O Itaú Cultural disponibiliza a partir do dia 25 de outubro (terça-feira), em www.livrosdeartista.itaucultural.org.br, a exposição virtual Livros de Artista na Coleção Itaú Cultural, que permite ao público o acesso a um acervo cuja produção revela como a participação e invenção artística traçam fronteiras com a literatura e o design.
Agora, transcendendo também os limites espaciais de uma exposição física e usando recursos imersivos e interativos, a mostra traz uma nova curadoria de Felipe Scovino e dos Núcleos de Artes Visuais e Acervo do Itaú Cultural para este, com 23 trabalhos de 16 artistas. Alguns deles são: Julio Plaza e Augusto de Campos, Rosângela Rennó, Brígida Baltar, Waltercio Caldas, Aline Motta, Marilá Dardot e Artur Barrio – este, autor de Caderno livro e Uma extensão no tempo, que deram início a esta coleção, em 1999.
Permitindo ao público o contato com esta expressão artística de conceito tão vasto e diverso – indo desde o livro-objeto até os poemas concretos –, a mostra apresenta pela primeira vez esse acervo de forma virtual. Anteriormente, outros recortes foram mostrados na exposição Narrativas em processo: livros de artista na Coleção Itaú Cultural, que a partir de 2016 passou a itinerar pelo Brasil.
Neste novo formato, disponível para o público na versão desktop e mobile por tempo indeterminado, a exposição virtual permite ao visitante ultrapassar os limites do livro como objeto artístico. Nela, as obras são vistas em imagens em alta resolução, recursos como superzoom e flipbook, em audiovisuais com manipulação dos livros, vídeos stop motion, depoimentos e áudios, para que os detalhes de composição das obras possam ser apreciados, ao contrário do que aconteceria em uma exposição das peças em vitrines.
Além da estética visual de cada trabalho, ficam disponíveis, ainda, links para verbetes da Enciclopédia Itaú Cultural sobre as obras e o autor do trabalho, além de aspas do curador Felipe Scovino sobre o artista. O site conta também com recursos de acessibilidade, como handtalk – plataforma de interpretação automática para Língua Brasileira de Sinais – e depoimentos de artistas com Libras.
Passo a passo
Ao entrar virtualmente em Livros de Artista na Coleção Itaú Cultural, o visitante pode navegar pelas páginas da exposição explorando a diversidade de materiais e técnicas que compõem um livro de artista através dos diferentes núcleos.
Na mostra, este recorte do acervo de livros de artistas está dividido em quatro seções: O Início da História, A Palavra em Suspenso, Um Lance de Dados e Livro-Carne. Com um perfil histórico, a proposta dessa divisão é investigar modelos para o suporte livro de artista no Brasil, desde os poetas concretistas, pioneiros na construção dos livros-objetos, até experiências mais recentes.
A seção O Início da História reúne o conjunto de livros mais antigos da Coleção Itaú Cultura, e aponta diferentes perspectivas acerca do conceito de livro de artista. Assim, homenageia os pioneiros dos livros-objetos no Brasil e sua intersecção direta com a poesia concreta, além de dar luz a clubes de gravura.
Nesta aba estão trabalhos como Pequena Bíblia de Raimundo de Oliveira (1966), com ilustração de Raimundo de Oliveira e texto de Jorge Amado. Também a integram três obras assinadas em parceria por Julio Plaza e Augusto de Campos: Objeto (1969), o vídeo manipulação de Muda Luz (1970) e o stopmotion Caixa Preta (1975).
Já na seção A Palavra em Suspenso, o livro se apresenta com a ausência da palavra. A partir de então, o que se coloca como experiência nesses trabalhos é a possibilidade de acessá-los pelo toque, reflexo e imaginação. O livro passa a ser também é o lugar da convergência de múltiplas temporalidades.
Um dos exemplos é Balada (1995), de Nuno Ramos, livro espesso, de capa dura e sem palavras, com uma perfuração profunda transpassando-o brutalmente, do começo ao fim, servindo como o único signo de leitura da obra. Devaneio-Utopias (2005), de Brígida Baltar, por sua vez, é um par de cerâmicas cor marrom em formato de livro, que faz o observador questionar-se sobre a função de uma publicação do gênero.
Também estão lá Blocado: A Arte de Projetar (2016), de Débora Bolsoni, e O Livro de Areia (1999-2003), de Marilá Dardot, ambos em stop motion, assim como X-Range (2017), carrossel de fotos de Regina Vater. Já Rosângela Rennó se faz presente com 2005-510117385-5 (2009).
O terceiro núcleo da exposição é Um Lance de Dados, composto por livros inacabados, em uma referência direta à invenção. Assim, as obras requerem uma participação mais ativa do leitor, como nas múltiplas composições das páginas e imagens de Caixa de Retratos (2010), de Marcelo Silveira, ou no exercício de colorir desenhos de Marilá Dardot em Livro de Colorir: Retrospectiva (2016).
O núcleo abrange, ainda, em stop motion, {[()]} (2016), de Thiago Honório, e Un Coup de Dés – Stéphane Mallarmé (2002), de Nuno Ramos, em carrossel de imagens. Já o conjunto Cadernos Livros reúne as obras Uma Extensão no Tempo (1996), Caderno Livro (1997) e O Sonho do Arqueólogo (1982-1998), de Artur Barrio.
Por fim, a seção Livro-Carne conta com um conjunto de livros que fazem referência ao índice de um corpo fragmentado. Nele, os artistas investigam, cada um a seu modo, uma relação mais intrínseca entre o suporte do papel e a emergência de um corpo dilacerado. São livros que se transmutam em corpo – que precisa ser cuidado – e que alertam sobre o sintoma de violência que atravessa tempos e sociedades.
Dentro dessa ideia, Antonio Dias expõe na obra Flesh Room with Anima um livro com imagens ampliadas da carne/pele humana. A seção comporta, ainda, Escravos de Jó (2016), de Aline Motta, com 27 páginas soltas, impressas, dentro de caixa de papel.
Outro trabalho presente ali é Idolatria (2003), vídeo de manipulação de Mario Ramiro. Complementam a seção duas obras de Waltercio Caldas: O Livro de Velazquez (1996), Estudo Sobre a Vontade (2000).