Jolivaldo Freitas

Carta de Papai Noel ao prefeito da Cidade da Bahia

Prefeito, não sei se o senhor tem religião

Caro prefeito, desculpe não enviar email e nem zap-zap.  Seu assistente é igual aos meus duendes: todo desconfiado e achou que era “trote” (ainda existe isso?), brincadeira ou mais um maluco querendo abusar e desligou na cara, sem dar tempo de se fazer o pedido de seus contatos telefônicos e internéticos. Daí decidi mandar uma cartinha.

Olha que procurei os Correios para passar um telegrama e me chamaram de velho caduco e criticaram minha roupa vermelha (me chamaram de comunista) e questionaram o que eu fazia trajando um vestuário com pompons e num calor dos infernos (desculpe a má palavra) que se faz em Salvador, até quando está chovendo, e olha que Salvador, ao contrário do que diz o apelo turístico, chove quase todo dia.

Prefeito, não sei se o senhor tem religião e qual religião caso tenha, se o senhor acredita mesmo no espírito do Natal ou mesmo se vossa excelência é daqueles que acham que eu, o Papai Noel “roubou” a festa que devia ser de Jesus. Que eu ofusco sua pessoa. Também como saber se quem deveria dar os presentes para as crianças seriam só Reis Magos, que foram os primeiros que levaram mirra, ouro e incenso para o pequeno  Jesus na manjedoura (e nem eu mesmo sei para que serve a mirra e se vossência souber me diga, que tem sempre alguém de perguntando e eu mando que perguntem a Belchior, Balthazar e Gaspar).

Não vou ficar aqui fazendo “nariz-de-cera”, bastam as narinas das minhas renas que escorrem o tempo todo por causa do bafo quente no frio onde moro. Mas caro alcaide, andei pela cidade observando a iluminação de Natal. Uma belezura a localizada no Campo Grande. Bonita mesmo. A árvore de Natal estava supimpa. Entretanto fiquei triste por causa do resto da cidade.

Tirante os pontos onde foram montadas as árvores, era tudo de uma pobreza franciscana. Entendo que deve ser grande a inadimplência com o IPTU (que aliás está, digamos, um pouquinho salgado segundo pedidos que recebi no Natal para que eu desse de presente um PPI ou anistia). Mas, digamos, sem querer entrar no seu mérito, talvez, de arrecadação, que pode estar minguada face às crises que o país atravessa, bem que podia ser um pouco melhor. Senão vejamos:

1 – Não pretendo que Salvador (olha só, cidade de Jesus, o homem do Natal a quem prezo muito), venha a ser em termos de decoração uma Nova Iorque em que todas a árvores brilham e rebrilham de luzinhas. Cada street é um flash e haja corais, bares piscantes e alegres, restaurantes temáticos e até as paredes das residências e casas comerciais mostram que é tempo de alegria e de festejar:

2 – Não, não quero que essa velha Cidade da Bahia se arvore a ser Londres, onde a decoração é tão bela intensa que os anjos parecem descer do céu com suas asas iluminadas por leds claros enquanto luzes coloridas fazem um imenso corredor (lembrei até do correr de bambus da entrada do aeroporto da vossa cidade);

3 – Nunca que iria pedir que a capital da Bahia fosse estar no mesmo padrão de Paris, por que se ela é chamada de Cidade Luz (que muita gente acha que é por causa das luzes sem saber que a luz se refere à iluminação da inteligência e da cultura e da ciência iluminada) não dá para competir, imagine;

4 – Sequer vou argumentar que essa urbe que administras tem de correr para obter a qualidade da decoração e iluminação das avenidas de Madri (este ano que passou a Gran Via estava que era um luxo só... ) coisa de arte e primor que até os expressionistas assinariam embaixo. Não peço que Salvador coloque as cinco milhões de lâmpadas que usaram lá na capital espanhola. Peço apenas:

A – Se tem de iluminar a avenida Sete de Setembro para ser caminho do Campo Grande ao Pelourinho, tem de colocar atrações à noite na Praça da Piedade, no São Pedro e na Castro Alves.

B – O Pelourinho tem de ser melhor iluminado. Cada casa daquelas permite uma iluminação na fachada;

C – As avenidas principais foram iluminadas, mas sua equipe que cuida da iluminação foi sovina (acredito que deve ser culpa da Neoenergia/Coelba que não deve dar refresco na cobrança da conta da Prefeitura pois essa Coelba é danada de gulosa, o que é pecado, diga-se de passagem);

D – Até a iluminação da avenida Centenário ficou pobre. Postes iluminados, mas as árvores que dão charme ficaram órfãs das luzinhas e das lágrimas pendentes. O Porto da Barra... A Suburbana... Águas Claras...

Posso sugerir sem que sua excelência se ofenda? Aqui vai:

- Vislumbre aí como ficaria lindíssimo o Corredor da Vitória com aqueles pés de oitis iluminados como se fosse um grande e infinito túnel de luz. Fale com o pároco da Igreja da Vitória para dar uma ajudazinha e fazer um grande presépio;

- Vislumbre aí o bambuzal do aeroporto todo iluminado;

- Vislumbre aí todas as árvores do dique; a ladeira de São Caetano, toda a Paralela (o povo de Alphaville deu um show neste Natal); a Orla; a avenida Suburbana.

Por último, pedindo desculpa pela ousadia de me imiscuir em sua vida que sei deve ser muito atribulada, vez que dos mais de 3 milhões de habitantes da cidade com certeza boa parte odeia o Natal e quem gosta tem sempre uma ideia para sugerir, vou sugerir que no Natal de 2023 faça todo mundo mais alegre e feliz.

Que tal organizar um “Desfile de Natal”? Conclame os grupos culturais, os produtores, os empresários, os lojistas, o povo da rede hoteleira, Uber, 99, associações de restaurantes e tantos outros. Faça no Bonocô, na Paralela, na Centenário ou..... adivinhe.... na Avenida Sete.... ou na avenida da França. Faça bonito que estou de olho. Comece a programar já para depois vir dizer que não deu tempo. Olha que estou de visão em seu sapatinho. Aguardo sua cartinha de resposta.

Atenciosamente, Noel

OBS: Gramado faz um Natal com sucesso de público e arrecadação de impostos.