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Brasileira desenvolve nanopartículas de óleo de cozinha que ajudam controlar colesterol

O produto pode estar disponível no mercado em 2021

Foto: Pxhere.com/Creative Commons
Exame de sangue
Foram realizados testes com células em laboratório e com animais

Ela é dezoito vezes menor do que o diâmetro de um fio de cabelo. Trata-se de uma nanopartícula, ferramenta em estudo e, em alguns casos, já usada em diversas áreas.

Na saúde, por exemplo, promete ser um recurso eficiente na administração de medicamentos ao permitir a entrega de doses de fármacos reduzidas, porém melhor absorvidas.

Agora, um trabalho desenvolvido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) demonstra seu potencial na redução de taxas elevadas de LDL, o tipo nocivo de colesterol.

Em excesso na circulação sanguínea, a gordura contribui para a ocorrência de eventos cardiovasculares como o infarto, a principal causa de morte no País, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia – estima-se que sejam mais de mil óbitos por dia. 

Em seu doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a química de alimentos Valeria da Silva Santos desenvolveu nanopartículas de fitoesteróis, substância gordurosa produzida por plantas e encontrada em grãos e óleos vegetais como o de soja, porém em pequenas quantidades. A tecnologia possibilita sua maior funcionalidade na redução de colesterol. 

A razão é simples. O fitoesterol é, por assim dizer, parente, do colesterol.  Como o nome entrega, o colesterol também é um esterol, mas de origem animal.

No intestino, acontece uma espécie de competição entre eles na hora da absorção. “O organismo entende que são a mesma coisa”, explica Valeria. Daí, o LDL, a lipoproteína de baixa densidade, passa a transportar o fitoesterol em vez do colesterol, que acaba sendo eliminado.  

A especialista é uma das cofundadoras da startup Cognita Technology, formada por alunos e ex-alunos da Unicamp com o objetivo de usar a?nanotecnologia para aumentar a oferta de alimentos funcionais que ajudem na luta contra o colesterol alto.

No Brasil, só existe uma margarina no mercado com essa propriedade. As partículas usadas para carregar o fitoesterol têm entre 100 e 200 nanômetros – em uma escala menor do que 80 nanômetros, há risco de o produto causar danos a célulsa.

Essa medida de segurança precisa ser comprovada e um licença para comercialização vai ser pedida para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 


Para isso, foram realizados testes com células em laboratório e com animais.

“As nanopartículas não apresentaram toxicidade a nível celular”, conta Valeria. Nas cobaias, também não foram registrados problemas. Isso garante que não há perigo para o consumo.

A obtenção das nanoestruturas é feita por meio de emulsão de óleo em água e o composto bioativo, no caso o fitoesterol livre, que é cerca de dez vezes mais eficiente para diminuir o colesterol.

Por meio de alta pressão, a substância é atraída para dentro da partícula. Não são empregados solventes, sendo uma tecnologia amiga do meio ambiente.  

 A Cognita Technology está desenvolvendo sachês com as nanopartículas de fitoesteróis. A ideia é que o produto seja acrescentado a iogurtes e bebidas vegetais.  Se tudo der certo, ele deve estar disponível em 2021.