No primeiro encontro internacional de seu terceiro mandato à frente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quer uma América do Sul mais forte, em um cenário global onde os choques econômicos e políticos causados pela guerra na Ucrânia redesenham as alianças e abrem novos espaços, a partir do acordo comercial UE-Mercosul.
Um encontro marcado para esta terça-feira (30 de maio), em Brasília, e voltado para os países da região, é visto pelos observadores como um teste de prova sobre a capacidade de liderança do presidente progressista, depois de anos de isolamento do Brasil na época do conservador Jair Bolsonaro.
As manchetes do encontro evidenciam a vontade geral de retomar o diálogo na região e de buscar uma agenda concreta de cooperação em setores como infraestrutura, saúde e luta contra o crime organizado.
Enquanto no longo prazo, as relações dos 11 líderes que aceitaram o convite, será sobre a possibilidade de criar um novo órgão em substituição à União das Nações Sul-Americanas (Unasul) ou a revitalização dessa instituição, que foi promovida por Hugo Chávez para combater a influência dos Estados Unidos na região.
Passagens pensadas para atingir uma maior integração entre os países dessa área do mundo, agora liderados em sua maioria por Executivos de esquerda ou centro-esquerda, em vista da presidência do G20, que o Brasil assumirá em dezembro. Mas, também em perspectiva para a COP30, que será sediada em Belém, no Pará, em 2025, um resultado obtido também graças ao apoio recebido dos países sul-americanos.
Como pano de fundo, continua ainda o sonho cultivado pelo líder brasileiro de uma moeda regional comum, para ser usado em paralelo às moedas nacionais, para reforçar comércios e reduzir a dependência do dólar americano.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, recebido por Lula para uma reunião bilateral no Planalto, está entre os primeiros chefes de Estado e governo a chegar a Brasília. Uma volta que marca a retomada das relações entre os dois países depois do gelo da era Bolsonaro.
Durante o encontro, que viu a assinatura de alguns acordos, falou-se da retomada do diálogo com a oposição em Caracas em vista das eleições de 2024. Mas, também discutiu-se dossiês econômicos, depois que a Venezuela - afetada por uma inflação que supera 300% - pediu para abrir uma negociação, oferecendo ao Brasil saldar as próprias dívidas com eletricidade e petróleo.
E não está excluído que os dois líderes debatam também sobre o confronto da Ucrânia, com Maduro que recentemente declarou apoio às iniciativas de mediação promovidas pelo presidente brasileiro e pelo chinês, Xi Jinping
Durante o encontro com o presidente venezuelano Nicolás Maduro nesta segunda-feira (29), o mandatário brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que defende o acordo entre a União Europeia e o Mercosul, mas advertiu que o Brasil não aceita ceder no quesito das compras governamentais para empresas locais.
"Lutei muito para fechar o acordo do Mercosul com a UE", disse Lula. No entanto, "há um problema", uma vez que os representantes da UE estão interessados em participar das compras do Estado brasileiro.
Continuando seu argumento, ele lembrou que na semana passada aconteceu "uma reunião na Fiesp [Federação das Indústrias de São Paulo] na qual discutiram que o Brasil não pode entregar as compras governamentais à UE".
"Se entregarmos as compras, o que restará para as pequenas e médias empresas brasileiras?", questionou o mandatário brasileiro.
"Se estivermos juntos, teremos força no processo de negociação com a UE. Se formarmos um bloco, poderemos negociar com possibilidade de ganhar", acrescentou.
"Não é possível imaginar que um país da América do Sul possa resolver sozinho seus graves problemas que já duram mais de 500 anos", concluiu.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou nesta segunda-feira (29) que é favorável à entrada da Venezuela nos Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Em coletiva de imprensa conjunta com o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, em Brasília, Lula foi questionado se apoiaria a inclusão de Caracas no grupo de nações emergentes.
"Nós vamos discutir, porque não depende da vontade do Brasil, depende da vontade de todos. Se houver um pedido oficial, esse pedido será levado para os Brics, e lá nós decidiremos.
Se você perguntar a minha vontade, eu sou favorável", acrescentou Lula.