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Escuridão toma conta dos túneis em Salvador e motoristas arriscam a vida

Nem de longe a deficiência da iluminação pública é um problema só de Salvador

Foto: Francisco Galvão
Lâmpadas queimadas no túnel Américo Simas, em Salvador
Lâmpadas queimadas no túnel Américo Simas, em Salvador

Ainda são muitas as queixas contra a má iluminação em diversos locais de Salvador, principalmente nas transversais, seja nos bairros ou no Centro. Outra questão que vem incomodando os motoristas que usam o maior túnel da cidade, o Américo Simas, é a escuridão reinante no local, onde basta uma olhada rápida para constatar que cerca de 60% das lâmpadas estão apagadas.

Morador há pelo menos 20 anos do bairro de Castelo Branco, Carlos Rodrigues Souza, queixa-se de que “nas transversais, e mesmo em trechos da via principal e algumas praças, a iluminação ainda é com aquelas antigas lâmpadas amarelas, salvo engano à base de iodo, e a luz é totalmente insuficiente. Na verdade, chego a pensar que tudo piora quando elas são ligadas”.

Ele alerta para o fato de o problema ser ainda mais grave nas transversais, e acentua o fato de a escuridão, ou semi-escuridão, favorecer bastante ao crime. No entanto, ele ressalta que nas praças recentemente recuperadas pela prefeitura “a iluminação é muito boa. Gostaríamos que fizessem o mesmo em todo o bairro.”

Às cegas

Já o taxista Gil Moreira, residente em Pernambués, ao mesmo tempo em que destaca ter sido atendido em solicitação feita pelo telefone 156, o que resultou em melhoria da iluminação na sua rua, uma das principais do bairro, faz a mesma observação do morador de Castelo Branco: “As transversais estão muito escuras. Exatamente como a malandragem gosta, e a violência só faz aumentar nesses locais.” 

Um problema também sério e que traz grandes riscos para os motoristas é o do túnel Américo Simas, o mais extenso da cidade. Ali, é patente a precariedade da iluminação. Pelo menos 60% das lâmpadas estão apagadas. O motorista Ednei Lima, que passa todos os dias pelo local, confirma o problema. Segundo ele, ironicamente quando o dia está mais claro é que a situação se acentua: “A gente vem da iluminação do dia e ao entrar no túnel, tudo fica escuro em segundos, fazendo com que muitos motoristas dirijam praticamente às cegas.”

Nos outros túneis, como o Teodoro Sampaio (na Avenida Centenário), a situação é um pouco melhor. Porém, ali, a despeito de a maioria das lâmpadas estar acesa, elas ainda são antigas e iluminam pouco. O ideal, segundo motoristas que usam sempre o local, seria a colocação de lâmpadas led, mais fortes, e que praticamente anulassem o choque de luz de que entrar no túnel.

No túnel da Avenida Luiz  Eduardo Magalhães a iluminação também é muito fraca, mas a vantagem é que se trata de um túnel bastante curto, o que faz com que o tempo de escuridão seja mínimo. Ou seja, assim que o motorista entra, já está sendo ajudado pela luz do dia no fim do túnel.

Nem de longe, porém, a deficiência da iluminação pública é um problema só de Salvador. Há queixas de populações de cidades, por exemplo, como Joinville (Santa Catarina), passando por Juazeiro (norte da Bahia) e chegando à poderosa São Paulo.

Aliás, em São Paulo, inúmeras reportagens da TV mostram, quase diariamente, bairros inteiros mergulhados na semi-escuridão, e alguns trechos totalmente sem luz. Como de praxe, a situação favorece bastante à bandidagem, que comete assaltos ou mesmo crimes de morte sem medo de ser identificada.

Cronograma

Ouvida sobre o assunto, a titular da Semop (Secretaria de Ordem Pública), Rosemma Maluf, garantiu que o problema do túnel Américo Simas, “que não se trata apenas de troca de lâmpadas, mas de modernização geral da iluminação”, estará resolvido neste segundo semestre, num prazo de 120 dias.

Rosemma informou ainda que a prefeitura trabalha com limitação de verbas no setor, e por essa razão segue um plano estratégico de prioridades, inicialmente abrangendo as principais avenidas da capital, entre elas a Paralela (que é “o maior trecho urbano iluminado com led do País”), a ACM e a Suburbana.

De acordo com a titular da Semop, Salvador tem o terceiro maior parque de iluminação pública o País, com cerca de 170 mil pontos de luz. Rosemma informa também que, além da fiscalização normal, à noite, “que não consegue cobrir toda a extensão da cidade”, trabalha muito com a cooperação da população, através do telefone 156.

Outro destaque feito por Rosemma refere-se à prioridade dada também aos locais onde há problemas mais sérios de segurança. Ela afirma que, “em conjunto com a PM, identificamos esses pontos e promovemos mudança na iluminação. Mais luz não resolve o problema da segurança pública, mas certamente gera uma sensação de segurança maior”.

A iluminação pública no país

De acordo Leandro Carvalho, mestre em História, “antes e após a chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500, os indígenas (povoadores) utilizavam a luz do fogo (fogueiras) e a claridade da Lua como forma de iluminar suas noites. Não há registro de outra forma de iluminação usada na época.”

Os portugueses trouxeram consigo as formas de iluminação utilizadas na Europa, como a lamparina à base de óleos vegetais ou animal. O óleo de oliva era um dos mais utilizados, mas era fabricado somente na Europa, por isso tinha altos custos, somente uma elite nobre o utilizava. 

O historiador mostra que com o alto custo do óleo de oliva, rapidamente ele foi substituído por outros óleos fabricados no Brasil, como o óleo de coco e de mamona (principalmente). Posteriormente, foram produzidos os óleos derivados de gordura animal (principalmente peixes) e fabricadas velas feitas de gorduras e de cera de abelha (produtos que não eram utilizados nas residências da população pobre), em razão do alto preço. 

Pioneirismo

Leandro descreve que “até o século XVIII, não existia iluminação pública – nos momentos de festas e comemorações, a população iluminava as fachadas das casas com as velas feitas de sebo e gordura. No século XIX, algumas cidades brasileiras passaram a ser iluminadas com lâmpadas de óleo de baleia. Na cidade do Rio de Janeiro, a iluminação pública à base de óleos vegetais e animais foi implantada no ano de 1794.” 

A cidade de Campos, no Rio de Janeiro, foi a primeira a ter luz elétrica nas ruas, em virtude da presença de uma usina termoelétrica, desde 1883. Rio Claro, em São Paulo, foi a segunda também em razão da presença de uma termoelétrica. A cidade do Rio de Janeiro somente implantou o serviço de luz elétrica nas ruas no ano de 1904; e São Paulo, no ano posterior, em 1905. 

Ele assinala que “atualmente, a falta de iluminação pública nas ruas contribui bastante para a prática de crimes. A escuridão e a falta de iluminação prejudicam os cidadãos, que, geralmente, em razão do trabalho ou estudo, acabam transitando à noite nas ruas. A falta de iluminação pública nas ruas das cidades contribui significativamente para a falta de segurança da população das cidades.”