Jolivaldo Freitas

Perdidos em Salvador

 Em “Histórias da Bahia - meu recente livro -, trato de algumas ruas de Salvador, mostrando direção, origem e batismo. Minha intenção é servir de guia para turistas desavisados, baianos de outras paragens e soteropolitanos perdidos (estes que não conhecem a sua cidade materna e nunca tiveram curiosidade de saber sobre sua alma).

Acredite que tem gente que mora em Nazaré e nunca entrou na Mouraria, passando batido de ônibus, táxi, automóvel ou na paleta. Tem quem more no Bonfim e não saiba onde está a Ladeira da Lenha ou que more em Ondina e nunca foi ao zoológico. Coisas da vida atribulada que todos levamos.


Mas tem algumas bobeiras que não dá para engolir calado. Conheci um repórter/produtor que – pasme – foi criado em Itapuã e nada conhecia de verdade do Shopping Iguatemi em direção à Barra ou Rio Vermelho. Conhecia o Centro Histórico por gostar da muvuca do fim de semana do Pelourinho, quando a área ainda oferecia atrativos e menos malandros e sacizeiros.
 
 Ontem, fui surpreendido duas vezes por soteropolitanos que nada sabem da sua cidade, embora tivessem a obrigação de pelo menos saber onde ficam os principais bairros. Acredite que ligando para a Embasa pelo 0800 (que na verdade agora passou a ser zero oito mil) para dizer ao moço do tele-atendimento que estava vazando um tubo perto do meu edifício, ele me pediu o endereço e eu disse Barra. 
- Barra fica onde senhor? – Perguntou o moço.
 
 Eu sabendo que ele podia ter se confundido entre Barra, às margens do Rio São Francisco; Barra do Mendes, na Chapada Diamantina; Barra do Taririri, no Litoral Norte ou Barra do Jacuípe, perto de Arembepe e também na Estrada do Coco, fui mais explícito: - É Barra, mas Ladeira da Barra, perto da Graça e do Porto da Barra.
Ele: - Fica próximo de onde?
 
 Quase eu respondo no melhor estilo Bocage, mas decidi ser mais explícito e disse que a Barra, notadamente a Ladeira da Barra tem como nome a Avenida Sete de Setembro. E disse que esta avenida vai do Edifício Sulamérica, perto da Praça Castro Alves, até a Avenida Oceânica, na... Barra. Daí ele me inquiriu:
- Praça Castro Alves?
 
 Desisti, dei bom dia e disse que depois ligaria e liguei de novo e graças a Deus Pai outra pessoa atendeu. E se você está pensando que é culhuda, tenho o número do protocolo de atendimento. 
 
 O outro foi o taxista que para ir do centro até a Ceasa do Rio Vermelho pegou a Avenida Bonocô, subiu para Brotas, desceu a Ladeira da Cruz da Redenção, passou pela entrada de Cidade Jardim, foi até a Embasa da Lucaia e faltou pouco para ir ao Rio Vermelho pelo Canal, para voltar. Bastava ter descido a Fonte Nova, pegar a Vasco da Gama e seguir reto.

Claro que a bandeirada no taxímetro deu 30 por cento mais caro. E, claro que briguei e paguei o justo, enfrentando a cara feia do profissional do volante. Mau profissional, diga-se de passagem.
 
 Mas isso não foi nada, levando-se em conta que certa vez, neste jornal que vos alumia, me apareceu um estagiário (não vou dizer o nome) e eu era Chefe de Reportagem. Peguei a pauta e disse “corre para o Teatro Castro Alves que está começando a coletiva”. Ele me perguntou onde ficava o teatro – ninguém é obrigado a saber – e eu respondi que ficava no Campo Grande. 
 
Quando ele me perguntou onde ficava o Campo Grande me deu uma tristeza tão grande que quase largo tudo e vou chorar no pé do caboclo. Pior foi o motoqueiro que um amigo contratou para entregar pizza. O safado só sabia os bairros e rua que o interessavam.

Embora morasse no Rio Vermelho, se a entrega fosse no Vale das Pedrinhas dizia que não sabia. Se no Nordeste de Amaralina não sabia como chegar e domicílio no Alto das Pombas, pior ainda. Tanto que certa vez, num pedido para este endereço, ele perguntou ao meu amigo dono do negócio onde ficava o logradouro. E recebeu a informação que se localizava atrás do Cemitério do Campo Santo.
- Cemitério não vou nem morto – disse.
 
 Mas, sabia todos os endereços classe A, novo rico, classe média ou remediado. Bairros onde a gorjeta era boa. Estava certo.