Derrotado nas eleições legislativas de 10 de março, marcadas pelo presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, após dissolução do Parlamento (a nona vez em que isso acontece desde a revolução de 25 de abril de 1974), e jogado para a oposição, o Partido Socialista jurou que jamais se aliaria ao vencedor Aliança Democrática, de direita.
Com isso, haveria, em Portugal, um governo de minoria, um risco, porque em outubro terá de ser apresentado um novo orçamento de Estado. Sem a maioria parlamentar para aprovar as contas o governo poderia cair e o país voltar a ter eleições antecipadas, aumentando as chances de o Chega (de extrema-direita e terceira força) chegar ao poder.
Desde 1976, apenas três Gabinetes desse tipo conseguiram chegar ao fim de seus mandatos: a aliança de 2015, quando o Partido Socialista se juntou aos partidos de esquerda (união apelidada de “geringonça”); o primeiro governo de António Guterres, no final dos anos 1990, e o de Carlos César nos Açores, na mesma época.
Nessa quarta-feira (27 de março), a centro-direita e a esquerda se aliaram para isolar o Chega. Acertaram uma liderança rotativa na presidência da casa. O advogado José Pedro Aguiar-Branco foi eleito presidente e, depois de dois anos, renunciará para que o Partido Socialista volte ao poder.
A aliança é insuficiente para varrer os problemas políticos em Portugal. "O novo governo tem muitos problemas para resolver", admitiu o ainda primeiro-ministro António Costa.
E o deputado Francisco César, membro do secretariado nacional do Partido Socialista, deixa claro: "Nem que Cristo desça à Terra o PS apoiará um orçamento da direita".
André Ventura, líder do Chega, acusou a Aliança Democrática e o PS de voltarem a se entender para defender lugares e interesses, “como têm feito ao longo dos últimos 50 anos”. E considerou que seu partido tem, agora, "o papel de líder da oposição".
Os políticos portugueses têm pouco mais de seis meses para desarmar a bomba.
Crescimento do Chega
O Chega, que nega ser de extrema-direita, passou de uma cadeira no Parlamento, em 2019, para 12 em 2022 e 42 agora, tornando-se a terceira força, atrás da Aliança Democrática (coalizão entre o Partido Social Democrata e o Centro Democrático Social - 79 assentos) e do Partido Socialista (77 assentos). Virou o fiel da balança para a governabilidade do país.
Esse crescimento pode se refletir nas eleições europeias de junho. Portugal tem direito a 21 assentos e o Chega tem a chance de emplacar um representante no Parlamento Europeu.
A antecipação das eleições de deputados à Assembleia da República portuguesa se deu após a renúncia do primeiro-ministro António Costa, acusado de prevaricação, corrupção ativa e passiva e tráfico de influência.
Em Portugal, os salários continuam muito baixos, mais de 1,7 milhão de portugueses estão fora dos programas de saúde e uma onda de greves vem paralisando parte da economia. O país sofre com inflação e desemprego.
A crise na economia foi um dos motivos que levaram as últimas eleições a ter o maior comparecimento às urnas em vinte anos. A abstenção ficou em 33,8%. Nas eleições de 2022 tinha sido de 48,5% e, em 2019, a taxa de abstenção tinha sido a mais alta já registrada: 51,4%.