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Irã à frente de Direitos Humanos desmoraliza a ONU de uma vez

Ação é reveladora da inutilidade em que se transformaram as Nações Unidas

Foto: Aslan Arfa | Unicef
Uma garota vestindo seu hijab, no Irã

O Irã foi designado pela ONU para presidir o Fórum Social do Conselho de Direitos Humanos, em Genebra. A decisão desmoraliza as Nações Unidas e é reveladora da inutilidade em que se transformou. Isso porque sua missão fundamental é defender o respeito à Declaração Universal dos Direitos Humanos, rotineiramente desprezada pelo Irã, segundo a própria ONU.

Ainda em julho deste ano um relatório da ONU escancarava as violações promovidas pelo regime autoritário do Irã. Estudantes são suspensas de aulas ou banidas de dormitórios por desafiarem a lei de uso obrigatório do véu, enquanto empresas são multadas ou fechadas por falta de adesão.

A adolescente Armita Garawand, de 16 anos de idade foi uma das vítimas da "polícia de costumes" do país. Acusada de usar o hijab (véu que esconde os cabelos) de forma errada, foi espancada até ficar desacordada no metrô. No dia 22 de outubro foi decretada a sua morte cerebral.

No mesmo dia o Irã condenou a 20 anos de prisão duas jornalistas: Niloofar Hamedi e Elaheh Mohammadi, acusadas de agir contra a segurança nacional porque noticiaram o assassinato da jovem Mahsa Amini em 2022, também assassinada pela polícia de costumes por um problema com o uso do hijab.

O Irã usa tecnologias de reconhecimento facial para identificar e prender mulheres e meninas que não cumprem essas leis, que a ONU qualifica de "fundamentalmente discriminatórias". O tema do Fórum de Genebra, sob a presidência do Irã, é “contribuição da ciência, tecnologia e inovação para a promoção dos direitos humanos, incluindo o contexto da recuperação pós-pandemia”

Dificilmente se poderia imaginar situação mais clara do que se transformou esse organismo.

A ativista dos direitos das mulheres presas e contra a pena de morte, Narges Mohammadi, está detida, o que "viola suas obrigações sob o direito internacional dos direitos humanos". A frase é da ONU, que continua: “É profundamente lamentável que, apesar dos apelos da ONU e da comunidade internacional, as autoridades iranianas continuem a criminalizar Narges Mohammadi pelo seu trabalho em defesa dos direitos humanos”.

A declaração foi feita no dia 11 de outubro. Menos de um mês depois a ONU escolhe o Irã para presidir o fórum que tratará de direitos humanos.

Em dezembro do ano passado 29 países votaram pela exclusão do Irã da Comissão sobre o Estatuto da Mulher, nas Nações Unidas, porque o governo iraniano governo estava “minando e reprimindo, de forma crescente, os direitos humanos de mulheres e meninas, além de usar da força excessiva”. A presença do Irã, como membro, foi considera “uma mancha” na Comissão.

Estabelecida em 1946, a Comissão sobre o Estatuto da Mulher promove os direitos femininos, documentando a realidade de padrões globais sobre igualdade de gênero e autonomia das mulheres.

Agora, para a ONU, o Irã tem autoridade e moral para presidir um fórum sobre direitos humanos.