Helô Sampaio

Aprenda a fazer um charutinho árabe antes de parar na cama de Anchieta

Helô Sampaio

Ano novo, cidade nova, gente nova, vida nova. Este, para mim, está sendo um ano de emoções diferentes, como diria Roberto Carlos no seu eterno show de Natal. Na verdade um ano aquático. Explico: vim a São Paulo com a minha irmã Ana, para passarmos o réveillon com o mano Paulo, a cunhada Odete, e um casal amigo, Rafael e Thaís. Ficamos no apartamento do mano, em São Vicente, em frente ao mar, na praia do Gonzaguinha, que eu não conhecia. E logo me apaixonei.

A cidade de S. Vicente é acolhedora, com uma praia imensa e prédios bonitos que a unem à cidade de Santos, numa sequencia natural, sem separação. Tem um povo afetuoso, atencioso, gordo e carinhoso. E muitos idosos. (Eu não gostei desse seu sorrisinho safado, meu lindinho, quando falei em ‘gordo’. Eu não sou gorda, eu sou gostosa, viu, neguinho?). Na praia, eu me senti ‘em casa’, por dois motivos muito sérios: o apartamento do meu irmão é bem em frente ao mar, é só atravessar a rua e o mar é sem ondas, que nem o nosso Porto da Barra. 'Qué queu' quero mais?

Eu acordo, vou para a praia; chego da rua, vou para a praia; o sol se põe, eu vou para a praia. Estou para virar peixe, ou melhor, estou uma sereia gostosa e bronzeada. Se crua eu já sou gostosésima, imagine queimadinha. Estou fechando o comércio, pode crer, amadinho. Nas praias, só dá eu e minha irmã (se eu não falar que ela está bela, linda e loura, ela nunca mais traz pra mim os docinhos de leite lá do interior). E meu irmão, com toda paciência, leva a gente para conhecer todos os lugares.

Fomos conhecer Praia Grande, Mongaguá e Itanhaém – com todos os seus atrativos. A viagem foi feita pela orla, passando por praias muito bonitas, cheias de áreas de lazer e coqueiros, bicicletas coletivas para seis ou oito pessoas, trenzinhos, enfim tudo para agradar ao turista ou morador de fim de semana. A-mei a Itanhaém, com a linda Gruta de Lurdes, a Cama de Anchieta e sua Igreja Nossa Senhora do Sion. 

A caminho da cama de Anchieta
A caminho da cama de Anchieta

Não é que eu estou achando tudo bonito, não, mas Itanhaém é uma cidade ainda com muitas casas confortáveis e poucos edifícios. Além de ter uma comida deliciosa, que saboreamos no restaurante Água Viva, na beira da praia, onde conheci o peixe ‘porquinho’. Quando vi no cardápio o risoto de frutos do mar com camarão, cação, porquinho e mariscos, chamei a garçonete: ‘Querida, me explique: o que é isto? Em minha terra, porco não combina com peixe’. Aí ela disse que o ‘porquinho’ é ‘um peixe de carne substanciosa, forte’. Então traz logo, que eu estou troncha de fome. E o tal do porquinho é gostoso mesmo, valeu. Volto aí, viu, menina. Me aguarde!

Veja a praia onde Helô se esparramou

As noites em São Vicente são animadas, com muita gente nas ruas, os bares movimentados, praias cheias. Conhecemos alguns amigos de Paulo, como o Lucio França, do Grupo Tortura Nunca Mais, o Reinaldo Braz e o Paulo Roberto, advogados, que nos levaram a conhecer os melhores ‘points’ da cidade. Rodamos muito, mas gostei da galera do Quiosque da Cris, que é frequentado pelas meninas, que lá agem de modo liberal. Cada uma ‘na sua’, e todo mundo bem. Gostei! Me senti ‘em casa’.

Helô e Ana: enchendo a cara de água de coco
Helô (enchendo a cara de água de coco) e Ana

Estamos chegando agora a ‘Sumpaulo’, onde já passamos no restaurante Almanara para almoçar. Toda vez que venho a Sampa, vou lá e mergulho na comida árabe. Meu irmão me fez logo este gosto: na chegada, antes de ‘desapear’ da viagem, paramos lá. A-do-ro o charutinho de folha de uva que eles servem, pequenininhos e deliciosos. O quibe, a esfiha, também não ficam atrás. Mas o charutinho de uva é meu é meu objeto de desejo.

