Gotejando... Gotejando... Na poeira do meu pranto pinga tristeza e pinga alegria... Pinga permanência e pinga mudança... Pinga amor e pinga esperança...
Em benefício da verdade, desde sempre a poeira do meu pranto pinga!! Pinga também nos meus DESERTOS... Sim, ela pinga. Já andei pelos meus DESERTOS pingando...
Na aridez descobri que ser quem se é também é aceitar o que vier, o que a vida der e é sobretudo — e em grande parte —, uma maneira de me tornar Oásis no meu inóspito.
Sou o absurdo. Sou vida, sou florescer. Sou crescimento e desenvolvimento na “desértica” do SER.
Há sempre um estrangeiro em mim... Um alguém em permanente busca... E na trilha dos meus DESERTOS, na velha mochila encarnada — companheira de todas as horas —, sempre levo a gentileza.
Entre meus pertences levo minhas poeiras... Muitas inseguranças, sonhos desfeitos, fracassos e incertezas...
Caminhando em meus DESERTOS bebo. Centenas de milhares de coloridos drinks feitos com doses cavalares de saborosas lembranças...
Brindo DESENCONTROS, ENCONTROS e REENCONTROS...
Na empedrada estrada do meu DESERTO há também banquetes. Me alimento de empatia — de muitas pratadas dessa iguaria.
O prato principal da festa da minha vida é sempre regado a uma enorme capacidade de me emocionar, de me comover e de tentar alcançar o outro além de mim.
Nos meus imensos DESERTOS há montanhas de gente humilde e de gente soberba. Há subidas e há descidas, e há sinuosidades no caminho... Há luzes e há sombras, há sons e há, sobretudo, silêncios...
As vezes, chove em meus DESERTOS... “Precipitar-me” é o que me resta nesses momentos... Me permitir gotejar pela varanda dos meus olhos postos no horizonte engrossa toda essa chuva... Tudo em volta é temporal.
E, quando chove assim, meus DESERTOS são também movidos por grandes tempestades. Sou barco a deriva encharcada em meus "naufrágios" temporários de poeira de areia que pinga.
Mal tempo propõe mergulhos profundos: imersão e emersão. E entre um afundo e outro trago o melhor que posso extrair da minha essência.
“Precipitar-me” é, portanto, receber o anúncio do fim de um ciclo... É um permitir gotejar a utopia proposta por um novo dia...
Posso dizer de mil maneiras o que é “precipitar-me”!! Não duvide!!
[...]
“Precipitar-me” é gotejar estrelas no negro manto da noite...
"Precipitar-me" — em carreira de pingos —, é dar vazão a pressão da água contida em minha atmosfera emocional...
"Precipitar-me" é aumentar a minha "umidade relativa"... É dar expressão maior aos meus sentimentos.
É preciso “precipitar-me”...”Precipitar-me”... “Precipitar-me”...
Foi permitindo “precipitar-me” que aprendi a ser CALHA. E calha sendo deixei você me beber e saciei a sua sede. Porque em meus DESERTOS ninguém se desidrata.