Tenho medo do que possa ser colocado no Carnaval de Salvador a guisa de homenagear o meu saudoso amigo e mestre Jorge Amado, em termos de decoração. Meu receio é também o de várias pessoas que têm me passado email, pedindo para alertar desde já, para a necessidade de se fazer algo realmente grandioso ou pelo menos digno. Lembram que num carnaval de alguns anos passados, fizeram homenagem aos personagens de Jorge Amado e era melhor que tivessem esquecido. Foi ruim. Paupérrimo.
Pinturas pobres, ilustrações bestas, uns pedaços de plásticos sobre madeira e a iluminação parecendo de brega de cidade do interior. Aliás, conheci umas cidades interioranas onde a casa de luz vermelha tinha iluminação mais feérica e criativa que na maioria das vezes dos festejos de Salvador. Aliás, Jorge também conhecia muitas destas casas de quengas.
Se bem que a esta altura a decoração já deve estar pronta e as gambiarras na iminência de irem parar nos postes e nos matar de vergonha. Não quero nada como as luzes de Paris. Muito menos o brilho de Atlantic Citi com seu Taj Mahal - onde perdi nas máquinas caça-níqueis exatos 10 dólares, isso depois de ter ganhado mais de mil dólares, inicialmente. Veio fácil, foi fácil. Era luz para todos os lados. Mosaicos lindos. A cidade parecendo pegar fogo de tanta luz, de todos os formatos e detalhes: moinhos, florestas e tudo o mais que a mente criativa dos caras inventam.
Não sei por que em Salvador não se faz uma iluminação decente no Carnaval. Vem milhares de pessoas de fora para ver a festa e ficam aqueles paus de luzes pendurados, do mesmo jeito que se fazia em tempos idos. Com o agravante que antigamente era difícil encontrar equipamento técnico para dar vazão à criatividade de quem se encarregava de bolar alguma coisa chamativa.
Ou seja: nos tempos difíceis, onde não havia neon disponível e sequer se pensava em led, as pessoas eram mais inteligentes e dedicadas. Hoje parece que compram a decoração pronta de resto de presépio na Baixa dos Sapateiros e saem amarrando nos postos do Centro Histórico. O Circuito Barra/Ondina é de dar dó. Fica nu. Se não fossem os balões das cervejarias iria parecer decoração de quermesse de São Sebastião do Passé ou Xique-Xique.
Lembrei que me contaram que num carnaval os homenageados os tropicalistas. Os criativos e criadores fizeram uns desenhos de Gil, Bethânia, Gal e Caetano Veloso que até dona Canô chiou. Ela olhou os tapumes, as gambiarras e os adereços pendurados no Campo Grande e disse simplesmente:
- Tá é feio!
E era mesmo. Os Doces Bárbaros mereciam um tratamento melhor. Um lambe-lambe teria feito coisa bem mais em conta e mais realista. É por isso que tenho receio do que possam fazer com Jorge Amado neste seu centenário. Lembrem que o homem escreveu “O País do Carnaval”. Não economizem. Não fiquem burros. Deixem de preguiça. Se não está bom corram para consertar ou melhorar. O mundo estará de olho em nós. Não me matem de vergonha. Não façam minha pressão subir. Aliás, nem vou ficar para ver. Nem ver TV. Só me liguem e mandem fotos se ficar bonito. Que todos os orixás protejam o pai Amado.