Jolivaldo Freitas

A burrice e a escola caça-níquel

O antropólogo Roberto Albergaria disse uma coisa interessante esta semana na Rádio Metrópole e que faz sentido absoluto. É que na vida tudo é consequência de 10 por cento de esforço e 90 por cento de sorte. Ele só esqueceu-se de dizer que o pequeno índice de esforço é aquele dá força à sorte. Não adianta ser sortudo se não estiver preparado para a oportunidade. Pegar o cavalo encilhado, como se diria John Wayne ou Jerônimo, Herói do Sertão.

É que escutei um pai se queixando que gastara mais de 10 mil reais em 2011 pagando o estudo do filho numa universidade. Isso sem contar os mais de 300 mil reais que gastara em toda vida escolar do rapaz. Ele se formou numa universidade particular, fez estágio, mas pelo jeito nada aprendeu. A irritação do pai era com o fato do rapaz ter sido chamado por uma grande empresa multinacional para ganhar um salário inicial de 8 mil reais e sequer passou nos testes de conhecimento. Só faltou ser colocado para fora do RH com antolhos, bride, arreios e puxando uma carroça.
O pai queria saber se o filho era burro ou a escola era ruim. E buscava um denominador. Em sua avaliação, se a escola era ruim e o filho não aprendeu o filho foi burro de não mudar enquanto era tempo. Mas, se o filho era burro e se formou a escola era ruim mesmo. Virou um teorema. Mas pai que é pai não esmorece e ele decidiu que o rapaz vai ter de fazer um MBA ou qualquer coisa que reforce o diploma.

- Vamos ver se ele é burro de nascença ou de faculdade ou tem problemas com as faculdades mentais – desabafou.
Mas os pais estão mesmo é preocupado com o caça-níquel que virou o sistema de ensino particular. Mas não tem jeito. Ou aceita a chantagem das escolas que já enviaram suas tabelas de preço e prazo para matrícula ou terão de colocar os filhos nos estabelecimentos públicos, onde, como se dizia no colégio em que estudei o Anísio Melhor, entra burro e sai pior. O que era um desrespeito para com o patrono, reconhecido gênio baiano da Educação e da Cultura. Mas, estudante não presta mesmo e vive desmoralizando as instituições.

Tem escola que aumentou em 10% a mensalidade. A inflação ficou pela metade. É roubo. Tem também a velha jogada de deixar o aluno para recuperação, o que é um aditivo para o caixa escolar, que tem de pagar o Décimo Terceiro do professor – geralmente (f) e mal pago. Mas, se o aluno der bobeira o pai está lascado. Ficará na dependência de uma ou duas matérias e aí o bicho pega. Cada dependência está em torno de 200 reais. Numa escola com 500 alunos isso dá um plus na contabilidade de 100 mil reais ao mês. E não adianta dizer que o aluno ficou na dependência por falta de esforço e talento do professor e vistas grossas da escola. Os donos dos estabelecimentos (claro que temos a maioria como sérios senão seria o caos completo) chamados “cacete armado”, fingem que não é com eles.

Encontrei uma senhora pirada. O filho conseguiu a proeza de fazer recuperação de nove matérias. Passou em oito e ficou com uma dependência. Ela pediu revisão, mas foi pior. O menino que precisava de alguns décimos para passar de repente se viu a precisar de muito mais décimo. Ela diz que se voltar lá para pedir nova revisão é capaz de o garoto cair em mais uma ou duas dependências. Achou melhor aquietar o facho e bancar uma matéria que é caro, mas é mais barato que duas.