Opinião

Brasil sente os efeitos das guerras econômicas em curso no mundo

Seus maiores parceiros comerciais são os beligerantes principais

É muito difícil saber quem começou

Nos próximos dias prosseguem movimentações diplomáticas de escalão superior para eliminar ou, pelo menos, reduzir, mais uma batalha da guerra econômica sobre a China. “Sobre” porque, em contextos destes, é muito difícil saber quem começou. Economias ocidentais acionando protecionismo e se opondo aos avanços chineses em economia ou violação dos direitos de propriedade intelectual e dumping pela China?

O Brasil é parte interessada nas duas hipóteses. Seus maiores parceiros comerciais são os beligerantes principais e no passado mês, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviço, iniciou investigação sobre possível dumping na exportação chinesa de folhas de aço carbono, conforme queixa de várias siderúrgicas nacionais, incluindo a CSN. Uma investigação deste tipo pode exigir um ano e, quase de certeza, vai se estender a todo o ramo siderúrgico, crucial para a indústria em geral e para o mercado de trabalho.

A siderurgia brasileira já teve problemas com protecionismo muito acentuado nos Estados Unidos e Europa. Desta vez se trata de dumping – baixa intencional nos preços liquidando a concorrência para, em seguida, assumir controle do mercado visado.  A esta acusação junta-se a forte suspeita da China ser um dos maiores responsáveis pelo aumento insuportável da capacidade mundial de aço.

Janet Yellen, secretária do Tesouro norte-americano, adiciona queixa em outros ramos. Falando numa unidade de produção de painéis solares, ela designou a economia chinesa como entrando em over capacity generalizada, graças a subsídios estatais. Yellen é esperada esta semana em Pequim.

No início da próxima semana, o ministro do Comércio da China estará na Europa, com relevo para a escala na França, onde as acusações se estendem desta visão geral norte-americana a dados relativos a ramos específicos, como os carros elétricos. Em maio será Xi Jinping a viajar pela União Europeia, em função da qual o ministro dos Negócios Estrangeiros francês já foi conversar com seu homólogo chinês.

Biden e Xi falaram pelo telefone há poucos dias, tendo a Casa Branca apontado três temas da conversa: inteligência artificial, Rússia e Fentanyl, droga de efeitos devastadores exportada pela China. Neste ponto, o México se sente alvo maior e, após apelo do Presidente mexicano ao stop na exportação deste produto, abriu investigação.

A Índia é outro país inquieto, pela vizinhança com a China e por sentir desequilíbrios em todo os ramos ou setores mencionados aqui. De fato, a economia mundial, exige novos acordos globais capazes de evitar a lei da selva, num momento de grande mutação tecnológica, acompanhada de inflação e mercados com preços anormais, seja para baixo (como a siderurgia) ou para cima (o cacau).

A entidade vocacionada nesse sentido, a Organização Mundial do Comércio (OMC), sofre de paralisia, portanto, é em bilateral que os grandes eixos são focados, embora nas próximas reuniões do G 20, dirigido pelo Brasil, venham a entrar nas agendas. Em virtude desta função dirigente e interesse imediato na fixação de regras sobre preços nas trocas internacionais, o Brasil não foge aos efeitos das guerras econômicas atuais.

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Jonuel Gonçalves é pesquisador associado no NEA/INEST da UFF (Niterói),ex-professor visitante da Uneb (Salvador) e está à frente do Blog do Jonuel.