Cinema

Oscar 2022: lista de ganhadores

Premiação teve agressão no palco

"No ritmo do coração" surpreendeu ao derrotar os favoritos ao Oscar

Jane Campion já havia feito história como a primeira mulher a ser indicada duas vezes para o Oscar de direção. A primeira foi por O Piano, nos anos 1990. Quase 30 anos depois, ela foi indicada de novo por Ataque dos Cães, e dessa vez levou. Sua revisão do gênero western e do machismo dos caubóis lhe valeu a cobiçada estatueta. Fez um belo discurso de agradecimento e Kevin Costner, que lhe entregou o prêmio, esteve inspirado, lembrando seu primeiro filme adulto, que ele viu quando tinha 7 anos. Era justamente um western, A Conquista do Oeste. 

Em dois anos seguidos, as mulheres brilharam na festa da Academia. No ano passado, Chloé Zhao venceu nas categorias de direção e filme. Nos 94 anos do prêmio, foi apenas a terceira vez que uma mulher venceu como diretora - a primeira foi Kathryn Bigelow, com Guerra ao Terror.

Mas Jane não ganhou também o prêmio de melhor filme. Foi para No Ritmo do Coração (Coda), uma surpresa. Will Smith foi melhor ator, por King Richard: Criando Campeãs. Fez um apaixonado agradecimento em defesa da família. Paz e amor. Jessica Chastain foi a melhor atriz por Os Olhos de Tammy Faye. Foi política, defendeu a diversidade e o respeito de “ser quem somos”. 

Havia a expectativa de que Drive My Car, do japonês Ryûsuke Hamaguchi, indicado para quatro categorias - as mesmas que Parasita, do sul-coreano Bong Joon-ho venceu há dois anos: melhor filme, melhor filme internacional, melhor direção e roteiro -, levasse as quatro estatuetas. Considerado por boa parte da crítica o melhor filme desta edição, Drive My Car venceu como melhor filme internacional, mas tropeçou logo na segunda indicação, perdendo o Oscar de roteiro adaptado - dos contos de Haruki Murakami - para No Ritmo do Coração, baseado no francês A Família Bélier. 

A saga da família de surdos tocou os votantes da Academia de uma forma particular. Pouco antes, Troy Kotsur havia feito história como primeiro ator surdo a ganhar o Oscar de coadjuvante. Kotsur dedicou o prêmio à comunidade de deficientes, não apenas auditivos. “É o nosso momento!”, disse. Ainda viria o gran finale - melhor filme!

Entrevistado pelo Estadão, o produtor da cerimônia de entrega do 94.º Oscar disse que, em busca da audiência perdida, a festa seria mais dinâmica, e cheia de música. Dito e feito. Beyoncé deu a partida, pontualmente às 9 da noite - horário do Brasil -, cantando o tema de Criando Campeãs. Na sequência, veio o primeiro Oscar da noite, o de melhor atriz coadjuvante para Ariana DeBosie, na nova versão de West Side Story/Amor, Sublime Amor, por Steven Spielberg. Ariana repetiu a estatueta de Rita Moreno, presente na plateia. Agradeceu-lhe pela Anita de 60 anos atrás, que foi inspiradora para ela e muitas mulheres negras, latinas.

Para poupar tempo, a Academia outorgou oito prêmios antes que começasse a cerimônia televisionada. Duna, de Denis Villeneuve, levou quatro - som, design de produção, montagem e trilha. Receberia mais dois - fotografia e efeitos visuais. Nenhuma grande surpresa. Duna estava cotadíssimo para vencer nas categorias técnicas. Amy Schumer, uma das três apresentadoras, começou cutucando a própria Academia: “Somos três pelo preço que pagariam a um homem”. Sobrou para Nicole Kidman: “Foi indicada por fazer o papel de uma ícone da comédia, Lucille Ball, num filme que não tem uma risada”.

