo de "atentado" por parte de uma militante de esquerda quando era erguido ao lado da Prefeitura paulistana.
"Ainda não estamos vendendo os nossos Pixulecos por falta de logística mesmo. Mas todo mundo que pediu autorização para fazer réplicas foi autorizado", conta ao iG o microempresário Alessandro Gusmão, de 44 anos, co-fundador do Movimento Brasil, pouco expressivo em número de integrantes, especialmente se comparado aos principais protagonistas dos atos contra Dilma Rousseff no País – Movimento Brasil Livre, Vem Pra Rua e Revoltados Online, com centenas de milhares de seguidores nas redes sociais.
O grupo alagoano também é responsável pela criação do boneco inflável que faz piada com Dilma, ou Pixuleca, também de 15 metros de altura, cujo nariz proeminente o levou a ser apelidado "Dilmintira" e "Pinóquia" após sua primeira aparição, em ato realizado no Dia da Independência, na segunda-feira (07/9), em Brasília. Aos poucos, adesivos com a caricatura da presidente também começam a surgir na rede.
"Não temos por que não autorizar as réplicas. O Pixuleco se tornou um símbolo da luta contra este governo. Hoje, ele é um fio condutor, uma bandeira, agrega a simbologia de tudo o que o Brasil quer. Então não é um problema que ele seja replicado, por mais que tenhamos o registro do desenho. A única coisa que não permitimos é a construção de um Pixuleco com o tamanho do original, porque aí ele cairia na vala comum, acabaria banalizado."
Basta uma rápida pesquisa para encontrar a figura criada pelo grupo à venda em diversos sites na web. Mesmo retirando do ar, páginas de anúncios de vendas não conseguem controlar todos os clientes que vendem as réplicas, já que eles usam formas diferentes de chamadas para não chamar a atenção. Na noite de sexta-feira (11/9), ao menos três vendedores anunciavam produtos relacionados à figura.
Mil adesivos em dois dias
O paranaense Diego Sampaio, de 25 anos, afirma ter sido o precursor na vendagem de réplicas. Após o ato de agosto, ele desenhou o Pixuleco em uma folha de papel, fez uma montagem como se o tivesse colado em um carro e anunciou no site "Mercado Livre" como brincadeira.
"Duas horas depois, eu já tinha vendido 150 adesivos. Tive de fazer um cálculo maluco para ver como ia produzir tantos, já que não planejava fazê-los", diverte-se o jovem, que trabalha com mais duas pessoas na divulgação e embalagem dos produtos, cujos preços vão de R$ 7,90 (adesivo) a R$ 39,90 (camiseta).
Ele também pretende vender chaveiros, já anunciados a R$ 9, mas ainda não encontrou ninguém com a "tecnologia certa" para produzi-los. "Vendi mais de mil adesivos em dois dias em um site de anúncio. Todo mundo quer o Pixuleco."
Anúncio de venda postado na sexta-feira: variações de letras e nomes para ser mantido no ar. Foto: Reprodução
Com mais de 3 milhões de curtidas no Facebook na página de seu canal de vídeos "TV Revolta", o comunicador João Lima também tem vendido adesivos que produz de forma independente por meio de gráficas e com a ajuda dos amigos. O produto é vendido por R$ 9,90 mais o frete de R$ 4. Assim como o vendedor paranaense, ele também comercializa os adesivos por atacado – em folhas com cem.
"Como vocês sabem, esses adesivos estão viralizando na internet, todo mundo quer e ninguém acha", diz Lima em vídeo de divulgação dos produtos. "Não tem mais no Mercado Livre, então as pessoas me pediram para fazer e eu fiz. Tem por vários preços."
Alavanca para visibilidade
A popularidade do Pixuleco também alavancou a popularidade de grupos anti-Dilma que não tiveram nada a ver com sua criação. Líder do Revoltados Online, Marcello Reis tem feito divulgação quase diária da figura do ex-presidente fantasiado de presidiário, exaltando a turnê do boneco pelo Brasil e uma sonhada viagem da caricatura para EUA e Europa – descartada pelos proprietários do Pixuleco devido a questões de logística.
Nesta semana, foi Reis quem levou algumas das réplicas do boneco inflável a parlamentares da oposição no Congresso – como Jair Bolsonaro (PR-RJ) e Ronaldo Caiado (DEM-GO) – que se comprometeram a levar à frente o processo de impeachment.
Líder do Revoltados entrega bonecos a políticos: visibilidade do grupo cresceu com Pixuleco. Foto: Alan Sampaio / iG Brasília
"Não sei nem quem me deu. Eu estava no caminhão do Revoltados em Brasília e apareceram 50 desses bonecos por lá. Parece teoria da conspiração, porque depois de entregarmos o Pixuleco lançaram o movimento pela saída de Dilma e agora vem esse pedido de intimação para Lula depor", conta Reis. "Mas não pretendo comercializar isso, não. Só de ver a cara desse cara já me revolta. Vamos divulgar, porque isso pode ajudar a derrubá-lo."
Mais conhecido dos grupos pelo impeachment, o Vem Pra Rua também tem ajudado a divulgar a caricatura, mas, diferente de Reis, não descarta investir em suas próprias réplicas para arrecadar dinheiro para se financiar. "Não estamos vendendo, mas é uma ideia para talvez botar em prática no futuro, talvez para distribuir, talvez para vender. Pode ser, sim", afirmao líder do Revoltados.
Formado principalmente por jovens com idades entre 20 e 30 anos, o Movimento Brasil Livre não resistiu à popularidade da figura e logo a abraçou para ajudar o grupo em suas arrecadações, apesar de não ter pedido autorização a seus criadores. Assim como ocorreu em outros casos, as vendas, de bonecos infláveis a R$ 20, também têm sido extremamente rápidas.
"Em três dias conseguimos superar a cota diária que temos, de 100 unidades, no site onde estamos hospedados", garante Renan Santos, co-fundador do grupo. "Vamos ter de começar a pagar o site de hospedagem para conseguirmos ampliar esse limite. O negócio realmente estourou."