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Salvador encolhe e agora é menor (em população) do que Fortaleza

Entenda por que Salvador deixou de ser uma atração para moradores

Foto: LEIAMAISba
Salvador: só a beleza natural não basta para atrair moradores

A divulgação dos primeiros dados do Censo 2022 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que as cidades de Salvador, Natal, Belém e Porto Alegre tiveram reduções populacionais acima de 5% nos últimos 12 anos.

A capital baiana perdeu 9,6% de sua população, a maior queda entre as 27 capitais do País, passando de 2.675.656 moradores, em 2010, para 2.418.005 em 2022, ficando atrás de Fortaleza, mesmo com a capital cearense encolhendo 1% no mesmo período.

Embora com percentuais menores, o número de moradores em Belo Horizonte, Recife, Fortaleza e Rio de Janeiro também ficou menor. Ao mesmo tempo, foram registrados aumentos tímidos, abaixo de 2%, em São Paulo e Curitiba, sinalizando uma redução no ritmo do crescimento populacional.

O Produto Interno Bruto (PIB) de Fortaleza cresceu 12,7% em 2023, liderando o crescimento econômico entre as capitais do Nordeste, resultado das políticas públicas adotadas pela prefeitura para aquecer a economia Mais riqueza atrai mais moradores, em busca dos empregos gerados.

Salvador, por sua vez, tem a maior taxa de desemprego entre as capitais brasileiras.

Lauro de Freitas e Camaçari atraem moradores

Segundo Ricardo Ojima, pesquisador do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), os censos anteriores já revelavam que os moradores estavam preferindo as cidades do entorno de Salvador, com destaque para as cidades de Lauro de Freitas e Camaçari.

"A atração da região metropolitana não mais se direciona para sede. Não é só um movimento de população saindo da capital da sede para o seu entorno. Isso também ocorre. Mas as pessoas de cidades menores e de outras localidades que antes migravam para uma região metropolitana procurando a sede, hoje migram se fixando no entorno", observa.

Vários fatores estão levando a essa migração. Um deles é a questão do custo de vida na sede metropolitana, que é mais elevado. O preço do solo é mais elevado. O IPTU, com valor descolado da valorização dos imóveis, assusta. Então se verifica o tradicional movimento de periferização, com a população buscando localidades com menor custo, com habitação de valores mais baixos.

Mas também tem um movimento das camadas de média e alta renda que estão se deslocando em busca de condomínios horizontais fechados nas áreas periféricas. E esses condomínios se expandem nas cidades do entorno.

Esse movimento foi destacado, em 2020, em um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Com base nos dados, os pesquisadores analisaram estilos de vida dos mais ricos e observaram que sua presença como moradores de uma cidade contribui para impulsionar atividades econômicas locais. "Pessoas de maior poder aquisitivo escolhem lugares com melhor qualidade de vida e não seguem apenas critérios econômicos. Até porque onde moram pessoas de alta renda há mercado de trabalho para médicos, advogados ou profissionais liberais em geral", escreveram.

O desenvolvimento de atividades econômicas e serviços nos municípios do entorno das capitais também é destacado por Ricardo Ojima como um outro fator de atração populacional.

"É algo que também está relacionado a uma mudança naquele modelo padrão de cidades-dormitório. Antes, os municípios do entorno serviam basicamente como local de residência e quem morava lá se deslocava diariamente para trabalhar ou estudar nas áreas centrais. Hoje você tem uma complementaridade. Há um desenvolvimento de atividades econômicas e serviços nos municípios do entorno das capitais. Então há novos perfis de moradores para além daqueles que trabalham ou estudam na sede metropolitana".

Nem todas as capitais registraram queda ou aumento tímido no volume de moradores. Em um movimento inverso, Manaus teve um crescimento populacional de 14,5% nos últimos 12 anos. Houve um incremento de 261.533 moradores, a maior variação do país em números absolutos. Taxas robustas de crescimento, acima de 9%, também foram observados por exemplo em Brasília, João Pessoa e Boa Vista. No Centro-Oeste, verificou-se um aumento superior a 10% em Goiânia, Campo Grande e Cuiabá. É a única região do país onde todas as capitais estaduais tiveram aumento populacional.

"Essas cidades do Centro-Oeste ainda têm espaço para uma margem de crescimento acontecer. O avanço do agronegócio é um dos impulsionadores desse desenvolvimento da região e acaba atraindo também a mão de obra de outros tipos de serviços. Mas é importante pontuar que os avanços do agronegócio não são necessariamente nas capitais. Então esse crescimento também se deve a outros fatores. Mas muito provavelmente, num futuro não muito distante, vai acontecer lá o que está acontecendo em outras capitais do país. A população também vai começar a se dirigir para os municípios do entorno", avalia Ricardo Ojima.