Princesas

Três princesas da Disney foram ao palco do Dolby Theatre para entregar a estatueta da melhor animação. Venceu a infantil Encanto, realmente encantadora, para fazer justiça ao título, mas havia uma animação adulta, e superior, que foi ignorada, a dinamarquesa Flee. Na categoria curta de animação, a Academia ousou mais. Venceu o concorrente espanhol - The Windship Wider. O diretor destacou a importância da animação para espectadores adultos.

Da animação para a live action, Cruella ficou com a estatueta de figurinos, tão extravagantes quanto belos. Para atrair o público jovem, a Academia promoveu uma votação em seu twitter. Os cinco melhores filmes, não necessariamente do ano. Surpresa. Deu Zack Snyder na cabeça - Liga da Justiça. 

Indicado sete vezes ao longo de sua carreira, Kenneth Branagh finalmente levantou seu Oscar, o de roteiro original, por Belfast, inspirado por suas experiências de menino na guerra da Irlanda. A Academia, por sinal, valeu-se de um letreiro para tomar partido na guerra que se trava na Ucrânia. Stand With Ukraine! (algo como apoie a Ucrânia).

O apoio deveria incluir fitas azuis em defesa dos refugiados, mas poucos as usaram - Jamie Lee Curtis, por exemplo. Francis Ford Coppola foi mais incisivo.

A Academia prestou homenagem a vários filmes amados dos cinéfilos. Um deles foi O Poderoso Chefão, que completa 50 anos. Cercado por Al Pacino e Robert De Niro, Coppola agradeceu o apoio que recebeu, na época, do produtor Robert Evans, que bancou o projeto. O

O Oscar de canção foi para o James Bond. Sem Tempo para Morrer, cantada por Billie Eilish.  


Will Smith agride Chris Rock

Agressão no palco

Apresentado por Chris Rock, o prêmio de documentário foi para Summer of Soul, que resgata o festival de música afro que ocorreu em Nova York, simultaneamente a Woodstock, sendo ofuscado pelos três dias de sexo, drogas e rock’n’roll.

Deu pugilato no Kodak Theatre. Rock fez piada com a cabeça raspada de Jada Pinckett-Smith, mulher do astro Will Smith. Jada fez cara de quem não gostou e Will não levou o desaforo para casa. Subiu ao palco e deu um tapa em Rock.

Voltou para a plateia e então gritou duas vezes de seu lugar da plateia: "Mantenha o nome da minha esposa fora da p* da sua boca". 

Jada raspou a cabeça porque sofre de alopecia, uma doença autoimune que leva à queda do cabelo.

Cerca de 40 minutos depois, Smith voltou ao palco para receber o Oscar de melhor ator. Chorando, pediu desculpas à Academia e aos colegas indicados. 

Will relatou que no intervalo o ator Denzel Washington disse para ele: "Eu sei que para fazer o que nós fazemos você tem que aceitar abusos, pessoas que desrespeitam você, sorrir e fazer de conta que está tudo bem. Esse é o seu maior momento, é aí que o diabo vai te pegar" 

Smith encerrou dizendo: "Espero que a academia me chame para uma próxima festa". A Academia divulgou nota afirmando condenar a violência.

Chris Rock já havia feito piada, antes, com Jada Pinket-Smith. Em 2016, Ela e Will Smith deixaram de comparecr à premiação devido ao boicote que alguns fizeram pela falta de indicações para atores negros. Rock provocou: "Jada fazendo boicote ao Oscar é como eu fazendo boicote às calcinhas de Rihanna… não fui convidado".

