Desde que comecei a acompanhar cinema com mais afinco, eu ouço vez ou outra que alguém salvou o cinema, que algum filme salvou Hollywood. E eu nem sabia que ele estava em perigo. Recentemente isso aconteceu mais uma vez, e agora com gente importante falando isso. Steven Spielberg abraçou Tom Cruise na cerimônia de indicados ao Óscar e disse, olhando nos olhos do maior astro do cinema atual: “Você salvou o traseiro de Hollywood. Você pode ter salvado toda a indústria das salas de cinema.”
Se eu fosse o Thomas Cruise, sentiria o peso da responsabilidade, além de ouvir uma afirmação tão poderosa, ela veio de um dos diretores mais aclamado da atualidade. E ele estava se referindo à “Top Gun – Maverick” (Disponível no Paramount Plus e que foi o primeiro filme a bater a casa de 1 bilhão de dólares após a pandemia). Mas... o que isso significa? Recentemente, no festival de Cannes, que aconteceu entre 16 e 27 de maio de 2023, onde foi lançado o novo filme “Killers Of The Flower Moon”, o jornalista Roberto Sadovsky, um dos críticos mais antigos do Brasil e editor da saudosa revista SET, escreveu que Scorcese iria salvar o cinema, ou melhor, a experiência de ir ao cinema.
Toda vez que o home vídeo aparece com alguma novidade, deixando o hábito de ver filme em casa mais atrativo, o cinema tem que correr atrás e se reinventar. Foi assim com a popularização da TV, depois do vídeo cassete, do DVD, do Blu-ray e agora, a superoferta dos streamings, despejando milhares de opções (e conteúdo exclusivo) no conforto do lar. Para que ir ao cinema? Como evitar essa dicotomia de extremos entre o cinema comercial raso e o chamado “cinema bistrô” (pequenas salas de circuito alternativo).
Acredito que ainda existem grandes soldados nessa batalha de fazer a experiência da tela grande insubstituível. O primeiro é a tecnologia, com som cada vez mais potente e cristalino e imagem difícil de ser reproduzida em casa. Depois, a “solenidade” da programação. O filme é o protagonista do momento (em casa podem acontecer mil interrupções). Mas, nada disso bastaria se não fossem desenvolvidos conteúdos que fossem mais bem digeridos no escurinho do cinema.
Aí que entram os “salvadores”. Alguns astros ainda fazem conteúdo com esse fim, que usam a linguagem cinematográfica para explorar sensações, reflexões, emoções. O cinema espetáculo está aí, está em alta, como um parque de diversões (palavras do próprio Martin Scorsese), porém para um longa ser algo com alma e causar todos esses sentimentos, algo mais é necessário, além de carros, explosões e super-heróis. Não que isso seja ruim, tem espaço para tudo, mas precisamos dessa turma que fez e ainda faz história com grandes produções e que arrebatam mentes e corações. Para cada “Transformer” ou “Velozes e Furiosos” lançado, queremos um Tarantino ou um James Cameron preenchendo as lacunas e garantindo a pluralidade que é essa arte de fazer filmes.
Durante a pandemia, os cinemas ficaram fechados e, ao retornar, tudo ainda era duvidoso, já que as plataformas de streaming se proliferaram e garantiram o acesso de muitos aos filmes. Foi aí que Tom Cruise lançou “Top Gun Maverick” e lembrou a todos o quão divertido é ir ao cinema e, melhor ainda, como é bom ver um filme com capricho e esmero técnico se aliar a uma boa história. E já já ele volta, 13 de Julho estreia “Missão Impossível: Acerto de contas. Parte 1” e o de Scorsese “Killer Of The Flower Moon” chega em outubro. Não que ele precise ser salvo, mas... vamos ao cinema!