Cinema / Escritos

Sítio do Arara: vida e múmia de Cachorrão e a pirâmide invertida

Do Piauí ao Saara - ou seu dinheiro de volta


Calípsia

No quartinho dourado está exposta a múmia de Cachorrão, o namorado egípcio dela. Tanto quis e tanto fez, ele, que ganhou o status de faraó; em vida foi um sujeito com alma de camelo, dado a umas peregrinações na boêmia, acasalamentos extra divinatórios e adivinhações baratas. Por exemplo, previu com sucesso sua própria morte:

- Um dia vou morrer!

Certa feita se arvorou a vender números premiados de uma loteria de casa própria. Foram tantos ganhadores ao mesmo tempo, que não sobrou tijolo sobre tijolo - um dos quais o atingiu, em cheio, na corcunda.

Tinha outros talentos: um deles era ir às praias e se enfiar na areia até o pescoço.

Mas, ela sim, que é a rainha dessa história: foi aproveitando uma destas enterradas dele, que encontrou o Embalsamador – sujeito dado a umas emulsões, óleos, e ceras – que lhe fez umas massagens esotéricas tão poderosas, que se sentiu uma Cleópatra em carrara esculpida.

No outro dia, pela manhã, bem relaxada, lembrou-se de voltar à praia para buscar o marido – ele estava tenro e macio como um tender de natal – dali para experimentar um feixe de ataduras e uns anestésicos de eternização foi um pulo – o novo amigo, rapaz caprichoso, amarrou a trouxa, digo o trouxa, bem direitinho.

Por causa dessa inspiração, os dois abriram o Centro da Pirâmide Invertida – onde o ídolo em tamanho natural – é o talismã que tudo ilumina, garantindo a energia que vem do Deus Rá – sustentam dignamente o empreendimento, com a venda do branqueador solar artesanal fator 60, que garante proteção: - do Piauí ao Saara - ou seu dinheiro de volta!

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O cineasta (roteirista e diretor) José Araripe Jr. (Arara) apresenta personagens em crônicas, contos e sinopses; sempre acompanhadas de uma ilustração de sua lavra e uma narração coloquial em viva voz.