Cinema / Escritos

Cinéfila, mãe e médica faz resenha de 'Mães Paralelas'

Filme de Almodóvar disponível nos cinemas e na Netflix

Foto: Divulgação
Resenha de Madres Paralelas

O Oscar de 2022 já tem data definida, vai acontecer no dia 27 de março. Sempre gostei de ver os filmes indicados para o Oscar antes da cerimônia da premiação, o que permite apreciar cada filme antes do impacto do valor dado pelo julgamento da Academia.

E hoje tem resenha de filme indicado ao Oscar. Como mulher e mãe não posso deixar de falar de “Madres Paralelas” (Mães Paralelas), mais recente filme de Almodóvar disponível nos cinemas e na Netflix.

Os filmes de Almódovar são como uma grife, se reconhece pelas cores da abertura, pela sonoplastia (indicada para o Oscar) sempre excepcional, pelos seus atores e atrizes ícones e por temas que sempre integram a sua filmografia. Nesse filme não é diferente.

Tendo já passado por Carmem Maura, Marisa Paredes e Victória Abril como como musas de vários dos seus filmes, mais uma vez traz sua atriz-musa preferida Penélope Cruz, com cabelos mais claros, linda e com uma interpretação profunda, carismática e sem exageros.  A interpretação de Penélope mereceu indicação para o Oscar de melhor atriz e acredito com boas chances de levar a estatueta. 

A história é sobre a maternidade na expectativa diversa de duas mulheres com idades diferentes, histórias de vidas diferentes, mas cujas trajetórias se cruzarão de forma não planejada e definitiva. É um filme sobre o valor da maternidade biológica e da maternidade do amor. Mas esse novo Almódovar é também sobre sororidade nos encontros das fragilidades femininas.

É um Almodóvar sobre uma sororidade que se mistura com o amor físico, sem julgamento de qual aspecto desse amor tem mais valia. Além dessas marcas tipicamente “almodovarianas”, o filme expõe uma ferida ainda aberta na memória espanhola, quando fala sobre os falangistas e o desaparecimento de milhares de espanhóis durante a guerra civil, sem que as famílias pudessem enterrar os seus entes queridos.

No filme essa história não se apaga, não se cala, sua voz é ouvida na presença do DNA, elemento tão simbólico no enredo do filme, nos fósseis, e nos restos mortais tão vivos nos encontros e desencontros dos desejos humanos.

Certamente, “Madres Paralelas” não é o filme de Almodóvar que mais me impressionou, não traz a surpresa surrealista de “Fale com Ela”, nem a brutalidade de “ A Pele que Habito”, ou a sensualidade sadomasoquista de “Ata-me”, sem falar na honestidade de sentimentos de “Dor e Glória. Esse é um filme de Almodóvar que transpira maturidade, delicadeza na exposição dos conflitos, com a mesma destreza de desnudar a alma humana com beleza e simbologia. Vale a pena conferir.

Ana Marice Teixeira Ladeia, nasceu em Caetité, na Bahia. É médica, cardiologista, doutora em Medicina Interna e professora universitária. Leitora voraz desde a infância, época que já escrevia poesias, peças de teatro e mesmos romances jamais publicados.  É mãe de três filhos, incluindo um casal de gêmeos. Amante de filmes e da escrita, escreve pela emoção.