Descobrimos um garçom baiano, o Moura, que trabalha lá há 32 anos, e trançamos no papo. Ele é natural de Andorinha, viveu também em Senhor do Bomfim. Quando descobriu que a gente era conterrâneo, trançou no papo que quase não atendeu a mais ninguém enquanto lá estivemos. Foi ótimo.

Hoje é dia de Reis e eu ainda quero me divertir indo a um restaurante japonês para comer como uma rainha. Depois iremos ao Mercado Municipal provar o tal sanduiche de mortadela, ou melhor, ‘mortandela’ como diz a Márcia/ Tetê da novela. Após este tour gastronômico na capital, volto para o mar de São Vicente. A cidade deve estar sentindo falta desta bela sereia. Se o prefeito me conhecer, pedirá para eu posar para um monumento às belas visitantes. Já avisei ao meu irmão que, com este apartamento bem em frente ao mar, ele vai contar com a visita constante da irmãzinha amada. 

Mas para vocês não ficarem aí babando de inveja, vou mandar umas fotos e passar a receita do charutinho árabe. Esta receita é da minha amada professora e amiga, Lourença Fialho, que consegui com Carmen, minha irmã. Lourença foi minha professora em Ilhéus onde fiz o curso ginasial e pedagógico. Foi uma professora muito querida. E estou contente por poder passar esta receita da sua família. Mas aqui, no restaurante Almanara (fone 011-3352 2000) o charutinho é cozido no calda da rabada, me contou o Moura. Vamos deixar de conversa e fazer o charutinho.

Charutinho árabe

Ingredientes
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 40 folhas de uva, novas e tenras (caso não consiga, usar folhas de couve verde – pequenas e tenras, cortadas ao meio. Vamos fazer com o couve, que é mais fácil para nós)
-- 300 g de carne moída e sem nervo (miolo de patinho)
-- 1 ½ xícara de arroz cru, lavado e escorrido
-- 2 colheres (sopa) cheias de manteiga
-- Uma colher (chá) de pimenta do reino, outra de pimenta síria e outra de canela em pó
-- 3 dentes de alho amassados com uma colher (chá) de sal e uma colher (sopa) de folhas de hortelã seco moído, ou verde picado, limão

Modo de preparar
-- Lavar as folhas de couve em água corrente e escorrer bem. Retirar os talos, reservando-os. Partir as folhas ao longo e reservar. Escaldar os talos e as folhas em água fervente até amolecerem (ficarem flexíveis). Reservar.

-- Numa vasilha, colocar a carne moída, lavando-a com água filtrada, e espremendo bem. Acrescentar o arroz cru, os temperos e uma colher de manteiga. Misturar bem com as mãos.

-- Numa táboa, abri uma folha já cortada ao meio, sem o talo. Colocar uma colher (sobremesa) rasa, do recheio, no centro da folha. Alongar o recheio com os dedos, no formato de uma charuto, sem ultrapassar os limites laterais da folha. Dobrar a borda inferior da folha sobre o charuto de recheio, apertando um pouco para arrumá-lo. Dobrar então as duas pontas laterais, fechando o charuto e não permitindo que o recheio escape pelos lados. Enrolar o charutinho sobre si mesmo, apertando um pouco com os dedos para dar firmeza. Enrolar até o fim. Reservar.

-- Numa frigideira pequena, derreter a colher (sopa) de manteiga e acrescentar o alho, amassado com o sal e hortelã. Mexer até dourar o alho. Reservar.

-- Arrumar os talos aferventados no fundo da panela média e funda, formando uma rede. Colocar, um por um, os charutinhos sobre os talos, de forma a acomodá-los todos, uns sobre os outros. Na segunda camada, cruzar os charutinhos em relação aos primeiros. Acrescentar água filtrada com uma colher (chá) de sal ate começar a cobrir os charutos.

-- Cobrir então todos os charutos com uma couve grande ou com um prato emborcado. Isto evita que os charutos subam e se desarrumem ao ferver. Deixar ferver e abaixar o fogo, cozinhando em panela com tampa.

-- Quando estiverem cozidos (mais ou menos uns 30 minutos) destampar, retirar o prato ou folha e jogar suco de limão, deixando ferver por mais 5 minutos. Retirar o prato de cima dos charutos e acrescentar o molho de alho e hortelã ainda quente. Deixar levantar a fervura,apagar o fogo e deixar tampado até servir. Arrumar os charutinhos em um pirex e acrescentar um pouco do caldo, servindo quente.

Se preparar para os aplausos e elogios. Eu já dei vários abraços no garçom Moura, garantindo minha presença depois da nova curtição de São Vicente. Bom apetite!