Quando a senhora idosa gritou: “Taxista filho da porra” foi que me dei conta que o motorista era mesmo um desajustado dos miolos. Mas estava tarde para pedir que pisasse no freio. Eu devia ter desistido da corrida quando ele ia passando pelo outro lado da rua e fiz sinal para que voltasse. O homem trabalhava com os vidros fechados e o ar ligado. Na chegada já estava com os vidros abaixados e o ar-condicionado desligado.
Entrei com duas crianças mais ou menos grandes, mas que não dava para saber a idade certa. Pedi para que ligasse,"por favor,” o ar, pois o calor estava insuportável ao sol do meio dia no engarrafamento da Paralela. Ele me respondeu que o ar era para seu consumo e bem estar, que se eu quisesse este tipo de conforto teria de pagar 20 por cento a mais no valor final da corrida, o que para o aeroporto significava mais 16 reais.
- Não sou eu não! Tá pensando que estou te roubando?, perguntou e apontou um papelote colado no vidro traseiro em que uma lei municipal autorizava tal cobrança.
Fiquei bestificado, pois sendo ignorante do jeito que sou, acrescentei mais este item à minha ignorância e meio sem jeito de mostrar minha deficiência para o taxista disse que podia ligar o ar, que eu pagaria etcetera e tal, que as crianças já estavam com tanta sede que pediam picolé e servia até mesmo Capelinha falsificado.
Fiquei bestificado, pois sendo ignorante do jeito que sou, acrescentei mais este item à minha ignorância e meio sem jeito de mostrar minha deficiência para o taxista disse que podia ligar o ar, que eu pagaria etcetera e tal, que as crianças já estavam com tanta sede que pediam picolé e servia até mesmo Capelinha falsificado.
Foi quando ele ligando o ar e voltando todas as saídas de ar para sua direção, querendo ficar com o ar todo para ele, eu pedi que pelo menos colocasse uma saída delas voltado para as crianças, pois o vento gelado não o era tanto assim e não estava dando vazão ao calor e agora eu estava pagando e queria os meus direitos e dos meninos.
Não devia ter tocado no assunto. O taxista todo carinhoso e brincalhão voltou-se para um dos menores e iniciou o seguinte dialogo:
Não devia ter tocado no assunto. O taxista todo carinhoso e brincalhão voltou-se para um dos menores e iniciou o seguinte dialogo:
- Oi garoto, você está estudando?
- Estou!
- Qual seu colégio?
- Vieira!
- Em que ano você está?
- Primeiro ano do Primeiro Grau!
- Qual sua idade?
- Sete anos!
- Ahá! – comemorou num brado o taxista, quase subindo o passeio – Eu sabia que você tinha mais de cinco anos e a lei me permite transformar o taxímetro em bandeira dois quando forem mais de dois passageiros e que não tenha nenhum menor de cinco anos. - Não sou eu não... é a lei! Está lá escrito.
E me mostrou mais um papelzinho colado no outro lado do vidro lateral esquerdo, traseiro. E foi neste instante que quase atropela a velhota que seguia no passeio e ela gritou, no susto, todos os tipos de palavrões e mais outras coisas que não deu para ouvir direito e que não daria mesmo para colocar aqui neste espaço dirigido às tradicionais famílias baianas.
O mais interessante é que descobri que o taxista tinha nascido na Argentina. Era argentino de Córdoba, o filho da mãe e nem sotaque tinha. Parecia que era de nascença lá das Cajazeiras XXXIX (para quem não sabe Algarismo Romano significa trinta e nove).
Achei que era hora da vingança e perguntei o que ele achava da Guerra das Malvinas, que está fazendo 30 anos, onde os argentinos perderam feio, foram humilhados e até hoje são gozados (no Sul e Sudeste dizem cornetados e a Bahia já começa a copiar o termo e vão dizer que é culpa da TV Globo e de Galvão Bueno) pelos ingleses que dizem que los hermanos choravam igual à mulherzinha quando viram as tropas e os tanques chegando e se entregavam até mesmo nus, chamando por madrecita.
Achei que era hora da vingança e perguntei o que ele achava da Guerra das Malvinas, que está fazendo 30 anos, onde os argentinos perderam feio, foram humilhados e até hoje são gozados (no Sul e Sudeste dizem cornetados e a Bahia já começa a copiar o termo e vão dizer que é culpa da TV Globo e de Galvão Bueno) pelos ingleses que dizem que los hermanos choravam igual à mulherzinha quando viram as tropas e os tanques chegando e se entregavam até mesmo nus, chamando por madrecita.
O homem pirou de vez; pisou no freio como doido e quase que o ônibus da BTU - cujos motoristas não fazem psicotestes que é para enfrentarem mesmo o trânsito louco da cidade -, entra no fundo; um velhote que dirigia a 20 quilômetros por hora no lado direito só teve tempo de desviar seu Lada e um motoqueiro saiu levando o retrovisor. Parou e me pôs com os meninos para fora em plena Avenida Paralela, ao sol a pino e cantando pneu foi embora. O menorzinho que não gostou dele disse:
- Tio, se preocupe não! O carro vai quebrar e vão aparecer os pôneis malditos para pegar ele.
Ô boca do Cão desse menino! O carro foi morrendo e de longe deu para ver que o argentino ia parando no meio do trânsito, engarrafando ainda mais a Paralela; pifando de vez no que aproveitei e peguei outro táxi e passamos por ele abaixadinhos no banco de trás que era para ele não ver. Argentino enfurecido é a miséria.
- Quer que ligue o ar, senhor? Perguntou o novo taxista.