Natal é realmente uma festa da família, do aconchego, das lembranças. Festa de matar as saudades dos que já foram. É uma data especial para a minha família: a minha mãe resolveu pegar o trenó do Papai Noel para visitar o Papai do Céu no dia 25 de dezembro, há dezenove anos. E todos os anos a gente reúne sempre a família, como ela gostava de fazer, e fica na esperança de que o bom velhinho a traga de volta.
A festa acontece em Ibicaraí, na casa que ela morou e hoje mora minha irmã Carmen, com Lali, a mãe dos meus sobrinhos, os mais lindos da cidade: Caucha e Vinicius. Lógico que a casa vira um circo, com tanta gente, pois Ana, a irmã caçula, vem de Itabuna com Pindoba, Rosângela e Ana Rosa, a netinha; Ana Claudia e Flavinha vem de Vitória da Conquista com os filhotes Nietinha, Betinho e a minha amadíssima Maria Carolina, a fofura mais doce do sudoeste, além de Lucas, que colará grau como bacharel em Direito em fevereiro – e já está aprovado pelo exame da OAB. Temos outro motivo para as comemorações familiares. E tem Lula com os filhos e netos que, como moram em Ibicaraí, não dividem a ‘lona do circo’.
Mas o ‘circo’ é tão divertido que meu amigo Vital, que sempre que pode vem passar o Natal comigo, no ano que eu arranjei a casa de um amigo para ele dormir, ele deu um pinote. ‘O quê? Nem invente de botar alguém para dormir no meu colchonete na sala. Não saio desse fuzuê por nada deste mundo’. Pode, froide? Em vez de ir para um quarto cinco estrelas, sozinho, ele prefere dormir no chão, disputando espaço para o colchonete e armando brincadeiras com a garotada. Tem gosto pra tudo.
Não vou nem falar das comilanças e das ‘cervejanças’. Eu não ‘guento’ ver um peru para não correr pra cima. Carmen é uma mão mágica para o bacalhau e o ‘homus tahine’; mas Lali é insuperável nos bolos e na carne do sol, que ela prepara de uma maneira especial. Nhammm!
No domingo que antecede a festa, Carmen faz a entrega dos presentes para as crianças carentes da cidade, seguindo o exemplo de minha mãe que fazia isto até o ano que ‘viajou’. Carmen cotiza com os irmãos, filhas, sobrinhos, compra bonecas, bolas, telefoninhos, ursinhos – e outras coisinhas que agradam as crianças de várias idades. Ela se preocupa em comprar produtos com qualidade. No domingo, ela faz a distribuição com as crianças que ela convida nos bairros mais carentes da cidade.
Para mim, este é um dos momentos mais emocionantes do ano. Amo, adoro ver aquelas carinhas lindas na expectativa de receber o presente, o sorriso puro, a alegria de sair com a bola ou boneca, um squize e um saco com pães – a minha irmã já está fazendo o ‘pacote’ completo (alguns ‘traçam’ o pão ali mesmo). Ver aquelas carinhas de felicidade com a Barbie ou a bola na mão – não tem preço.
Para aumentar a emoção, revejo sempre os amigos de infância e, principalmente, meus ex-aluninhos lindos que me tratam com muito carinho. Fui secretária do Centro Educacional, o ginásio da época, quando tinha vinte aninhos. A-ma-va aquela meninada traquina, pintona, que tinha em mim uma ‘protetora’ dos mal feitos. Como não ser tolerante, como não relevar as traquinagens da meninada de 11 a 17 anos, na flor da criatividade. Eu fingia que dava bronca para não levar à direção e eles fingiam que não iam mais fazer ‘pintanças’. Uma maravilha! Hoje quando eu os encontro, me abraçam com ternura, e me dizem baixinho ‘minha pró amada, como tenho saudade de você’. Tem coisa melhor para os ouvidos?
Amo a minha terrinha, meu povo, cada casa da minha infância. Logo que chego, Lula, meu irmão, dá um giro por toda a cidade, mostrando as coisas novas, revendo os velhos amigos. Gosto de olhar para o meu povo, ver a sua cara nas ruas, na feira, nos bairros. Adoro este ‘tour’ anual, esta viagem pelas lembranças, que deixa o meu coração satisfeito. E disse isso na entrevista que dei para a Radio Cacau FM. Claro que a minha Ibicaraí tem radio. Aliás, tem duas rádios. E eu falo para a minha cidade pela Cacau FM toda terça-feira, às 13 horas. Outra surpresa: por onde eu passava as pessoas diziam: ‘Ah! É a irmã de Lula que fala na radio’. Finalmente tô ficando famosa, pelo menos em minha terrinha. Não é pouca coisa, não.
Vamos agora nos preparar para a festa da chegada do Ano Novo. Já estou indo para São Paulo, com minha irmã Ana, para raiarmos o novo ano com meu irmão Paulo, a cunhada Odete, Mariah e Dara minhas sobrinhas lindas. Com certeza, será um grande réveillon. Já estou levando a carne do sol para prepararmos conforme a receita de Lali, que me seduziu no Natal. Vamos para a cozinha preparar esta delicia.
Carne do sol de Lali
Ingredientes
-- 1 ½ de carne do sol de chã de fora
-- ½ l de óleo
-- Água e cebola
Modo de preparar:
-- Numa panela de fundo grosso (Lali usa a panela de pressão destampada) colocar o óleo, a carne do sol levemente dessalgada (pois não leva mais sal) e água suficiente para cobrir a carne
-- Levar ao fogo até que a água seque e fique apenas o óleo. Verificar se a carne já está macia. Caso não esteja, acrescentar um pouco mais de água
-- Estando a carne amolecida, acrescentar a cebola cortada. Deixar a carne dourar, virando-a sempre na panela. Ela fica macia, deliciosa, como deve ser uma comida para esperar chegar o réveillon
Feliz Ano Novo, com Saúde, Paz, Amor e alegria de viver. Tudo de bom! Tintim!