Veja a lista de ganhadores

Melhor filme
-- Belfast
-- Não olhe para cima
-- Duna
-- Licorice pizza
-- Ataque dos cães
-- No ritmo do coração (vencedor)
-- Drive my car
-- King Richard: criando campeãs
-- O beco do pesadelo
-- Amor, sublime amor

Melhor atriz
-- Jessica Chastain - Os olhos de Tammy Faye (vencedor)
-- Olivia Colman - A filha perdida
-- Penélope Cruz - Mães paralelas
-- Nicole Kidman - Apresentando os Ricardos
-- Kristen Stewart - Spencer

Melhor ator
-- Javier Bardem - Apresentando os Ricardos
-- Benedict Cumberbatch - Ataque dos cães
-- Andrew Garfield - Tick, tick... Boom!
-- Will Smith - King Richard: criando campeãs (vencedor)
-- Denzel Washington - A tragédia de Macbeth

Melhor direção
-- Kenneth Branagh - Belfast
-- Hamaguchi Ryusuke - Drive my car
-- Jane Campion - Ataque dos cães (vencedor)
-- Steven Spielberg - Amor, sublime amor
-- Paul Thomas Anderson - Licorice Pizza

Canção original
-- Be Alive - King Richard: criando campeãs
-- Dos Oruguitas - Encanto
-- Down To Joy - Belfast
-- No time to die - Sem tempo para morrer (vencedor)
-- Somehow you do -Four good days

Melhor documentário
-- Ascension
-- Attica
-- Flee
-- Summer of Soul (...ou Quando A Revolução Não Pôde Ser Televisionada) (vencedor)
-- Writing with fire

Melhor roteiro adaptado
-- No ritmo do coração (vencedor)
-- Drive my car
-- Duna
-- A filha perdida
-- Ataque dos cães

Melhor roteiro original
-- Belfast (vencedor)
-- Não olhe para cima
-- King Richard: criando campeãs
-- Licorice pizza
-- A pior pessoa do mundo

Melhor figurino
-- Cruella (vencedor)
-- Cyrano
-- Duna
-- O beco do pesadelo
-- Amor, sublime amor

Melhor filme internacional
-- Drive my car - Japão (vencedor)
-- Flee - Dinamarca
-- A Mão de Deus - Itália
-- A Felicidade das Pequenas Coisas - Butão
-- A Pior Pessoa do Mundo - Noruega

Melhor ator coadjuvante
-- Ciarán Hinds - Belfast
-- Troy Kotsur - No ritmo do coração (vencedor)
-- Jesse Plemons - Ataque dos cães
-- J.K. Simmons - Apresentando os Ricardos
-- Kodi Smit-McPhee - Ataque dos cães

Melhor animação
-- Encanto (vencedor)
-- Flee
-- Luca
-- A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas
-- Raya e o último dragão

Efeitos visuais
-- Duna (vencedor)
-- Free guy
-- Sem tempo para morrer
-- Shang-Chi e a lenda dos dez anéis
-- Homem-Aranha: Sem volta para casa

Melhor fotografia
-- Duna (vencedor)
-- Ataque dos cães
-- Beco do pesadelo
-- A tragédia de Macbeth
-- Amor, sublime amor

Melhor atriz coadjuvante
-- Jessie Buckley - A filha perdida
-- Ariana DeBose - Amor, sublime amor (vencedor)
-- Judi Dench - Belfast
-- Kirsten Dunst - Ataque dos cães
-- Aunjanue Ellis - King Richard: criando campeãs

Maquiagem e cabelo
-- Um Príncipe em Nova York 2
-- Cruella
-- Duna
-- Os olhos de Tammy Faye (vencedor)
-- Casa Gucci

Melhor som
-- Belfast
-- Duna (vencedor)
-- Sem tempo para morrer
-- Ataque dos cães
-- Amor, sublime amor

Melhor trilha sonora
-- Não olhe para cima
-- Duna (vencedor)
-- Encanto
-- Mães paralelas
-- Ataque dos cães

Melhor edição
-- Não olhe para cima
-- Duna (vencedor)
-- King Richard: criando campeãs
-- Ataque dos cães
-- Tick, tick... boom!

Melhor design de produção
-- Duna (vencedor)
-- Ataque dos cães
-- O beco do pesadelo
-- A tragédia de Macbeth
-- Amor, sublime amor