Brasil / Economia

Banco Central reduz a projeção
de crescimento para a economia

Fernando Haddad discorda da projeção feita pelo BC

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom | Agência Brasil
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad
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O Banco Central reduziu a projeção de crescimento do PIB brasileiro em 2025 de 2,1% para 1,9%, citando desaceleração econômica, juros altos e incertezas. O governo mantém previsão superior a 2%. A agropecuária deve impulsionar o PIB no 1º semestre, enquanto consumo e investimentos recuam. Contexto global segue incerto.

O Banco Central do Brasil revisou para baixo a projeção de crescimento da economia brasileira em 2025. A nova estimativa, apresentada no Relatório de Política Monetária (RPM) de março, reduz o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,1% para 1,9%, refletindo uma desaceleração mais intensa da atividade econômica nos setores mais cíclicos.

O Ministério da Fazenda, no entanto, continua a acreditar em expansão de mais de 2% para o Produto Interno Bruto (PIB). "Não vi o relatório, mas nós continuamos com a previsão de crescimento da economia brasileira na forma da lei orçamentária, nós não revimos ainda o PIB, nós continuamos acreditando num crescimento acima de 2”, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. 

Em fevereiro, a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda tinha revisado a projeção para o PIB de 2025 de 2,5% para 2,3%.

A economia brasileira cresceu 3,4% em 2024, superando as projeções iniciais do próprio Banco Central e do mercado. No entanto, o desempenho foi desigual ao longo do ano, com desaceleração notável no quarto trimestre, quando o PIB avançou apenas 0,2%.

Segundo o relatório, a perda de ritmo foi mais acentuada nos setores mais sensíveis ao ciclo econômico, como consumo das famílias e formação bruta de capital fixo (FBCF), ambos impactados por incertezas e juros elevados. A agropecuária também recuou 3,2% em 2024, após ter registrado expansão recorde no ano anterior, em função de problemas climáticos.

A revisão do crescimento considera, além dos dados do quarto trimestre de 2024, perspectivas menos favoráveis para o setor de serviços e para a indústria ao longo de 2025. A previsão só não foi mais pessimista devido à expectativa de recuperação da agropecuária no primeiro semestre do ano, especialmente pela colheita de soja.

Apesar do arrefecimento no final de 2024, o início de 2025 mostrou indicadores contraditórios. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) subiu em janeiro, mas a confiança de empresários e consumidores caiu em fevereiro, segundo dados da Fundação Getulio Vargas (FGV).

O relatório projeta recuperação do setor agropecuário como um dos principais motores do PIB no primeiro semestre, devido à safra de grãos, especialmente de soja. No entanto, o consumo das famílias — que havia crescido 4,8% em 2024 — mostra sinais de recuo, e os investimentos também desaceleraram.

Mercado externo

No plano internacional, o Banco Central destaca que a atividade global segue resiliente, mas sob crescente incerteza. Os Estados Unidos registram crescimento moderado, enquanto o Federal Reserve (Fed) manteve a taxa de juros estável e adotou postura cautelosa.

A adoção de tarifas comerciais pelo governo norte-americano elevou a incerteza global e deve impactar negativamente o comércio internacional. Além disso, os conflitos geopolíticos e a fragmentação das cadeias produtivas pressionam os preços e aumentam a volatilidade nos mercados.

A China, por sua vez, mostrou sinais de recuperação econômica no quarto trimestre de 2024, com crescimento de 5,4%, mas enfrenta dúvidas quanto à sustentabilidade de sua expansão.

O relatório aponta que a demanda interna aquecida gerou forte aumento das importações em 2024, enquanto as exportações cresceram em ritmo menor. Como resultado, a contribuição do setor externo para o PIB foi negativa em 1,8 ponto percentual.

A política fiscal também segue expansionista, com aumento de gastos públicos. A situação preocupa o BC, especialmente no contexto de inflação pressionada e expectativa de desaceleração da arrecadação em 2025.