Gina Marocci

A chegada do ônibus a Salvador

As primeiras décadas do século XX foram marcadas pelo recrudescimento do discurso modernizador e higienista do final do século XIX, que deplorava a herança urbana das cidades coloniais brasileiras e considerava urgente propor reformas que transformassem a imagem dessas cidades, notadamente, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Recife, e tiveram como inspiração a reforma de Haussmann em Paris. Essa parte da nossa história deve ser vista com mais apuro daqui a algumas semanas.

A instalação dos meios de transporte públicos dera um certo ar de modernidade a Salvador, contudo, o desenho tortuoso das ruas, com suas dimensões reduzidas que não permitiam a passagem dos bondes e as condições insalubres de muitos sobrados na Cidade Alta foram justificativas fortes para as intervenções ocorridas nas duas primeiras décadas do século XX.

Neste período, a instalação de rotas eletrificadas para os bondes, a revolução dos veículos motorizados, movidos a gasolina, e com rodas de borracha, exigiam ruas mais largas e calçadas e passeios para separar o fluxo dos pedestres dos carros.

Primeiro chegaram os carros de passeio, particulares, em pequeno número, mas que desenvolviam maior velocidade que os bondes. Os carros de praça se instalaram rapidamente e disputaram o público usuário dos bondes, morosos, desconfortáveis, passíveis de descarrilamento e de paralisação por falta de energia elétrica.


Bondes e carros de praça na Praça Municipal, em 1920

Os ônibus com propulsão mecânica movidos a gasolina já circulavam em algumas cidades, como Berlim, Londres e Paris, na década de 1890. Em 1920, ônibus a óleo diesel circulavam na Alemanha e na Inglaterra.

No Brasil, na década de 1920 começaram a rodar ônibus a óleo diesel, e em Salvador eles chegaram neste mesmo período.

Ônibus em Salvador tinha de receber outro nome, então as marinetes (em homenagem ao italiano Filippo Marinetti, que publicou o primeiro manifesto futurista e esteve no Brasil para proferir várias palestras).


Ônibus semelhante à marinete, em 1950

Apesar de existirem desde o início dos novecentos, os trólebus, ou ônibus elétricos, foram utilizados em larga escala no mundo a partir da década de 1950. Em Salvador, eles rodaram na Cidade Baixa a partir de 1958 e substituíram os bondes elétricos como um sinal de modernização do transporte público.

Os veículos eram de procedência italiana, fabricados pela Fiat-Alfa Romeo-Marelli, e a primeira linha circulou entre o Comércio e o Largo da Madragoa.


Trólebus da Cidade Baixa, em 1958

Silencioso, macio e não poluente, o trólebus, no entanto, tinha algumas desvantagens como a rigidez das rotas e o custo operacional alto. Por conta da precária manutenção da rede elétrica e dos veículos, bem como do calçamento das vias, a frota de 50 trólebus parou de rodar em 1969. Nessa história, impressionamo-nos com a rapidez que no Brasil abandonamos uma tecnologia por outra sempre em nome da modernização.

Observemos que os trólebus ainda estão em uso em várias cidades no mundo, e no caso específico das linhas da Cidade Baixa não houve mudança da na malha viária, o que nos faz pensar que o sistema poderia ser uma alternativa de transporte público menos poluente e de alta tecnologia para toda a área da Península de Itapagipe até o Bairro do Comércio.

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Para saber mais

CARVALHO, S. S. de; MATOS, E. A. Mobilidade urbana em Salvador: da cadeira de arruar ao interminável metrô. Revista Transporte y Territorio, n. 7, Universidad de Buenos Aires, 2012

JACQUES, P. B. et all. Salvador, cidade do século XX: a partir das memórias de Pasqualino Romano Magnavita. Salvador: UFBA, RD14_EX02.