Helô Sampaio

Só mesmo uma pandemia para me transformar em uma "moça séria"

Foto: Retha Ferguson/Pexels/Creative Commons

Ouço agora Edith Piaf, depois de me emocionar com Bethânia e Caetano, xamegar com Nelson Gonçalves e Elis Regina, e ‘passear’ pelos variados estilos musicais deste nosso brasilzão.

Fico enlevada com os excelentes pen drivers gravados nos bons tempos, quando, entre um trabalho e outro, sentava com a ‘tchurma’ para a cervejinha e ouvir as novidades da nossa maravilhosa MPB .

Lembrei disso porque nunca pensei de ouvir tanta música e ver tanta televisão quanto agora, nesta prisão doméstica. Não, nem estou tendo paciência para ler, pois passei a vida toda tendo que ler e escrever. Agora, só quero ouvir música e fazer palavras cruzadas, meu ‘hobby’ preferido. He-he.

Mas tem horas que dá um desânimo... fico com vontade de fazer nada, parada, olhando o tempo ou o nada; aí penso na vida. Sinto falta, muita saudade dos irmãos.

Essa mudança inesperada fez com que eu me recolhesse em casa, com Jaci, minha colaboradora doméstica, e só me permite olhar para as nuvens, quase estão quase sempre plúmbeas, agourando dias de pouco sol. Mas ainda bem que daqui a um mês a boa e velha Primavera estará chegando com seu ótimo astral.

Sou mulher de primavera e de verão, de sol, calor e muito amor, muito frete, muita paquera e mais deboche. Com a idade tive que ficar mais recolhida, mais contida. Digamos que agora eu sou ‘moça séria’, moça de família (coisa que eu repudiava tempos atrás).

Sempre fui liberal, até um pouco escrachada (ih! Estou desencavando os termos antigos) nessa coisa de relação, pois acho que toda pessoa e todo sentimento devem ser respeitados, mas nunca limitados.

Tive muitas relações sérias, até longevas, mas sempre com umas ‘variações’ no meio (quando viajava), sem que a companhia do momento soubesse, lógico. Também, eu não tomava conhecimento do que o meu amor do momento estava fazendo quando eu não estava perto.

Sempre achei que chifre é natural do ser humano, boi usa de teimoso, ou não é, he-he? Graças ao meu bom astral tive uma ótima e animada vida, com muitos amores, onde fiz o que quis e pude fazer. Mas fazia as ‘coisas’ com discrição, respeito, sem machucar ninguém.

Não, não sinto falta ou tenho saudade, não. Só estou relembrando por ter que passar o tempo matutando aqui na minha varanda, sem poder ir pra rua ‘fazer nada’, sem poder nem ir para Itabuna pra fofocar com Ana, minha irmã e, juntas irmos para Conquista ver a outra irmã, Carmen, pra passear por aquela grande cidade desenvolvida, cheia de atrativos.

O programa principal é ir saborear as variadas e deliciosas comidas do Brito’s Restaurante no almoço, onde a gente também pode encontrar quase todos amigos da cidade. Além da comida gostosa e variada, o papo interessante completa o prazer.

Mas em Itabuna, também corro com Julinha Araújo, minha amiga de infância, pelos lugares gostosos da cidade e de Ilhéus. Julinha me ‘apresenta’ todos os ‘points’ de delicias culinárias da região. Mas não é só pra comer e beber, não. Também vamos rever os queridos amigos e os lugares da nossa adolescência. É matar saudade desta minha terrinha do coração. Amo demais.

Quando vou com Ana para Ibicaraí, meu irmão amadinho, Lula Sampaio, sempre surpreende com comidinhas especiais para as irmãzinhas do coração.

Lula é bom de política (herdou de meu pai) e ótimo de cozinha. Sempre foi o preparador dos rangos quando a gente voltava das festas de madrugada. (Também, se fossem esperar por mim, morria todo mundo de fome). Mas não é só pelo rango que vamos a Ibicaraí, não.

Lá ainda moram amigos queridos como Bau (Mariluzia), Rosilene, Braitt, e outros mais, apesar de muitos ter se mudado para outros lugares, a maioria para São Paulo, buscando melhoria de vida.

Houve um grande ‘êxodo urbano’ no inicio da segunda metade do século passado, quando a maioria dos jovens abandonou o interior da Bahia indo para o Sul em busca de melhoria de vida.

Eles foram para fora mas Ibicaraí não saiu de dentro deles. Nem de mim. Quando falo com Avelino – que mora no Rio – a conversa é sobre como está a cidade e os amigos da época.

Trabalhamos juntos no Centro Educacional de Ibicaraí onde eu era a Secretária Geral, e Avelino, o cobrador, pessoa da confiança de Vicente de Pula, o tesoureiro da instituição, pessoa muito querida.

Quando, era dia de prova e os pais do garoto não tinham dinheiro para pagar a mensalidade, Avelino pedia e eu dava baixa como se tivessem pago; mas, se depois eles não pagassem, danou-se, eu tinha que repor a grana para não complicar a vida de Avelino, ou, o mais frequente, ‘passar a lábia’ em Vicente – que tinha coração mole – e ele prorrogava o prazo para os devedores. Mas o menino não perdia o ano por causa disso. São boas as recordações desses tempos de grandes amigos e das ‘pintanças’ dos meninos, hoje grandes profissionais.

Mas agora chega de lembrança e, como diz minha loura linda, Elíbia Portela, vamos saborear esta deliciosa Torta Búlgara, iguaria originalmente baiana que conquistou e ultrapassou as fronteiras. É uma torta bem úmida, que parece mais um pudim denso, muito saborosa e viciante, avisa nossa loura. Aventais a postos, gostosões, vamos para a cozinha mostrar que ainda sabemos mexer com as panelas.

Torta búlgara de Elíbia

Ingredientes
-- 400g de manteiga sem sal
-- 200g de chocolate 50%
-- 200g de achocolatado em pó
-- 200g de açúcar refinado
-- 5 ovos inteiros
-- 5 gemas

Modo de preparar

1 - Levar uma panela antiaderente ao fogo e derreter a manteiga; com fogo baixo, adicionar os chocolates, mexendo bem. Repetir com a açúcar, mexendo muito. Acrescentar os ovos, um a um, também mexendo muito a cada acréscimo.

2 - Por fim, adicionar as gemas, também uma a uma, e após passa-las por uma peneira.

3 - Levar para assar em banho-maria, em forma untada com manteiga, forrada com papel manteiga e novamente bem untada. A temperatura deve ser entr 120 a 13 graus. Deixar por aproximadamente1h30min, até formar uma crostinha em cima da massa. Desenformar ainda morno. Preparar a calda:

Calda acetinada – misturar e usar uma caixinha de creme de leite sem soro e ¼ da latinha de leite condensado. Está pronta a delícia para deixar o amorzinho dengoso. Vamos aos beijinhos.