Política

Bolsonaro quer dar a palavra final sobre vice na disputa à reeleição

O mais provável é que Bolsonaro sugira a uma das siglas do Centrão a filiação de alguém de sua confiança

Foto: Antonio Cruz | Agência Brasil
O presidente chamou para si o poder de decisão

Depois da filiação ao PL no fim do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro se debruça sobre a escolha de um candidato a vice-presidente. Com potencial para desagradar às agremiações aliadas, o presidente chamou para si o poder de decisão no caso e quer dar a palavra final. Nas últimas semanas, Bolsonaro voltou a falar em reeditar a presença de um general de quatro estrelas para compor a chapa.

Durante o período de festas de fim de ano, o presidente abordou mais de uma vez o processo de escolha do vice, e, no dia 6, deu sinais de que as articulações devem ser aceleradas para o anúncio de sua candidatura. Mas foi cauteloso: "Se você anuncia um vice muito cedo, de tal partido, os outros ficam chateados contigo".

O mais provável é que Bolsonaro sugira a uma das siglas do Centrão a filiação de alguém de sua confiança, segundo um líder do governo. Seria um nome novo no partido, em vez de pinçar um dos quadros já filiados à legenda.

A aliança já está esboçada, com PL, PP, Republicanos e PTB. A aposta de integrantes do governo é que o PP, o maior dos quatro, fique com a posição de vice, pelo peso do partido em termos de estrutura nacional, tempo de exposição em rádio e TV e verbas dos fundos eleitoral e partidário.

"Ninguém sabe (quem será), a não ser o próprio presidente, pois será uma escolha dele", diz o pastor Marco Feliciano (PL-SP), um dos deputados mais próximos de Bolsonaro.

O Republicanos "corre por fora", segundo um senador governista com acesso às negociações. Em público, a direção do partido, no entanto, procura se desvencilhar do interesse pela vaga, mas nomes de peso já reconheceram que há queixas pelo espaço menor dado até agora à sigla, ligada à Igreja Universal do Reino de Deus.

Para dar certo, esse plano deve estar amarrado até o início de abril, a tempo de o escolhido (ou de a escolhida) se filiar com a antecedência exigida pela legislação - seis meses antes do primeiro turno. Se optar por um ministro, ele deverá deixar o cargo no mesmo prazo.

Há pelo menos quatro da cozinha de Bolsonaro cotados. Os ministros da Defesa, Walter Braga Netto; das Comunicações, Fabio Faria; da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves; e o presidente da Caixa, Pedro Guimarães. Só Faria tem mandato de deputado federal e escolheu se filiar ao PP.

A tarefa política é considerada por assessores do clã Bolsonaro tão delicada quanto a escolha do partido, marcada por idas e vindas. No mês passado, Bolsonaro falou em ter um vice capaz de agregar votos e disse que o ideal seria "um nordestino ou mineiro". Também afirmou que estava conversando com possíveis nomes, reservadamente, e trabalhando a opção de "um general de quatro estrelas".

Bolsonaro também emitiu sinais trocados a respeito do atual vice, Hamilton Mourão (PRTB), antes dado como peça descartada. Mourão já se organizava para disputar o Senado, mas o presidente diz agora que ele pode ser o vice novamente. Questionado, Mourão disse que vai aguardar a escolha final do presidente. "Aguardo a decisão dele", afirmou.

Integrantes do núcleo político bolsonarista avaliam que ele deveria optar por alguém que amplie seu espectro de inserção social. Em vez de um militar, um nome vindo de outro segmento da sociedade. O lugar comum é escolher uma mulher, evangélica e nordestina.

De fato, ter um general não foi a primeira opção nem em 2018. Bolsonaro chegou a convidar na ocasião o ex-senador e cantor gospel Magno Malta (PL-ES), mas ele declinou.

O nome mais especulado nos bastidores da caserna hoje é o ministro Braga Netto, interventor de Bolsonaro, que transmite vontades do presidente à cúpula das Forças Armadas e pressões a outros Poderes, como na ocasião em que ameaçou a realização das eleições, revelado pelo Estadão.

