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Trajetória de Clarindo Silva no bar Cantina da Lua é contada em livro

Livro do jornalista Vander Prata será lançado nesta terça (20/11), Dia Nacional da Consciência Negra. A obra traz a história de Clarindo Silva, uma das figuras mais populares da Bahia

Jornalista Vander Prata e Clarindo Silva

Com o objetivo de celebrar o Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado nesta terça-feira, 20 de novembro, acontece a partir das 16h30, o lançamento dos três novos livros da coleção "Gente da Bahia": as biografias de Juliano Moreira, escrita por Alexandre Lyrio; de Milton Santos, por Waldomiro Santos Júnior; e de Clarindo Silva, por Vander Prata, na Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, no CAB.

Segundo o jornalista e escritor Vander Prata, Clarindo Silva é hoje uma das figuras mais populares da Bahia. “Tornou sua Cantina da Lua um bar tão pulsante quanto o lugar onde está situado: Terreiro de Jesus, na entrada das velhas e históricas ladeiras do Pelô, Pelourinho, Centro Histórico de Salvador”, conta, acrescentando que, durante muitos anos, a Cantina da Lua foi o ponto de referência da efervescência cultural da Cidade da Bahia e de luta pela preservação e consolidação do Pelourinho como patrimônio arquitetônico da humanidade.

“Sob o comando de Clarindo Silva tornou-se um espaço democrático, que reunia poetas, músicos, jornalistas, radialistas, artistas, políticos, nativos e turistas, reinando absoluto como ponto de encontro da cena cultural baiana, principalmente durante as décadas de 1970 e 1980. Pelas mesas da Cantina da Lua passaram algumas das mais expressivas representações artísticas ou políticas dos jovens baianos já antenados com a necessidade de afirmação e postura da afrodescendência”, conta.

 “A Cantina da Lua tornou-se morada, porto, festa, bênção, castelo, farol de São Salvador. Um espaço de baianidade único, dia e noite, noite e dia, pois Clarindo de tudo cuida e conserva, mesmo a despeito das ressacas, das marés, dos tempos de glória e decadência do Pelourinho”, afirma Vander, ressaltando que, o livro relata desde a infância de Clarindo Silva, que, ainda menino, nos anos 1950, começou a trabalhar vendendo doces pelas ruas da capital baiana.

“Uma cidade encantada, em cujas esquinas e ladeiras podia-se ouvir o brado do poeta Cuíca de Santo Amaro ou o empolgante discurso do rábula Major Cosme de Farias. Bahia das orações de Mãe Menininha do Gantois e dos ensinamentos de Mestre Pastinha”, observa.

Ele disse que foi na Cantina da Lua que aconteceram as primeiras reuniões que resultaram nos afoxés e nos blocos que viriam revolucionar o Carnaval baiano, como Ilê Aiyê, Badauê e Olodum. Aconteceram também as primeiras reuniões do pioneiro e politizado Movimento Negro Unificado do Brasil.

“Clarindo Silva estimulava a pluralidade de pensamentos, proporcionando boa comida e bebida de primeira, apreciadas especialmente quando rolava o samba. A Cantina da Lua transformou-se no quartal general dos bambas do samba de Salvador: Batatinha, Riachão, Edil Pacheco, Walmir Lima, Bob Laô, Chocolate da Bahia, Ederaldo Gentil, Paulinho Camafeu, Claudete Macedo, Panela, e tantos outros”, admite, lembrando que lá, se bebia com Waldick Soriano e ouvia Jeovah de Carvalho declamar um poema com seu vozeirão, enquanto Ângelo Roberto desenhava a caricatura de Roberto Gaguinho.

As festas divinas e profanas que energizavam o Centro Histórico revitalizaram-se nos anos 1980, com a criação do Projeto Cultural da Cantina da Lua em que o escritor Vander Prata relata, por iniciativa de Clarindo, durante mais de dez anos realizou cerca de 800 shows na área externa e no Largo do Terreiro de Jesus.

“O Projeto Cultural Cantina da Lua era a chama que não se apagava”, afirma o jornalista, contando que, era a maneira de chamar a atenção da população para a defesa e proteção ao Pelô. “A luta sem fim de Clarindo Silva permeia este perfil de um solidário e, muitas vezes, solitário guerreiro em defesa do patrimônio em transe e das pessoas que habitam o Pelourinho, onde pulsa o coração da cidade”, conclui o escritor, que para escrever esta biografia, gravou mais de 80 horas de entrevistas com Clarindo Silva e família, outras tantas horas com amigos, dos mais antigos aos mais recentes, no final de 2009 e no decorrer de 2010.

O livro tem prefácio do escritor e jornalista José de Jesus Barreto e contra-capa do poeta Fernando Coelho. O Projeto gráfico é assinado por Tamir Drumond.