Carnaval sem pegação nunca valeu a pena. Hoje em dia o pessoal se conforma mesmo com a beijação e quando chega a quarta-feira de cinzas não pegou ninguém, só gripe e unha encravada e sapinho na boca. Ficam os garotões se vangloriando de ter beijado muito, roubado muito beijo e abraçado demais. Parece até um Carnaval infantil.
Tempos passados a coisa era mais braba, pra valer. Se o cara estava no bloco ou mesmo na pipoca e dava um beijo na foliã, tenha certeza que o bicho ia pegar. E, por incrível que pareça, se o folião ou a foliã ganhava um parceiro logo nos primeiros dias de folia, havia uma fidelidade tácita. A não ser que fosse uma mocréia, a moça tivesse mau-hálito ou debaixo da mortalha ou da fantasia estivesse uma surpresa ruim. Aí era se esconder no meio da multidão.
Foi assim com o famoso professor Myter Maia, hoje renomado pesquisador, que com certeza vai me escrever chiando e protestando por contar aqui a história. Logo na quinta-feira, na entrega da chave para o Rei Momo ele viu a linda fantasia da moça: macacão cheio de brilho e uma águia desenhada com fios de prata e ouro. A máscara com plumas só deixava ver os lindos olhos claros que fixaram-se nele e o homem enlouqueceu.
Se apaixonou que nem iraquiano: pelo buraco da burka, como se poderia dizer. E foi um tal de namorar, pegar, beijar por baixo da máscara, sem máscara e a moça quando tirou a máscara era uma beleza de fêmea e o coração de Myter Maia bateu mais forte.
Carro, motel, meia luz e a moça pediu um breu. Ele desconfiou e quando no auge do amor acendeu o abajur. A nunda era falsa. O peito era um sutiã recheado. Bunda chulada e cabeluda. Cabelo no peito. Seios de ovos estrelados. Mas, Myter Maia resistiu bravamente, consumou o processo, deixou a princesa em casa e sumiu.
Carro, motel, meia luz e a moça pediu um breu. Ele desconfiou e quando no auge do amor acendeu o abajur. A nunda era falsa. O peito era um sutiã recheado. Bunda chulada e cabeluda. Cabelo no peito. Seios de ovos estrelados. Mas, Myter Maia resistiu bravamente, consumou o processo, deixou a princesa em casa e sumiu.
Nos dias seguintes achou que estaria protegido pela multidão e jamais voltaria a encontrar a folião. Estava no Beco da Ribeira, ao lado do prédio do Sebaea, na avenida Sete e ela aparece cheia de amor para dar. Ele consegue se livar e sumir no meio do povo. Foi para o Relógio de São Pedro e de repente aparece o encosto.
E foi assim sucessivamente, até o último dia. Na terça-feira ele já triste e ressabiado decidiu ficar no estacionamento de baixo da Castro Alves, tomando cerveja. E a moça aparece com dois irmãos imensos. Saiu correndo tanto e de tal forma Ladeira da Conceição abaixo que ralou dos joelhos à testa.
E foi assim sucessivamente, até o último dia. Na terça-feira ele já triste e ressabiado decidiu ficar no estacionamento de baixo da Castro Alves, tomando cerveja. E a moça aparece com dois irmãos imensos. Saiu correndo tanto e de tal forma Ladeira da Conceição abaixo que ralou dos joelhos à testa.
Neste Carnaval a novidade é o Guia do Carnaval de Salvador – Para Pegador, trabalho elaborado pelo escritor Alfredo Jorge Bahia Heine. O livro é um tratado de coisas que, por exemplo, evitaria o sufoco de Myter Maia. Fala de como paquerar, os camarotes, cuidado com pessoas ciumentas e despreparadas psicologicamente para o Carnaval, etc.
Veja um exemplo de orientação para os homens: “Uma mulher que for pra folia do carnaval sem namorado e não for paquerada, provavelmente vai voltar pra casa meio triste, com baixa autoestima... Elas ficam com a sensação de que não foram desejadas, e isso faz mal a elas... Paquerá-las, então, pode-se dizer, não deixa de ser um ato cristão”.
E mais. Diz o guia: “Lembre-se que elas têm sexo e desejo sexual. E compete a você, folião retado, saciar esse desejo incontido (principalmente no carnaval) dessas mulheres. Vá em frente, confiante, folião miseravão! (...) Se você gostou da mulher, que importa o nome dela? Você vai deixar de pegá-la só porque o nome dela não lhe agradou? Então... Deixa pra saber o nome depois”.