Mundo

Ataque do Irã a Israel aumenta o risco de uma escalada da guerra

O temor de uma guerra contra o Irã levou os israelenses aos supermercados em busca de suprimentos

A ansiedade de acompanhar ao vivo a grande quantidade de mísseis e drones lançados contra o país marcou o dia seguinte em Israel. Em meio a muitos questionamentos em torno das falhas do 7 de Outubro, a população se sente desorientada.

O temor de uma guerra contra o Irã levou os israelenses aos supermercados em busca de suprimentos. A associação das operadoras de cartões de crédito registrou um aumento de 8,5% nos gastos na manhã posterior aos ataques em relação ao mesmo dia da semana anterior.

Por mais que os israelenses estejam acostumados a operações militares, a geração atual não viveu as guerras com os países árabes e não conhece a realidade de um confronto contra um estado soberano.

Diante das incertezas deste momento histórico, a Estrela de Davi Vermelha, o equivalente israelense ao SAMU brasileiro, abriu dois novos postos de coleta de sangue nas duas maiores cidades do país, Jerusalém e Tel Aviv. A medida tem objetivo preventivo, segundo as autoridades.

Ao mesmo tempo, o Comando da Frente Interna, braço do exército responsável pelas diretrizes à população civil, suspendeu as restrições que estavam em vigor um dia antes do esperado. As instituições de ensino podem voltar a funcionar, e não há mais limites em relação ao número de pessoas que podem participar de eventos, shows, competições esportivas e festas.

Uma diretora de um jardim de infância disse ao Canal 12 que o Comando da Frente Interna está “desconectado da realidade”. A reclamação se deve ao fato de a informação ter sido divulgada à meia-noite, impossibilitando a preparação adequada para as atividades da manhã desta segunda-feira.

Preocupação mundial

O ministro de Relações Exteriores da União Europeia, Joseph Borrell, convocou ministros de Relações Exteriores de países da UE para discutir o ataque iraniano contra Israel, terça-feira. “Nosso objetivo é prevenir a escalada e contribuir para a segurança da região”, disse Borrell.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, emitiu uma declaração na sequência dos ataques da noite de sábado do Irã contra Israel, condenando com veemência "a grave escalada representada pelo ataque em grande escala com o lançamento", ao apelar pelo "fim imediato dos confrontos". 

O líder das Nações Unidas disse estar “profundamente alarmado com o perigo muito real de uma escalada arrasadora em toda a região”. 

No comunicado, Guterres exorta todas as partes "a exercerem a máxima contenção para evitar qualquer ação que possa levar a grandes confrontos militares em múltiplas frentes no Oriente Médio". 

O secretário-geral lembra que ele “tem sublinhado de forma repetida que nem a região nem o mundo podem permitir-se a outra guerra.”

Para o presidente da Assembleia Geral, Dennis Francis, "a resposta iraniana agrava a já tensa e delicada situação de paz e segurança no Oriente Médio".

Ele reiterou o apelo a todas as partes para que exerçam a máxima moderação destacando que este “é um momento que exige um julgamento sábio e prudente, em que os riscos e os perigos amplos sejam considerados com muito cuidado”.

Francis disse esperar que as “autoridades iranianas honrem a sua palavra de que, através da sua ação hoje, o assunto poderá ser considerado concluído”.

Para o líder do órgão deliberativo da organização, “um círculo vicioso de ataque e contra-ataque não levará a lado nenhum, mas inevitavelmente a mais mortes, sofrimento e miséria”.

O chefe da diplomacia da União Europeia alertou nesta segunda-feira (15) para o risco do surgimento de uma "aliança contra o Ocidente", na esteira do conflito entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza.

Em seu blog, o alto representante da UE para Política Externa, Josep Borrell, reconheceu que o bloco não foi capaz de "frear os combates em Gaza e de pôr fim ao desastre humanitário, de libertar os reféns e de começar a implantar a solução de dois Estados, único modo de levar uma paz sustentável à região".

