Aqui estou, somente eu, sentado no húmus da minha origem numa pequena reserva de Mata Atlântica. Afastei-me por um pequeno tempo do convívio saudável da família, da minha inserção eclesial com seus ritos e normas, da minha vocação missionária, da opção pelos pobres, e mergulhei "no som do silêncio" da natureza.
Os sentidos ficam mais aguçados e sinto a umidade e o odor da terra e do ar. Escuto o estridente som das cigarras e o zunido dos insetos, a musicalidade dos pássaros e o sussurrar da brisa nas folhagens, e ao longe a batida contínua das águas sobre as pedras.
Tudo é movimento, tudo fala, grita, canta e dança "no som do silêncio" da natureza.
Lembrei- me dos místicos ligados à mãe terra extasiados com os sons do silêncio.
É a ciranda da vida que acorda, se espreguiça e se agita em busca de alimento e acasalamento para, depois, recolher-se em seus ninhos e tocas, dando lugar à mesma ciranda noturna.
Busquei silêncio e eis que tudo fala, canta e dança pois a natureza é viva, é um borbulhar de vida.
Agora entendo que não é o silêncio sepulcral que buscamos, mas ouvir vozes, gritos, cantos e danças que nos remetam à nossa origem, à harmonia que perdemos.
Por instantes sinto-me inserido na natureza como Adão, nú e só, no Éden original. Até que percebi algo além da ciranda (transcendência), um rumor de uma Presença permeando tudo, a Causa de tanta ordem e beleza, a Fonte que dá vida àquele jardim, a Brisa que gera todo movimento. O Criador passeando, tocando, cheirando, admirando e dizendo para mim: tudo é bom, belo e harmonioso, aprenda a cuidar.