Chico Ribeiro Neto

O burro anônimo

-- É do jornal?

-- É.

-- Quanto vocês pagam por uma boa ideia?

-- Depende, você me diz qual é a sua ideia e a gente avalia.

-- Aonde!!! Depois vocês ficam com a minha ideia e não me pagam nada

E desligou o telefone.

Essa foi uma das ligações que recebi quando era chefe de Reportagem de um jornal diário em Salvador. Veja outra:

-- Meu senhor, boa noite, eu tenho uma sugestão que pode mudar os caminhos do mundo. O senhor tem interesse em ouvir? – perguntava a voz em portunhol.

-- Agora não, procure outro jornal – respondi, às 9 da noite, mais preocupado com o fechamento do jornal do que com os destinos do mundo.

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Comecei minha carreira de jornalista na Tribuna da Bahia em 1969, onde tive a felicidade de pertencer à primeira Redação chefiada pelo inesquecível e competente Quintino de Carvalho. Na TB fui repórter e editor de Texto, o que correspondia a chefe do Copy-Desk, o quadro de reescrevedores. São muitas histórias.

Uma vez, na TB, um “foca” (estagiário) escreveu: “Um burro ainda não identificado foi atropelado e morto ontem na Avenida Barros Reis”. Quintino pegou a lauda da matéria e puxou uma seta com um pincel atômico (marcador) ligando a expressão “burro ainda não identificado” ao nome do repórter, no alto da lauda, e escreveu em vermelho: “Ainda não?”.

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Ainda na Tribuna, numa terça-feira de Carnaval, à tarde, apareceu na Redação um cara esbaforido querendo colocar uma nota, porque a mulher dele estava sumida desde o sábado.

O repórter anotou os dados e, quando o cara saiu, o grande redator Béu Machado comentou: “A mulher sumiu? Alguém já deve ter achado”.

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Em 1977, eu era repórter da Sucursal do Jornal do Brasil em Porto Alegre e fui cobrir um Congresso Brasileiro de Cardiologia. A assessora de Imprensa do evento reuniu os jornalistas e explicou: “Cada um de vocês vai receber agora um exemplar dos anais do congresso, onde estão os resumos dos trabalhos apresentados. Vocês escolhem o trabalho que mais interessar e eu vou chamar o autor para dar entrevista”.

Nisso, chegou um repórter atrasado e, só ouvindo falar nos anais, virou-se para a assessora e disse: “Eu também quero um anal desse pra mim”.

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Num jornal local tinha um repórter que abusava das vírgulas. Botava vírgula onde não cabia e passava batido onde precisava. Dizem que ele acabava de bater a matéria (na máquina de escrever), colocava as laudas sobre a mesa, pegava um cesto de vírgulas e jogava para cima. A vírgula ficava onde caía.

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O rádio também tem belas e divertidas histórias. Essa aconteceu com um famoso ator de Salvador que foi trabalhar como locutor numa emissora local. Os salários estavam atrasados. Tocou uma música, vieram os comerciais e depois a voz dele: “São 21 horas e 30 minutos nessa emissora que não paga a ninguém em dia”.

“Filho da puta”, berrou o diretor da rádio, que estava em casa se preparando pra dormir e foi correndo pra emissora demitir o ator-locutor enquanto chamava outro para substitui-lo.

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Uma rádio de Salvador tinha um plantão policial em frente à Secretaria de Segurança Pública, na Praça da Piedade. Um dia, chega uma viatura com um preso acusado de furto. Quando abriram o fundo da viatura e o cara foi saindo, algemado, recebeu logo um microfone pelos peitos e a ávida pergunta do repórter, já no ar:

-- “Seu ladrão, como é seu nome, seu ladrão?”

-- “Seu ladrão é a puta que lhe pariu”.