O ministro não tem traquejo político, nem boa recepção entre dirigentes partidários. Seria, na visão de militares, alguém leal ao presidente e que poderia blindar um impeachment. Mesmo entre os fardados, Braga Netto não é citado como a primeira opção, seja no oficialato da ativa ou no generalato da reserva. A tese é a de que ele não agrega votos fora da caserna.

Centrão

O presidente Jair Bolsonaro voltou a justificar sua filiação ao Partido Liberal (PL), cujo líder, Valdemar Costa Neto, foi preso e condenado no escândalo do mensalão, durante os governos do PT. "Vocês votaram em um cara que foi do Centrão", declarou.

"Se eu fosse para o PP, seria criticado, se fosse para o PTB, seria. Se eu fosse para qualquer partido, eu seria criticado. O cara fala 'ah, o Centrão'. Vocês votaram num cara que foi do Centrão. Eu fui do PP por muito tempo. Fui do PTB. Fui do PFL", disse Bolsonaro. "Não quer dizer que todas as pessoas que estejam lá mereçam ser rejeitadas pela sociedade", acrescentou, fazendo críticas à esquerda.

Para justificar sua aliança com o Centrão para a campanha eleitoral deste ano, quando deve concorrer à reeleição, Bolsonaro recorreu a uma analogia. "É a mesma coisa que o cara que fala que quer ter um filho. 'Quero ser papai'. Ou a mulher fala 'quero ser mamãe'. Tem que arranjar uma mulher no primeiro exemplo e, no segundo, tem que arranjar um homem. Eu, para conseguir disputar uma eleição, tenho que ter um partido", disse o presidente, durante a entrevista. Ao afirmar que precisa do apoio dos parlamentares, Bolsonaro também ressaltou que para aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) no Congresso são necessários 308 votos.

Em julho de 2021, quando confirmou a escolha do senador Ciro Nogueira (PP-PI) como ministro da Casa Civil, Bolsonaro já havia dito que "Centrão" é um nome "pejorativo" para se referir a esse grupo de partidos que atua no Congresso. "Eu sou do Centrão", disse, à época. Em novembro do ano passado, após idas e vindas, Bolsonaro se filiou ao PL de Costa Neto.

Moro

Bolsonaro questionou se o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro (Podemos), que deve ser um de seus rivais na eleição de 2022, entrou no governo em 2019 com o objetivo de se preparar para concorrer à Presidência da República. "Se a população acreditar nele, não compete a mim", disse o chefe do Executivo na mesma entrevista.

"Ele teve um ano e quatro meses comigo. Não descobriu nada no governo? Prevaricou?", afirmou Bolsonaro, em referência a Moro, que pediu demissão do Ministério da Justiça em abril de 2020 e acusou o presidente de tentar interferir na Polícia Federal (PF) "Só que eu tinha um problema. Eu achava que a Polícia Federal poderia agir melhor", declarou o presidente.

Bolsonaro também voltou a dizer, durante a entrevista, que Moro queria ser indicado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). "Que petulância", criticou. "Ele foi no meu governo para fazer um trabalho sério, para se blindar ou para se preparar para ser futuro candidato à Presidência da República? Têm três alternativas. Não deu certo, tirei ele fora, tinha que tirar", declarou o presidente.

Desde que o ex-juiz da Operação Lava Jato se filiou ao Podemos, em novembro do ano passado, para concorrer nas eleições deste ano, apoiadores de Bolsonaro e o próprio presidente têm aumentado o tom das críticas a Moro. O próprio ex-ministro tem tentado se cacifar como candidato da terceira via, em meio à polarização entre o atual chefe do Executivo e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as intenções de voto

"Temos um país para salvar de uma triste polarização entre pelegos e milicianos. Vamos construir a nação moderna e inclusiva que queremos", escreveu Moro, no Twitter, ao anunciar uma viagem à Paraíba na semana passada.