Nordeste

Mais de 285 mil famílias no NE vivem sem um banheiro em casa

Maranhão é o estado com maior quantitativo de domicílios sem banheiro em todo o país

Ter um banheiro com sanitário ligado a uma rede coletora de esgoto ou fossa é um direito básico, mas para 285.389 famílias nordestinas esse cômodo é inexistente. O Maranhão é o estado com o maior número dos domicílios nesta situação, somando 73.751 moradias.

Agência Tatu analisou os dados disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e, para se ter ideia, a quantidade de domicílios sem banheiro no Nordeste é superior ao número de domicílios recenseados do estado do Amapá, de 251.949 segundo o Censo 2022. 

O Nordeste é a região mais afetada do país, tanto em números absolutos quanto em taxa por 100 mil domicílios. Em números proporcionais, a região tem aproximadamente 1.518 famílias sem banheiro a cada 100 mil residências. O Norte tem 1.059, o Centro-oeste registrou 134, o Sudeste 45 e o Sul 38 casas sem banheiro a cada 100 mil domicílios.

O Sudeste, Centro-Oeste e Sul apresentam números totais menores: são 14 mil, 7 mil e 4 mil domicílios sem banheiro ou sanitário, respectivamente.

Rotina desumana

Josivânia da Silva mora com o marido e mais três filhos na comunidade remanescente quilombola Filús, no município de Santana do Mundaú, a 100km de Maceió. A família não tem banheiro em casa. O cômodo até começou a ser construído, mas não foi possível finalizá-lo. 

“Quando precisamos fazer as necessidades, vamos à casa do meu sogro.  Nós começamos aqui a construir o banheiro dentro de casa, mas estamos precisando de vaso, cano e outros materiais que estamos sem condições de comprar. Além da gente, tem mais seis casas por aqui que não têm banheiro”, relata. 

A casa de Vânia, como é chamada, está dentro das estatísticas do IBGE, já que ela respondeu aos questionários do recenseador que esteve na comunidade em 2022. 

O Maranhão é o estado do Brasil com maior número de domicílios sem banheiro ou sanitário. São 73.751 no total e aproximadamente 3 mil a cada 100 mil domicílios. A reportagem questionou ao Governo do Maranhão se existe algum programa com o objetivo de mudar essa realidade, mas até o fechamento desta reportagem não teve retorno.    

Já no cenário das capitais nordestinas, Teresina, no Piauí, se destaca negativamente, liderando o ranking nacional com 1.027 casas sem banheiro a cada 100 mil domicílios. Apesar do estado do Maranhão ocupar a pior colocação, a capital, São Luís, apresenta 937 domicílios na condição de não possuir nenhum banheiro ou sanitário, ficando em segundo lugar entre as capitais nordestinas com maior quantitativo. As duas capitais também estão presentes entre os 50 municípios nordestinos com o pior índice.

Após a publicação da matéria, o Governo do Estado do Maranhão enviou nota, nesta segunda (18), mencionando as ações realizadas para o combate da situação no estado. Confira a nota na íntegra.

“A Secretaria de Estado das Cidades e Desenvolvimento Urbano (Secid) informa que, nos últimos anos, vem realizando ações, especialmente nos municípios com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em que moradias foram entregues com banheiros para as populações de baixa renda. Entre os municípios beneficiados estão Conceição do Lago Açu, Santa Filomena, Amapá do Maranhão, Água Doce, Lagoa Grande, Serrano e Satubinha.

Além disso, mais de 11 mil famílias foram beneficiadas com o programa Cheque Minha Casa, que entregou valores em dinheiro para compra de material para a reforma ou construção de banheiros nos imóveis.

Por fim, a Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (CAEMA) destaca que através de recursos do Governo Federal para o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no eixo Sustentabilidade e Desenvolvimento, vai efetuar ações de saneamento básico em diversos municípios maranhenses que visam, também, a ampliação do acesso da população a este tipo de benefício.”