O governo italiano anunciou nesse domingo (14) que os líderes do grupo das sete nações mais industrializadas do mundo condenaram o ataque deflagrado pelo Irã contra Israel e pediu para que todos evitem ações que aumentem a tensão no Oriente Médio.

"Os líderes do G7 adotaram uma declaração conjunta que condena veementemente o lançamento de drones e mísseis do Irã, reiterando total apoio à segurança de Israel", diz a declaração da presidência italiana do G7 no final da reunião virtual liderada pela primeira-ministra Giorgia Meloni.

O comunicado reforça que, "com as suas ações, o Irã tomou novas medidas no sentido de desestabilizar a região e corre o risco de causar uma escalada regional incontrolável".

Os países mais industrializados do mundo expressaram ainda "sua condenação inequívoca e nos temos mais fortes" ao ataque direto e sem precedentes do Irã contra Israel e demonstrou total solidariedade e apoio ao governo israelense e ao seu povo, reafirmando o compromisso do grupo com a segurança.

Ainda segundo a nota, "no final da discussão, o G7 destacou a necessidade de evitar novas escaladas, convidando as partes a absterem-se de ações destinadas a aumentar a tensão na região".

"Continuaremos a trabalhar para estabilizar a situação e evitar uma nova escalada. Neste espírito, pedimos que o Irã e os seus aliados cessem os seus ataques, e estamos prontos para tomar novas medidas agora e em breve. resposta a novas iniciativas desestabilizadoras", acrescenta.

Para "evitar uma nova escalada" no Oriente Médio, os líderes do G7 "fizeram um apelo para pôr fim à crise na Faixa de Gaza através da cessação das hostilidades e da libertação dos reféns pelo Hamas".

Por fim, os líderes de Estados Unidos, Canadá, Itália, Reino Unido, França, Alemanha e Japão garantiram ainda "a continuação da ajuda humanitária à população palestina". 

A posição do Brasil e da América Latina

A América Latina está dividida sobre a posição a adotar em relação ao ataque de mísseis deflagrado pelo Irã contra Israel.

Por um lado, o secretariado da Organização dos Estados Americanos, sob a liderança do uruguaio Luis Almagro, condenou a agressão de Teerã e expressou a sua "total solidariedade" com Israel.

Em uma nota, denuncia a "completa ruptura das normas básicas do direito internacional" e acusa o regime iraniano de representar uma fonte constante de instabilidade no Oriente Médio.

Da mesma forma, o governo argentino, liderado pelo ultraliberal Javier Milei, manifestou a sua total solidariedade com Tel Aviv, considerada "um bastião dos valores ocidentais".

Milei suspendeu repentinamente uma viagem ao exterior e retornará hoje a Buenos Aires para assumir o controle da crise e "coordenar ações com os países ocidentais", segundo comunicado.

A preocupação com a escalada da crise foi manifestada pelos governos do México, Chile, Uruguai, Equador e Peru, enquanto o presidente colombiano, Gustavo Petro, expressou seu desacordo com a declaração da OEA, lembrando que "o genocídio (em Gaza) precede toda barbárie" e que "a OEA deve expressar-se com o objetivo mais absoluto da paz".

Na mesma linha da Colômbia, o governo de Nicolás Maduro manifestou a sua preocupação com a situação no Oriente Médio, "produto do genocídio na Palestina e da irracionalidade do regime israelense".

Já o governo do Brasil expressou "grave preocupação" com o ataque contra Israel, apelando a "todas as partes envolvidas que exerçam máxima contenção e conclama a comunidade internacional a mobilizar esforços no sentido de evitar uma escalada".

"Desde o início do conflito em curso na Faixa de Gaza, o governo brasileiro vem alertando sobre o potencial destrutivo do alastramento das hostilidades à Cisjordânia e para outros países, como Líbano, Síria, Iêmen e, agora, o Irã", diz um comunicado do Ministério das Relações Exteriores.

No entanto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que até agora tem sido extremamente crítico a Netanyahu, não fez nenhuma declaração.