Batismo é coisa séria, não só pela nossa formação religiosa, como também pela escolha cuidadosa do nome do cidadão. Já vi e documentei verdadeiras aberrações e descuidos na hora do registro em cartório. Em alguns casos a coisa acontece por puro capricho dos pais e muitas vezes por influências de parentes próximos, principalmente avós e tias solteironas.
A importância do sobrenome da família, mantido integralmente, faz parte de um contexto tradicional, que nunca pode ser deixado de lado. A herança é portuguesa e quase todo mundo que tem sobrenome pomposo preserva esses detalhes.
É comum nos nomes de oficiais da Marinha e de altos funcionários da Chancelaria, a presença de sobrenomes extensos. Podemos verificar este fato nos noticiários de jornais e revistas quando são citados os nomes de almirantes e diplomatas. Fato que raramente se repete nos nomes de oficiais das Policias Militares e das Guarnições de Bombeiros, onde os sobrenomes são de famílias de classe média: Bispo, Nascimento, Santos, Evangelista, Silva, Batista, etc.
Vejam o exemplo do grande artista espanhol Picasso. Dizer que o nome do sujeito era grande é uma verdadeira redundância. Literalmente chamava-se: Pablo José Diego Francisco de Paula Juan Nepomuceno Maria de los Remédios Crispim Crispiniano de La Santíssima Trinidad Ruiz y Picasso.
Aqui na Bahia, em Maragogipe e região, muitos meninos são batizados com o nome de Bartolomeu. Se alguém for pesquisar o livro do cartório local, verificará que a letra B ocupa vários e vários volumes. A razão está no nome do Santo padroeiro da cidade. O pai de meu compadre Sérgio era Bartola, mas não nasceu em Maragogipe. É de Conceição do Almeida. Pertinho.
São comuns os casos de cacofonias e combinações engraçadas: Hugo Leiro, Marta Salgado, Nuno Lago, Melo Rego, Hugo Gódoi, Edna de Galiza, Eva Gina, Decio Pinto, Delfino Pinto, Agostinho de Lima, etc. A família Pinto, por exemplo, é bastante vulnerável e qualquer descuido é fatal: descem e matam os Pintos.
Nesta salada de trocadilhos cabe uma pergunta: É lisa a Bete ou a Bete é lisa? Alguns cuidados devem ser tomados para não termos problemas mais adiante e por curiosidade algum tarado querer passar a mão para confirmar a lisura da Bete. Pouca gente sabe que Elizabeth é a mesma coisa que Isabel.
Muitas combinações de nomes e sobrenomes apresentam um resultado sonoro fabuloso e suscetível a risos e gozações, que se iniciam desde cedo nas escolas, principalmente na hora das chamadas em sala de aula. Lembro dos meus tempos de curso primário no Antonio Vieira quando dava belíssimas risadas com os nomes esquisitos e engraçados de diversos companheiros.
Registros e coincidências hilariantes são comumente encontrados nas listas telefônicas. Numa rara coincidência descobri certa vez que uma senhora chamada de Tereza Batista morava na Av. Jorge Amado, aqui em Salvador.
Tenho uma amiga que faz questão de registrar que o Batista dela é com um P. Desta forma ela é da família Baptista.
Conheço dois irmãos gêmeos, Humberto e Zé Roberto, que também poderiam ser chamados numericamente de: Hum Berto e Zero Berto. Zero Berto, observando-se a nomenclatura, provavelmente deve ser o primogênito.
Dureza são os nomes extravagantes e inspirados na mitologia. As influências gregas são fatais e deixam os titulares com uma marca indelével: Eliogábalo, Agápio, Pancrácio, Sezefredo, Arquelau, Hemetério e outros mais são comuns em pessoas nascidas em cidades do interior do país.
Imaginem na hora do “rala e rola”, a princesa ter que sussurrar carinhosamente um nome desses:
-- Vamos lá, Hemetério!
Quebra qualquer emoção.
Não quero me alongar neste ponto, mas lembro de uma piada do humorista Zé Lezin, da Paraíba, quando a dona do bordel chama uma funcionária para atender um cliente:
-- Alaíde!
-- Alaíde não está.
-- Então chame Olga.
Na literatura portuguesa, Jorge Amado e Eça de Queirós eram verdadeiros craques ao batizar seus personagens: Coronel Ramiro Bastos, Vasco Moscoso de Aragão, Gumercindo, Florípedes Guimarães, Teodoro Madureira, Ernestinho Ledesma, Conselheiro Acácio, etc.
Faço questão de registrar nomes extensos e pomposos de pessoas amigas, com a certeza de que ficarão felizes com esta minha homenagem:
Milton de Aragão Bulcão Vilas-Boas, Sérgio Antonio Assumpção Sales, Jorge Calmon Moniz de Bittencourt Filho, Suzana Alice Valois Coutinho Marcelino da Silva, Indaiá Maria Schubach da Cunha de Magalhães, .
Em Portugal a coisa pega. E pega pra valer aos olhos dos brazucas. Um colega luso tinha um cunhado chamado de Conchinha Mão de Ferro. Tem um político português, alcaide em Viana do Castelo, chamado elegantemente de Defensor de Moura. Dizem que a família Pinto Duro é muito grande nas terras do Douro.
Tive um colega de trabalho em A Tarde, saudoso, que tinha nome grego e que sonoramente parecia ter nome de bispo: Crisósthomo Rodrigues Coutinho. O seu carimbo, que autenticava relatórios, era simplificado: C.R.Coutinho. Reparem que, relembrando a história do Brasil, os bispos tinham nomes grandiosos e que por si só já impunham respeito e autoridade. Não foi o caso do bispo D. Pero Fernandes Sardinha, que serviu de almoço para os silvícolas.
Tenho um amigo, nascido em Curaçá, sertão baiano, que tem todos os irmãos e irmãs com o nome começando com a letra Z. E não é pouca gente. Contem, por favor: Zelson, Zenato, Zenaide, Zerlanio e Zecleide. Querem mais? Tem também Zailde. Chega! O patriarca nunca zebrou.
Uma categoria que ostenta nomes autoritários e esdrúxulos são a dos árbitros de futebol. Lembram do Armando Nunes Castanheira da Rosa Marques? Do Dulcídio Wanderley Bosquilia? Do Clinamulte Vieira França? Do Romualdo Arpi Filho? Do Arilson Bispo da Anunciação? Do Baimonilson Lisboa, também conhecido como Babau?
No expediente da revista Veja há dois jornalistas com os seguintes sobrenomes métricos: um é Longo e o outro é Comprido.
Outro dia descobri alguns nomes interessantes de mulheres: Matilde, Clotilde, Otilia, Erotildes. Todas tem um til no meio.
Recentemente atentei com cuidado o nome de um vereador soteropolitano. A formação do prenome foi inspirada em Osvaldo, que recebeu o prefixo O de, que não deixou alternativa para o escrivão. No arremate documentou no livro do cartório o neologismo Odiosvaldo. Espero que o edil não se aborreça comigo, pois sou amigo de outro edil, o Edil Pacheco, amigo comum.
Ainda sobre o nome Osvaldo já vi um herói batizado com um escrito de trás para a frente, como se fosse uma espécie de palíndromo: Odlavso. Parece até um nome de jogador de futebol da antiga Iugoslávia.
Pra encerrar lembro que minha mãe chamava-se Argentina e que sofri muito nos tempos de menino. Meu pai, que se chamava João, por analogia geográfica também era chamado pela galera de Seu Paraguai.