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Minha mãe, dona Cleonice, costumava dizer, quando via alguém que era pobre e ficou rico, por casamento ou outra circunstância, vivia se exibindo: “Quando não chovia, onde é que nambu bebia?” Quando via uma mulher empoada e de nariz todo empinado, ela comentava sorrindo: “Aquela tem cara de “quem bufou?”, ou seja, de quem está procurando identificar o autor dos nefandos gases.
Procurar o autor dos peidos era tarefa inglória para Dren, o dono do “Cine Bufa”, em Ipiaú, minha terra natal. O jornalista e escritor José Américo Castro assim descreve a situação no improvisado cinema: “Bufaram aqui, tá um fedor retado”. Dren respondia aos gritos: “Tapa o nariz, aperta o rabo, porque se eu for lá é pra enrolhar o toba de um”. Quando as coisas chegavam às raias do insuportável, ele interrompia a projeção e saía cheirando o cangote de cada cinéfilo. Aos cascudos, o principal suspeito era expulso do recinto”. (Do livro “Porta do Éden – A poética de José Américo Castro e o Imaginário Coletivo de Ipiaú”, organizado por Paulo Andrade Magalhães).
Tinha uma amiga, velha baiana de acarajé, que adorava falar de sacanagem. Um dia perguntei a ela: “Baiana, você ainda dá uma?” “Claro que sim, a estaca acaba, mas o buraco fica”. Ela também era profética e dizia aos filhos, na década de 80: “Vai chegar o dia, e vocês vão ver isso, da pessoa ter de ficar em casa com dinheiro sem poder sair pra comprar nada”.
Os ditados populares são de uma infinita sabedoria e passam de geração em geração. Lembro bem de alguns: “Bota as laranjas na carroça, no caminho elas se ajeitam”; “o boi sabe onde fura a cerca”; “pardal que acompanha joão-de-barro vai morrer servente de pedreiro”; “dia de muitos, véspera de poucos; “a ingratidão tira a afeição”; “urubu quando tá de azar, o de baixo caga no de cima”.
“Um burro carregado de livros não é doutor”; “passarinho que canta muito caga no ninho; “dia de muitos, véspera de poucos”, “cego quando vê muita esmola desconfia”; “passarinho que dorme com morcego acorda de cabeça pra baixo”; “Deus não dá asa a cobra”; “macaco que muito pula quer dançar”; “tempero de comida é fome”; “em rio que tem piranha jacaré nada de costas”; “a pensar morreu um burro”; apressado come cru”.
E tem mais: “cada cabeça uma sentença”; “cavalo dado não se olha os dentes”; “devagar com o andor que o santo é de barro”; “macaco velho não pula em galho seco”; “bolso de otário é nas costas”; “não grite sua felicidade, a inveja tem sono leve”; “nem tanto ao mar nem tanto à terra”; “o barato sai caro”; “o homem é senhor do que pensa e escravo do que diz”; “o que não mata, engorda”; “quanto mais alto, maior a queda”; “quem desdenha quer comprar”; “quem não é visto não é lembrado”.
Lembrando mais alguns: “a formiga sabe a folha que corta”; “a lua não fica cheia em um dia”; “a noite é boa conselheira”; “a pior roda é a que mais chia” (no futebol, o jogador que mais reclama geralmente é o pior); “antes perder a lã que a ovelha”; “aos meninos e aos borracho, põe sempre Deus a mão por baixo”; “boi ladrão não amanhece na roça”; “casa onde não entra sol, entra o médico”; “de janeiro a janeiro o dinheiro é do banqueiro”.
Meu pai tinha uma padaria e queria abrir um segundo negócio. Foi se aconselhar com meu avô materno, Chico Ribeiro, que disse logo: “Waldemar, ou você toca o sino ou acompanha a procissão”.