O candidato de ultradireita Javier Milei será o futuro presidente da Argentina pelos próximos quatro anos. Com 98,21% das urnas apuradas, ele está matematicamente eleito com 55,75% dos votos, contra 44,24% do candidato governista e atual ministro da Economia, Sergio Massa, a maior vantagem de um candidato a presidente nas eleições recentes na Argentina.
Ao votar no início da tarde, Milei disse que “tudo o que tinha de ser feito já foi feito” e a hora de as pessoas falarem tinha chegado, “apesar da campanha do medo”. O candidato da coalizão La Libertad Avanza disse que o momento era de esperança, para impedir o que chamou de “continuidade da decadência”.
"Hoje começa a reconstrução da Argentina", disse ao ter sua vitória confirmada.
Ele governará um país em frangalhos, com mais de 40% da população na pobreza (11,8 milhões pessoas) e inflação anual beirando os 140%. Desde 1950, a Argentina (terceiro maior parceiro comercial do Brasil, depois de China e Estados Unidos) passou 33% do tempo em recessão, sendo o segundo do mundo de acordo com o Banco Mundial, atrás somente da República Democrática do Congo.
O risco-país, indicador que mede a confiança do investidor (quanto maior, pior) é de 4.177,5 pontos (no Brasil, 157,7 pontos) e a cotação média do dólar, em 2023, atingiu contra 261,94 pesos para US$ 1, enquanto no Brasil está em R$ 5,01 por unidade da moeda norte-americana..
Quem é Milei
Economista, Milei se caracteriza por ser um candidato antissistema num país abalado por uma grave crise econômica, onde a inflação chegou a 142,7% nos 12 meses terminados em outubro. Ele promete dolarizar a economia e extinguir o Banco Central argentino para acabar com a inflação, mas amenizou outras promessas no segundo turno, prometendo não privatizar a saúde e as escolas públicas.
Alçado à fama como comentarista econômico em programas de televisão, Milei se diz amante de cães e, segundo a mídia argentina, tem vários clones de um cachorro que viveu de 2004 a 2017. Embora tenha se aliado a políticos da direita tradicional no segundo turno, como o ex-presidente Mauricio Macri e a candidata derrotada Patricia Bullrich, o candidato vencedor atraiu o voto sobretudo dos mais jovens ao se posicionar contra aos políticos tradicionais, que chama de “a casta”.
Durante a campanha, Milei foi comparado a políticos antissistema como o ex-presidente norte-americano Donald Trump e o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro. O futuro presidente argentino define-se como libertário e anarcocapitalista e declarou-se defensor de ideias como a comercialização de órgãos e a livre venda de armas. Durante o segundo turno, criticou o Papa Francisco, a quem chamou de comunista.
Lula deseja sorte
Pelas redes sociais, antes mesmo da confirmação da vitória de Milei, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva parabenizou as instituições argentinas pela condução do processo eleitoral, bem como ao povo argentino pela participação "de forma ordeira e pacífica".
Ainda sem saber quem seria o vencedor, Lula desejou sorte ao próximo governo. "Desejo boa sorte e êxito ao novo governo. A Argentina é um grande país e merece todo o nosso respeito. O Brasil sempre estará à disposição para trabalhar junto com nossos irmãos argentinos". O presidente brasileiro ainda não se manifestou após a confirmação do resultado no país vizinho.
Parlamentares brasileiras de esquerda lamentaram o resultado das eleições na Argentina. O deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP) falou em "repetição de uma tragédia", enquanto o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) viu na vitória de Milei um "alerta" para o Brasil. Para ele, "o avanço da extrema-direita é uma realidade em todo o mundo".
Por outro lado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e parlamentares do seu campo político parabenizaram a vitória do candidato de extrema direita."A esperança volta a brilhar na América do Sul", considerou o ex-presidente brasileiro.
Nos Estados Unidos, o ex-presidente Donald Trump, publicou uma mensagem endereçada a Milei: "Você mudará seu país e realmente tornará a Argentina grande novamente”.