A primeira edição do Festival Itaparica Literária, programado para acontecer entre os dias 01 e 4 de setembro, na cidade da Baía de Todos os Santos, homenageará Maria Felipa destacando sua importância histórica nos 200 anos da Independência do Brasil na Bahia. “Sem dúvida, abrir um festival trazendo homenagens à Maria Felipa a partir de apresentação de espetáculo, lançamento do livro traduz a importância de registrar e materializar um momento tão significativo na literatura brasileira levando em consideração uma mulher marisqueira, pescadora... Nestes 200 anos de comemoração do bi-centenário, mostra a importância do legado. O festival coloca em evidência o papel da mulher nas batalhas”, destaca André Reis, secretário de Turismo e Cultura de Itaparica.
A Ilha de Itaparica será, no próximo mês de setembro, palco de grandes encontros, trocas literárias, vivências e valorização da literatura afrocentrada. O livro Maria Felipa, Força e Poesia, mais nova obra literária da escritora Márcia Mendes é uma reparação histórica à trajetória da heroína negra baiana Maria Felipa de Oliveira, uma das guerreiras que escreveram um capítulo importante e foi apagada pelos livros de História do Brasil.
“A literatura antirracista promovida com tanto cuidado e ludicidade na obra de Márcia Mendes precisa ocupar todas as feiras e espaços literários nesse grande semear que é promover a visibilidade de Maria Felipa, a heroína negra da Independência”, celebra a educadora e pesquisadora Lucineide Santos Vieira, especialista em História da África e Afrobrasileira e Indígena que atualmente se dedica à pesquisa de mestrado intitulada “Maria Felipa Aqui, Ali e Acolá!”.
O livro Maria Felipa, Força e Poesia será lançado às 17 horas, no Arquivo Público Municipal – Espaço Colaborar, na quinta-feira (01/09), dia de abertura do Festival. Pela manhã, às 10 horas, a escritora Márcia Mendes será a mediadora da mesa redonda Itaparica e o contexto histórico do Bicentenário da Independência do Brasil no Recôncavo Baiano, com presenças de Manoel Passos Pereira e Sérgio Guerra.
Um livro banhado de ancestralidade e pertencimento
A heroína baiana Maria Felipa de Oliveira é a inspiração para a sexta obra literária da professora e escritora Márcia Mendes. “A literatura abre possibilidades de recriar mundos destruídos, por isso deve também ser pensada para todas as infâncias. Quero reunir o povo que gosta de literatura para conhecer a narrativa, a poesia, a música e um pouco do significado de Maria Felipa de Oliveira na Diáspora Africana”, convida a autora.
Natural de Catu, Márcia concluiu a Educação Básica como professora do antigo magistério com total desconhecimento acerca do protagonismo da mulher negra nas lutas pela independência do Brasil. No curso de Letras, começou a estudar sobre a personagem feminina no romance de 30. “Notei a falta de mulheres negras escrevendo. Com especialização em Estudos Linguísticos e Literários da UFBA, intensificou o mergulho em uma pesquisa pessoal voltada para mulheres negras apagadas na literatura brasileira e na história oficial. “Há, na professora que eu sou, o compromisso político, cada vez maior, com uma educação antirracista, que pretende extrapolar o contexto escolar. A literatura é um dos caminhos para fomentar esse diálogo”.
Com ilustrações de Rafael Tadeu Souza Feitosa, Maria Felipa, Força e Poesia é uma obra que nasce com a proposta de manter vivo o diálogo sobre a cultura dos povos africanos para além das datas comemorativas. “Possibilitar às crianças o acesso a obras que abordem a história de vida de personagens negros é fundamental para a construção da identidade racial e desconstrução de estereótipos”, enfatiza no prefácio o professor Benedito Eugênio, da UESB.
A escritora Márcia Mendes defende que o trabalho com a Lei 10639/2003 deve fazer parte do ensino o ano inteiro em todos os componentes curriculares. “Na luta antirracista a linguagem literária tem também um papel preponderante de ler e contar narrativas que contribuam para curar feridas porque, como sinaliza a professora Glenda Melo, a linguagem fere, mas também pode curar, a literatura abre possibilidades para recriar mundos destruídos, por isso deve também ser pensada para todas as infâncias”, sinaliza.
Márcia Mendes acolhe o MAR no nome e na alma. Natural de Catu, foi criada em São Sebastião do Passé, em um ambiente de pouco acesso à leitura. Cresceu sem ter um livro em casa e agora coleciona livros infantis de sua autoria. A Gata que não era Xadrez, O Cravo Brigou com a Rosa são obras assinadas pela professora e escritora e lançadas pela Editora Inverso. Já os livros Dandara, cadê você?, Quem é Amora? e - agora - Maria Felipa, Força e Poesia foram publicados pela Editora Metanoia, com selo Crianças Diversas.