Bahia / Economia

Varejo baiano espera faturar quase R$ 50 milhões na Copa do Mundo

O ramo de móveis e eletrodomésticos, deverá responder por 34% do faturamento

Foto: Pixabay/Creative Commons
A venda de aparelhos de TV aquece o setor

A CNC – Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo divulgou a expectativa de R$ 1,48 bilhão em vendas no Brasil relacionadas diretamente à Copa do Mundo de 2022. Desse montante, R$49,30 mi se refere ao varejo baiano, o maior faturamento previsto entre os estados do Nordeste. O mundial do futebol começa no dia 20/11, no Catar.

No contexto nacional, o percentual é de 7,9% acima do volume registrado na Copa de 2018, que ocorreu na Rússia e movimentou R$ 1,37 bi. A maior projeção de vendas está no ramo de móveis e eletrodomésticos, registrando R$ 535,5 milhões, seguido dos eletroeletrônicos e artigos pessoais, com R$ 332,6 milhões.

A taxa média de juros atual das operações com recursos livres aos consumidores, que hoje é de 53,93% ao ano, se encontra no patamar mais elevado desde abril de 2018, quando atingiu 56,27%. Já a taxa de câmbio do dólar em relação ao real variou negativamente 7,8% desde o início do ano.

Isso, conforme o presidente da CNC, José Roberto Tadros, é um dos fatores que explicam a projeção conservadora sobre o volume de vendas. “A Copa do Mundo vem depois de um período de pandemia que trouxe reflexos profundos ao varejo, que está retomando os volumes de venda e, nesse sentido, esse crescimento deve ser comemorado”, afirma o presidente.

De olho na telona – Em setembro, faltando dois meses para o Mundial, houve aumento de 6,7% na pesquisa por smart TVs em lojas on-line, em comparação com agosto. Antes do campeonato de 2014, realizado no Brasil, as buscas foram 6,3% maiores e, em 2018, cresceram 5,3%.

Um dos fatores apontados pelo economista da CNC responsável pela apuração, Fabio Bentes, é que os consumidores pensam em aproveitar a queda dos preços desses equipamentos que, segundo o IPCA, reduziram 3,2% de janeiro a agosto deste ano.

“A busca na internet costuma acelerar três meses antes do Mundial e, neste ano, como o campeonato será realizado a menos de uma semana da Black Friday, as compras devem ocorrer mais perto do próprio evento”, avalia Bentes.

A redução dos preços persistiu em setembro, provocada principalmente pelos televisores com telas pequenas e intermediárias. Os preços das TVs entre 40” e 49” caíram 5,8% de abril deste ano até agora, passando de R$ 1.963 para R$ 1.849, em média.

Uma redução um pouco menos expressiva também é observada nas TVs com telas até 39”: 4,8% menor (R$ 1.103 contra R$ 1.159). Apenas os modelos com telas superiores a 50” apresentaram aumento, de R$ 2.413 em abril para R$ 2.526 em setembro, o que representa 4,7% a mais.

No terceiro trimestre deste ano, a importação de smart TVs mais que triplicou em relação ao mesmo período do ano passado – foram USD 2,41 milhões. “O varejo está investindo na Copa do Mundo, e este é um fenômeno típico desse tipo de momento”, aponta Bentes. Os três estados que devem apresentar o maior volume de vendas estão na Região Sudeste: São Paulo, com estimativa de R$ 516,7 milhões, Minas Gerais, com volume previsto de R$ 141,2 milhões, e Rio de Janeiro, onde devem ser movimentados R$ 139,8 milhões.

Consumo em Salvador

O ICF – Índice de Intenção de Consumo das Famílias, elaborado mensalmente pela Fecomércio-BA, apontou o quinto crescimento consecutivo. Em setembro, o avanço foi de 1,1%, ao passar dos 88,3 pontos em agosto para os 89,3 pontos desta última coleta. Na comparação com o mesmo período de 2021, a elevação foi de 15,7%, quando naquele mês o indicador foi de 77,2 pontos.

O ICF varia de 0 a 200 pontos. Entre 0 e 100 pontos é considerado um nível de insatisfação com as condições econômicas. Já o intervalo de 100 a 200 pontos aponta nível de satisfação. Quanto mais próximo dos extremos, 0 e 200, maior o sentimento é pessimista/otimista.

“As famílias de Salvador vão recuperando gradativamente as suas condições econômicas de forma que consigam aumentar a capacidade de consumo. Em relação ao ano passado, o que mais chama a atenção na pesquisa é a melhora na perspectiva profissional que quase dobrou, subiu 96,8%, ao passar de 59,9 pontos para os atuais 117,8 pontos, ou seja, a maioria dos entrevistados consideram que deve haver uma melhora profissional para o responsável pelo domicílio nos próximos 6 meses”, analisa o consultor econômico da Fecomércio-BA, Guilherme Dietze.

O item Emprego Atual atingiu 114,3 pontos, alta de 35,5% no contraponto anual. O recuo de 1,4% no comparativo mensal não preocupa, pois veio de duas altas seguidas.

“Os dados oficiais de emprego, do CAGED, comprovam que houve um ambiente mais favorável para geração de empregos. Tanto que ao longo deste ano foram abertas pouco mais de 30 mil vagas formais na capital baiana em todos os setores da economia. E se tem mais emprego, é natural que melhore o nível de satisfação com a renda”, esclarece Dietze.

O item Renda Atual atingiu 99,3 pontos, o maior nível desde abril de 2020. Na comparação com setembro de 2021, houve aumento de 11,8% e 1,7% no contraponto mensal. Para o economista, “o avanço só não foi maior por conta da inflação alta que pesou este ano. Porém, com os preços começando a ceder, a tendência é que o item volte e se mantenha no patamar de satisfação nos próximos meses”.

O item Nível de Consumo Atual caiu 11,3% em relação a setembro de 2021 e volta aos 64,3 pontos. “Porém, quando o consumidor observa o cenário de médio prazo, nos próximos meses, há uma relativa melhora. O item Perspectiva de Consumo cresceu 13,4% ao passar de 87,1 pontos no mês de 2021 para os atuais 98,8 pontos”, destaca Dietze.

Outro ponto importante e que é um limitador de gastos é o aumento dos juros. O item Acesso a Crédito, por exemplo, caiu 4,5% na comparação anual e retorna aos 93,5 pontos. Há maior restrição na oferta de crédito neste ano em relação ao mesmo período do ano passado, não só pelo encarecimento dos empréstimos, mas pelo maior risco de inadimplência.

Nesse cenário, a lógica também leva ao raciocínio das famílias não considerarem um bom momento para compras de bens mais caros, como geladeira, fogão, televisor etc. O item Momento para Duráveis está com 37 pontos, queda anual de 25,5%. Esse é o pior patamar desde maio do ano passado, com 8 a cada 10 famílias dizendo ser um mau momento para aquisições desses tipos de produtos.

E na análise por faixa de renda, a maior variação foi para o grupo de famílias que ganha abaixo de 10 salários-mínimos, de 17,6% contra 3% do grupo de renda mais alta. No entanto, a pontuação ainda está bem diferente entre as faixas, com 86,1 pontos para o estrato mais baixo de renda e 123,4 pontos para o segundo.

“De forma geral, os números vão de acordo com o cenário que a Fecomércio-BA tem traçado. Está havendo uma melhora nítida no emprego e que ajuda a recompor o poder de compra das famílias. Contudo, com os juros altos e o nível de inadimplência no maior patamar histórico, dificulta a transição, ou seja, do ganho de renda virar consumo na veia na economia” pontua o consultor econômico da Federação, Guilherme Dietze.