Jolivaldo Freitas

É cada chef que me aparece

 É asta sair percorrendo os lugares mais recônditos do litoral baiano – aonde os gringos chegaram, se apossaram e transformaram em verdadeiros paraísos tropicais –, a exemplo de Barra Grande, Taipu, Praia do Forte, Morro de São Paulo e tantos outros, para ver que tem chef de cozinha a dar de colher de pau. Qualquer pizzaiolo vira chef. Basta o cara ser estrangeiro, de preferência italiano ou francês, para que vire um deles.

Mas, quando você pensa que têm alguma formação por uma escola de proa como Le Cordon Bleu, French Culinary Institute, Accademia Europea di Firenze ou pelo prosaico instituto Universal Brasileiro, vê-se que o indigitado é tudo menos chef. A não ser para colunistas sociais de jornais e revistas que esquentam suas notas chamando gato de onça.


Isso não quer dizer que os caras, mesmo sendo autodidatas, não saibam fazer uma pizza Caponatta ou um Fiambre de Bayonna. Muitas das vezes saem até melhor que a receita. Já apreciei alguns casos. Mas, é interessante vê-los com seus toques e uniformes com bandeirinhas do Brasil e do país que empresta o nome da cozinha, dando severas ordens aos ajudantes, a empáfia ao dilacerar as penudas ou o gestual carregado ao cheirar temperos e especiarias.
 
Eu mesmo tive o prazer de presenciar um caso, recentemente em Barra Grande, na área de Maraú. O chef só faltava dar cascudo nos funcionários. Teve um momento em que ele gritou com um deles, por ter servido uísque com gelo de escama (o que deixa a bebida aguada) e não a 18 graus negativos e rígido (o que é correto). Sem graça, a funcionária se desculpou a um cliente que perguntou de onde era o chef. Ela disse que da Itália. Ele perguntou de que escola. Ela disse que em Roma era motorista de táxi. Nada demais, pois acredito mais no talento do que no canudo.
 
Outro caso interessante me foi contado por um amigo que esteve em Praia do Forte e pediu uma famosa comida europeia, que não vou dizer o nome senão o restaurante será facilmente identificado. Ocorre que este amigo é gerente de uma multinacional, viaja o mundo todo, todos os anos e seu hobby é cozinhar e pesquisar gastronomia. Pediu o prato e quando chegou percebeu a cor errada, a textura fora do padrão, o cheiro dissociado do clássico e o sabor passando longe do que deveria ser.

Pediu explicações ao que seria o máitre, que levou o recado para o chef, que já veio espumando e colocou todo mundo para fora. Depois se descobriu que o chef tinha sido marceneiro em sua cidade natal; veio passar as férias na Bahia, gostou e montou o negócio. E assim vai levando a vida. E todo dia está nas colunas. 
 
Mudando de pau pra cacete, semana passada a TV Bahia fez uma excelente reportagem sobre os problemas estruturais de Salvador. Mas deu pena assistir ao simpático vice-prefeito Edvaldo Brito se enroscar todo na prosopopeia para explicar o caos. Sem querer encobrir os fatos, mas se escusando de citar o prefeito e muito menos se indispor com o governador, falou um economês tamanho que minha mãe me perguntou se ele falava espanhol ou fala de índio. E correu para pegar o carnê do IPTU.
- Vem aumento por aí – disse.