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ONU quer mais mulheres em posições de liderança no mundo

A participação e liderança feminina resultam em ações climáticas mais eficazes

Foto: Johis Alarcon | ONU Mulheres
Ativistas participam de marcha contra a violência de gênero no Equador

O Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, debate o impacto das crises atuais em mulheres e meninas em todo o mundo.

Sobre a data, a diretora executiva da ONU Mulheres, Sima Bahous, destaca o fardo dos conflitos, pandemia de Covid-19 e mudança climática e afirma que os ganhos conquistados em direitos humanos e direitos das mulheres devem ser protegidos.

Com o tema que pede “Igualdade de gênero hoje para um amanhã sustentável”, a líder da agência ressalta que a mudança climática é um multiplicador de ameaças. Mas, para ela, as mulheres são multiplicadoras de soluções.

Já a jurista Silvia Pimentel, que falou à ONU News, de São Paulo, e presidiu o Comitê Sobre a Eliminação da Discriminação contra Mulheres, Cedaw, diz que é hora de passar da palavra à ação.

“A subalternidade, a violência, não é uma fatalidade a ser vivida por nós mulheres, foi algo que foi construído. É esse algo que nós, feministas, e muitas mulheres, estão buscando reconstruir esse espírito que eu digo de morte, de destruição. E por isso, a ONU que foi criada em 1945 e um de seus grandes ideais é a paz, respeito pela vida... é algo que eu quero trazer hoje quando eu vejo essa beleza de tema criado pela ONU Mulheres. Igualdade de gênero hoje – eu diria já, o mais imediatamente possível, em todo o mundo, nos dois Hemisférios, no Sul, onde mais carece – para um amanhã sustentável. Eu boto fé de que a nossa ação de mulheres vai colaborar para um amanhã mais sustentável”

Ela ainda destacou as recomendações geral do Cedaw que apontam a necessidade da participação nas decisões de ações para adaptação e mitigação contra a mudança climática, uma vez que são mais vulneráveis aos efeitos dos eventos e atuam de forma ativa nas comunidades na resposta.

A ONU Mulheres, que lidera a celebração, destaca que a participação e liderança feminina resultam em ações climáticas mais eficazes. Assim, a agência recomenda capacitar mulheres e meninas a terem voz e serem participantes na tomada de decisões relacionadas à mudança climática e sustentabilidade para garantir o desenvolvimento sustentável e igualdade de gênero.

Antes do Dia Internacional, a vice-presidente do Parlamento angolano, Emília Carlota Dias, falou à ONU News sobre a importância de se pressionar os líderes homens para a aceleração da paridade feminina nos cargos políticos e em fóruns de tomada de decisão.

Para ela, mulheres em todos os lugares devem assumir papeis de liderança, abrindo espaço para um grupo ainda mais diverso.

“Não queremos que essa paridade seja entendida como algo de um grupo de elite, de mulheres letradas. Mas sim, paridade onde estiver, qualquer mulher que possa desempenhar ali onde ela estiver: quer no meio rural, meio urbano, com as competências que tem para efetivamente liderar, então essa paridade vai de fato surtir efeito. E é uma pauta muito importante que acho que, cada uma de nós nas nossas agendas hoje, junto dos nossos partidos e outras formas onde a nossa voz pode chegar, vamos continuar a discutir.”

A deputada de Angola esteve em Nova Iorque durante a reunião da União Interparlamentar, no mês passado. O órgão divulga dados sobre a presença feminina em cargos políticos pelo mundo. De acordo com o último levantamento, as mulheres ocupam apenas 25,5% dos assentos dos assentos.

O número cai para 21% em cargos ministeriais e, no executivo, elas representam apenas 5,9% dos Chefes de Estado e 6,7% de primeiros-ministros.

A representante da ONU Mulheres, Sima Bahous, lembra que a igualdade de gênero é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. E ela acredita que o avanço dessa meta contribuiu para todos os 17 ODS.

Bahous afirma que é necessário colocar mulheres e meninas no centro das ações e integrar as perspectivas de gênero nas leis e políticas globais e nacionais.

Ela destaca que seu plano para conquistar mais avanços para mulheres e meninas em todo o mundo envolve a participação e liderança plena e igualitária das mulheres na tomada de decisões, acesso a empregos verdes e à economia azul e acesso a financiamento e recursos.

Mulheres e Clima

-- As mudanças climáticas podem levar a mais violência baseada em gênero, aumento de casamentos infantis e piora da saúde sexual e reprodutiva.

-- Mulheres e meninas são mais propensas a carregar o fardo da pobreza energética e a sofrer os efeitos adversos da falta de energia segura, confiável, acessível e limpa.

-- A poluição do ar dentro das moradias pelo uso de fontes de energia doméstica inseguras causou 4,3 milhões de mortes em 2012, com mulheres e meninas respondendo por 6 em cada 10 mortes.

-- Globalmente, as mulheres são 14 vezes mais propensas do que os homens a morrer durante um desastre.

-- 70% dos 1,3 bilhão de pessoas que vivem em condições de pobreza são mulheres. Nas áreas urbanas, 40% das famílias mais pobres são chefiadas por mulheres.

-- As mulheres são responsáveis por entre 50% e 80% da produção de alimento mundial, mas possuem menos de 10% das propriedades.

-- 80% dos deslocados por desastres e mudanças climáticas em todo o mundo são mulheres e meninas.

o secretário-geral das Nações Unidas destaca a importância da igualdade de gênero na reconstrução após a pandemia de Covid-19.

Em mensagem sobre a data, António Guterres afirma que um mundo mais justo e sustentável passa pelo balanço na presença feminina em cargos de liderança.

O líder da ONU também ressalta que a organização alcançou a paridade de gênero na direção na sede e em todo o mundo. Como resultado, ele afirma que o trabalho melhorou e passou a representar melhor as comunidades em que as Nações Unidas atuam.

Guterres lembrou que 70% de todos os profissionais de saúde são mulheres e que elas foram essenciais para o gerenciamento da pandemia, embora as mais afetadas pelas crises da Covid-19.

Segundo ele, muitas meninas saíram das escolas nos últimos anos e as mulheres do mercado de trabalho. Elas enfrentaram o aumento da pobreza e da violência, além de serem responsáveis por três vezes mais cuidados não-remunerados do que os homens.

O alerta de António Guterres é que, nesse ritmo, a igualdade de gênero nos cargos mais altos levará 130 anos. Ele reforça que em todos os países, “as mulheres estão escandalosamente subrepresentadas nos corredores do poder e nas salas de reuniões das empresas”.

Em quase 77 anos de existência, a ONU nunca teve uma secretária-geral mulher. E até o momento, apenas quatro mulheres presidiram a Assembleia Geral da organização.

O líder da ONU ressaltou ainda que as “mulheres carregam o peso das mudanças climáticas e da degradação ambiental” e, por todas essas razões, é hora de acelerar ações para um mundo mais igual.

Guterres afirma que todas as meninas têm que ter acesso às escolas e que as mulheres precisam de formação adequada e trabalho digno.

Ele pede ações efetivas para acabar com a violência de gênero, cuidados universais totalmente integrados nos sistemas de proteção social e medidas direcionadas para que as mulheres sejam parte das tomadas de decisões.

Para o secretário-geral, a desigualdade de gênero é essencialmente “uma questão de poder, num mundo e cultura dominados por homens”.