Política

"Vagabundo". "Vagabundo é você". É esse o nível da CPI da Covid no País

Gritos e agressões. E por aí vai a CPI no Senado.

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
Senador Renan Calheiros, relator da CPI

A sessão de depoimento do ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten precisou ser suspensa após uma troca de ofensas entre o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), e o senador Flávio Bolsonaro.

Pouco tempo depois de entrar na sala da comissão, o filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro reclamou que Calheiros estaria fazendo da CPI um "palanque" e chamou o relator de "vagabundo" ao comentar sobre o pedido de prisão em flagrante de Wajngarten. "Imagina a situação: cidadão honesto ser preso por um vagabundo como Renan Calheiros", afirmou Flávio A sessão da CPI será retomada após votação da ordem do dia no plenário do Senado.

Entre gritos, Calheiros devolveu o ataque ao filho do presidente, fazendo referência à investigação da qual Flávio é alvo. "Vagabundo é você que roubou dinheiro do seu pessoal, do seu gabinete", disse o relator da CPI. Flávio Bolsonaro foi denunciado por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa, no processo conhecido como das 'rachadinhas'.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), precisou então suspender a sessão. Ele também já havia avisado que os trabalhos teriam de ser interrompidos em algum momento em razão da sessão do Senado. "Estou tentando equilibrar, e as agressões entre senadores não vão a lugar nenhum", repreendeu o presidente da CPI.

A briga começou porque o senador Humberto Costa (PT-PE) sugeriu que o depoimento do ex-secretário de Comunicação fosse enviado ao Ministério Público, para que o órgão possa apurar as "mentiras" ditas por Wajngarten. Flávio então rebateu afirmando que todos os outros testemunhos também deveriam ser encaminhados ao MP por esse parâmetro, uma vez que, segundo ele, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta também teria mentido durante o interrogatório.

Membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado voltaram a cobrar que o ex-secretário de Comunicação e empresário Fabio Wajngarten seja preso pelas declarações que foram dadas ao comitê. Entre eles, o relator do colegiado, Renan Calheiros (MDB-AL), cobrou para que o ex-secretário seja detido por contar inverdades à comissão.

"Vossa Excelência, mais uma vez mente. Mentiu diante dos áudios publicados, mentiu por mudar a versão com relação à entrevista que deu e continua mentindo", disse Calheiros a Wajngarten. "Diante do flagrante evidente, vou pedir a prisão de vossa senhoria". Segundo o senador, a decisão para a detenção do ex-secretário cabe ao presidente da Comissão, o senador Omar Aziz (PSD-AM). "Ele Aziz pode decidir diferente, mas vou pedir porque o espetáculo de mentiras que vimos hoje aqui é algo que não vai se repetir e não pode servir de precedente", completou Calheiros.

Em resposta, Aziz disse que não tomaria a decisão de prender ou não Wajngarten e que a escolha caberia a outros órgãos. "Não tomarei essa decisão. Eu tenho tomado decisões aqui muito equilibradas até o momento, mas eu ser carcereiro de alguém, não Sou democrata. Se ele mentiu, temos como pedir indiciamento dele, mandar para o Ministério Público para ele ser preso, mas não por mim. Só depois que ele for julgado, e aqui não é tribunal de julgamento", disse o presidente da CPI.

Conforme Aziz, o depoimento de Wajngarten trouxe novas informações como as informações de que metade da cúpula do governo sabia desde 12 de setembro quea farmacêutica Pfizer estava oferecendo vacina para o Brasil. A carta do CEO da Pfizer enviada ao presidente Jair Bolsonaro em setembro do ano passado também foi endereçada ao vice-presidente da República, Hamilton Mourão, ao então ministro da Casa Civil (hoje Defesa), Walter Braga Netto, ao ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e ao Embaixador do Brasil para os Estados Unidos, Nestor Foster.

"Ainda sustentei que volto a sustentar, não façam dessa CPI um tribunal que vai prender pessoas antes de ser julgada. Todos nós políticos já sofremos na pele a injustiça", defendeu Aziz. Calheiros interpôs que caso Wajngarten deixasse o plenário da comissão ileso, isto "escancararia uma porta difícil de fechar"

Segundo Aziz, a decisão de não prender o ex-secretário estaria "salvando a CPI" e não seria a "prisão de alguém" que traria resultados à apuração do colegiado. Aziz disse também que tem recebido vídeos com injustiças de apoiadores do presidente e destacou que os parlamentares "não podem tornar o País pior do que está". Para o presidente da Comissão, o que Calheiros colocasse no relatório final seria aprovado em plenário.

O pedido de Calheiros para que Wajngarten fosse preso encontrou apoio também nas falas do senador Fabiano Contarato (Rede-ES). "Ele está em estado flagrancial, senhor presidente. A Constituição Federal é clara. Qualquer um do povo pode, a autoridade policial e seus agentes devem prender quem quer que se encontre em flagrante delito", disse Contarato. "Espero que a CPI não mostre que só vai preso pobre, afrodescendente e analfabeto", completou.

Bolsonaro

Em meio à alta temperatura das sessões da CPI da Covid no Senado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) usou um evento ambiental no Palácio do Planalto para argumentar que o governo "fez o que pôde" na pandemia e insinuar que irá resistir a qualquer tentativa de retirá-lo do cargo.

"A pandemia realmente foi um castigo para o mundo todo e o governo fez o que pôde. Os que não fizeram nada agora querem atrapalhar o governo", afirmou em evento de assinatura do protocolo de intenções da Caixa para adesão ao programa "Adote Um Parque" do governo federal.

Em tom elevado, Bolsonaro enfatizou que acredita nas instituições e não teme "absolutamente nada". "Deixo bem claro, só Deus me tira daqui. Não queremos desafiar ninguém, respeito os demais, mas vão nos respeitar", bradou. "Nunca tiveram da minha parte uma só sugestão, proposta, palavra ou ato para censurar quem quer que seja. Somos um País livre e os direitos fundamentais são para ser respeitados", concluiu.