Manchas de óleo chegaram ao litoral nordestino, em 2019, contaminando vegetais e animais marinhos e deixando comunidades de pescadores e marisqueiros sem sustento. Em meio à pandemia, em 2020, queimadas destruíram a fauna e a flora da Chapada Diamantina, provocando prejuízos ambientais e econômicos para a região.
O artista visual Mateus Morbeck percorreu mais de 50 localidades do estado para relatar essas catástrofes ambientais. Fotografou, coletou materiais e produziu trabalhos que unem arte e denúncia. As obras integram sua primeira individual: É tudo depois. A exposição foi aberta no último sábado, dia 26 de novembro, e prossegue até o dia 17 de dezembro, em A Galeria, no Ativa Atelier Livre, no Rio Vermelho.
A produção artística de Mateus Morbeck busca estimular a reflexão sobre as consequências das ações humanas. “Meu trabalho acaba orbitando nesta relação entre humanidade e meio ambiente. Busco provocar uma reflexão neste sentido. É uma questão que vai além da ambiental, é uma questão realmente de sobrevivência da nossa espécie”, pontua o artista que possui trabalhos nas coleções do Mediterraneum Collection, em Catânia, na Itália, e do Museu da Fotografia de Fortaleza, no Ceará, e é autor do livro Maré de agosto, publicação que aborda o derramamento de óleo no litoral do Nordeste e que foi editada por meio do Ativa Atelier Livre, com recursos do Prêmio das Artes Jorge Portugal, no âmbito do Programa Aldir Blanc Bahia.
Com curadoria conjunta dos artistas visuais Fábio Gatti e Lanussi Pasquali, a exposição É tudo depois é composta por trabalhos que têm uma relação com eventos locais e tragédias ambientais globais. “A exposição é um franco convite a uma reflexão conjunta sobre os modos de vida; os imperativos de poder e suas reverberações. Quanto futuro o dinheiro pode comprar?”, pergunta Fábio Gatti. “Mateus Morbeck usa a arte como instrumento de crítica com vistas a um desejo de manutenção da vida”, acrescenta Lanussi Pasquali.
A exposição É tudo depois é formada por cinco obras, entre fotografias e instalações com materiais coletados nas regiões das catástrofes ambientais. Três trabalhos foram produzidos a partir das queimadas no Parque Nacional da Chapada Diamantina. A instalação homônima É tudo depois apresenta uma folha carbonizada em um espaço amplo e vazio. Era escuro, depois chão é também uma instalação criada a partir de peças metálicas encontradas nas cinzas. Já Amanhã também foi assim é uma imagem produzida com a sobreposição de camadas de fotografias das áreas destruídas pelas queimadas florestais.
A mostra possui ainda dois trabalhos realizados a partir do derramamento de óleo no litoral nordestino. Nem tudo é mar é uma monotipia produzida a partir da submersão de tecidos nas águas contaminadas com petróleo cru. Meia água é outra monotipia também obtida a partir de submersão nos locais contaminados pelo óleo, mas tendo o papel para aquarela como suporte. “A intenção é sensibilizar as pessoas para uma reflexão e fazer com que o trabalho circule para que as catástrofes não sejam esquecidas”, reforça o artista.
Arquiteto, graduado pela Universidade Federal da Bahia em 2006, Mateus Morbeck começou a atuar com fotografia em 2017. Em 2019, iniciou uma aproximação maior com as artes visuais. Atualmente, seu trabalho transita por aspectos que consideram desde elementos pontuais até eventos de impacto global. A apropriação das tecnologias, antigas e atuais, tem papel fundamental em sua busca processual e metodológica. Somente este ano, o artista já participou de três coletivas internacionais – MED Photo Fest, em Catânia, Itália; e NFT Show Europa, em Valência, Espanha; e Rotterdam Photo, Rotterdam, Holanda –; e três nacionais – FestFoto, na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre; Festival Photothings, em São Paulo; e Festival de Fotografia de Tiradentes – Foto em Pauta, em Tiradentes, Minas Gerais.
Exposição: É tudo depois
Artista: Mateus Morbeck
Local: A Galeria, no Ativa Atelier Livre, rua Tupinambás, 423, Rio Vermelho
Abertura: 26 de novembro de 2022, às 16 horas
Período: 26 de novembro de 2022 até 17 de dezembro de 2022