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Turismo religioso ajuda a ampliar número de visitantes em Salvador

Todo ano, 5 milhões de pessoas visitam a Bahia em nome da fé

Foto: LEIAMAISba
Igreja do Bonfim, na Colina Sagrada

O verão em Salvador é marcado pelas festas populares, que ocorrem nos largos e ruas da cidade, do começo de dezembro até o fim do Carnaval. Ocorre que, ao mesmo tempo em que muitas pes

soas procuram essas celebrações pela diversão, todas possuem também originalmente um profundo significado religioso e espiritual. É a mistura do sagrado com o profano, eternizada em música, que define tão bem eventos como a Lavagem do Bonfim e a Festa de Iemanjá.

Em razão disso e de tantos outros roteiros religiosos - afinal, Salvador tem mais de 370 igrejas católicas seculares - este tipo de turismo, movido pela espiritualidade, tem atraído cada vez mais adeptos à capital baiana. São visitantes que também aproveitam o primeiro mês do ano para conhecer, por exemplo, o Caminho da Fé e todo o legado deixado por Santa Dulce dos Pobres na cidade.

Caminho da Fé

Em Itapagipe, com 1,1km de extensão, entre os bairros de Roma e Bonfim, o Caminho da Fé tem sido um dos destaques para baianos e turistas. Como diz o ditado, "quem tem fé vai a pé": todos são convidados a caminhar pelo percurso, guiados por 28 totens explicativos.

São 14 referentes à história de Santa Dulce dos Pobres e outros 14 sobre a devoção ao Senhor do Bonfim. Com isso, os visitantes poderão passar pelo Caminho da Fé conhecendo um pouco da história de devoção que proporcionou a esse local específico da capital baiana uma importância religiosa tão grande.

É no Caminho da Fé, inclusive, que fica a Basílica Santuário Senhor do Bonfim, que em toda segunda quinta-feira de cada ano celebra o santo homônimo, atraindo uma multidão à Colina Sagrada, na Cidade Baixa. O cortejo reúne quase 1 milhão de pessoas entre o Comércio, com saída da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia até a Colina Sagrada, finalizando na Igreja do Bonfim.

Seja para agradecer ou amarrar sua fitinha nos gradis da igreja, fazendo os tradicionais pedidos a cada nó dado, a festa reúne manifestações populares e muita música, com boa parte dos fiéis vestidos de branco ou azul. Além disso, no adro da igreja, as baianas lavam as escadarias, em uma cerimônia conjunta com a bênção do Padre Edson Menezes, reitor da basílica.

Sagrado e profano

É em dezembro que começa o ponto alto do turismo religioso. As festividades começam com o dia de Santa Bárbara, ou Iansã no candomblé, em 4 de dezembro. Com os fiéis tradicionalmente trajando vermelho, o dia começa com uma missa na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, seguida de uma procissão pelas ruas do Centro Histórico em direção à Baixa dos Sapateiros.

Em 8 de dezembro, é a vez da padroeira da Bahia, Nossa Senhora Conceição da Praia. A festa religiosa é considerada a mais antiga do Brasil, comemorada desde 1550.

A protetora dos olhos, Santa Luzia, é festejada no dia 13 de dezembro. A festa dela acontece na região do Pilar e acontece desde o século XX.

No dia 27 de janeiro, ocorre a Festa de São Lázaro, em homenagem ao santo católico, mas de forte expressão também no candomblé. Nela, é homenageado o orixá Omolu com lavagem da escadaria da Igreja de São Lázaro, velas acesas e banho de pipoca. A programação inclui missas às 7h, 11h e 17h, todas celebradas no Santuário de São Lázaro e São Roque, na Federação.

No dia 2 de Fevereiro, o Rio Vermelho se enfeita de azul e branco para saudar a Rainha do Mar. É neste dia que baianos e turistas se reúnem para a Festa de Iemanjá. O ponto alto é a entrega dos presentes à orixá em balaios especiais, que são conduzidos ao mar.

E em todo ano, na última quinta-feira antes do Carnaval, a Lavagem de Itapuã faz a festa do bairro homônimo, ainda na madrugada, com o som do Bando Anunciador. A alvorada de fogos anuncia o nascer do sol e a pré-lavagem da escadaria de Nossa Senhora da Conceição de Itapuã pelos moradores do bairro.

Terreiros

Além das igrejas e do Caminho da Fé, os terreiros de Candomblé de Salvador também guardam belezas e atrativos singulares.

Os templos das religiões afro-brasileiras, como candomblé e umbanda, são endereço certo no circuito turístico. Os quase 1,2 mil terreiros estão espalhados por toda a cidade. Destes, pouco mais de 700 são cadastrados pela Secretaria Municipal de Reparação (Semur).

Na lista dos mais visitados, figuram o Ilê Iyá Omi Àse Iyamasé, também conhecido como Terreiro do Gantois, na Federação. Com aproximadamente 3.600 m², o espaço sempre esteve aberto para receber gente de todas as origens e classes sociais. A entrada é gratuita, de terça a sexta-feira das 9h às 12h e das 14h às 17h, e aos sábados das 9h30 às 14h.

Outro destino que atrai turistas é o terreiro Kalè Bokùn, em Plataforma. O templo possui rituais específicos que exaltam o poder ancestral feminino. Além disso, possui um patrimônio ambiental forte, envolvendo fonte, árvores centenárias, além de folhas sagradas.

A casa é referência da memória do babalorixá Severiano Santana Porto, que implantou o templo no Subúrbio Ferroviário, assim como aqueles que deram continuidade ao seu trabalho, como a atual ialorixá Vânia Amaral. O templo está ligado à história do bairro de Plataforma, um dos mais antigos de Salvador, local de grande expressão da população afrodescendente e de concentração de casas de candomblé.

Todo ano, 5 milhões de pessoas visitam a Bahia em nome da fé. E Salvador é o principal destino de toda essa gente.

A movimentação econômica do turismo religioso gira em torno de R$ 1,8 bilhão na Bahia. Isso porque cada turista gasta, em média, R$ 182 por dia. Em âmbito nacional, o turismo religioso é responsável por movimentar R$ 20 milhões de viagens em mais de 300 destinos brasileiros, gerando mais de R$ 15 bilhões por ano e sendo, inclusive, um grande incentivador de pequenos negócios e investimentos. Os dados são do Ministério do Turismo.