Foi um jogo para nunca esquecer. O Flamengo perdia para o River Plate por 1 a 0 até os 44 minutos do segundo tempo. Mas o Rubro-Negro carioca tem Gabigol. O atacante marcou 2 vezes e levou o Flamengo ao título da Copa Libertadores em 2019.
Foram 38 anos esperando e sonhando. Quem viveu 1981, viu um time de sonhos. Quem viveu 2019 viu de novo o Flamengo fazer história. Os últimos 31 dias – desde a vitória sobre o Grêmio por 5 a 0 na semifinal, em 23 de outubro – se arrastaram. Mas este sábado (23 de novembro) tão aguardado, enfim, chegou.
Em Lima, no Peru, o Flamengo enfrentou o River Plate, da Argentina, na decisão da Copa Libertadores 2019. Mais uma vez os jogadores do Rubro-Negro voltarão para o Brasil nos braços da Nação. Que ficou ao lado do time até o fim, mesmo quando o sonho do bicampeonato parecia ter escapado.
Diante do atual campeão da Libertadores, o Flamengo repetiu o feito de Zico, Júnior, Adílio, Nunes e de todo aquele time de 1981. Desta vez, para conquistar o troféu mais desejado da América do Sul, o Rubro-Negro contou com o artilheiro Gabriel Barbosa, além de Bruno Henrique, Arrascaeta, Everton Ribeiro e companhia.
O Flamengo comemora o título sobre o River Plate - Fotos: Alexandre Vidal/CRF
O título deu a classificação para o Mundial de Clubes, que este ano será entre os dias 11 e 21 de dezembro em Doha, no Catar. A estreia do Flamengo na competição está marcada para o dia 17, uma terça-feira, no Estádio Khalifa, contra o campeão da Ásia (Al-Hilal, da Arábia Saudita, ou Urawa Red Diamonds, do Japão) ou o Espérance, da Tunísia (campeão da África).
Como foi o jogo
O jogo começou com protagonismo ofensivo do Flamengo, que tomou a iniciativa e marcou presença no campo adversário. O River, porém, manteve a linha de defesa sólida e resistiu à pressão nos minutos iniciais.

A taça é do Flamengo!
Bem na marcação e objetivo no contra-ataque, o time argentino foi traiçoeiro e surpreendeu aos 15 minutos: Nacho Fernández cruzou rasteiro da direita, Arão e Gerson não cortaram e Borré apareceu livre para bater o goleiro Diego Alves.
Depois do 1 a 0, o Flamengo seguiu com mais posse de bola, mas o River manteve a solidez defensiva e passou a levar mais perigo, criando boa chance com De La Cruz, que não concluiu.
Já o time brasileiro não conseguia ameaçar Armani, que via seus companheiros subirem a marcação. A partir dos 20 minutos, a partida ficou mais aberta, mas sem grandes chances, exceto perigoso chute de Palacios de fora da área.
No segundo tempo, o Flamengo voltou com mais iniciativa e mostrou potencial com chute de Gabriel, de fora da área, aos dois minutos. O River respondeu na mesma moeda, novamente com Palacios, sem sucesso.
Aos 11, o time brasileiro teve sua melhor chance. Na área, Bruno Henrique cruzou rasteiro e Arrascaeta furou, mas a zaga não conseguiu tirar. Na sequência, Gabriel chutou em cima de De La Cruz e, no rebote, Éverton Ribeiro parou em Armani.
Pouco depois, Gerson acusou dores e foi substituído por Diego. E o River voltou a assustar: aos 21, Suárez recebeu dentro da área, livre, e cruzou rasteiro. Marí se esticou todo para cortar o perigo. Logo após, chute perigoso de Fernández.
A partida seguiu tensa e o Flamengo voltou a ter uma boa oportunidade aos 30 minutos: Diego tocou para Gabriel, que rolou para Éverton Ribeiro cruzar em direção a Arrascaeta, que errou o voleio. No rebote, Diego isolou.
Nos minutos finais, o time brasileiro foi para o 'abafa' e levou perigo com Gabriel, que teve bom passe para Bruno Henrique interceptado. Corte providencial para o River. O time argentino, porém, sucumbiria logo na sequência.
Aos 43, Bruno Henrique achou Arrascaeta dentro da área. O uruguaio cruzou rasteiro e achou Gabriel livre. O atacante só teve o trabalho de empurrar a bola para o fundo das rede. E ele não parou por aí.
Três minutos depois, após lançamento, o camisa nove levou a melhor sobre o zagueiro Pinola e soltou a bomba de pé esquerdo para virar o jogo.
Gabriel ainda seria expulso em confusão no fim da partida, mas isso não impediu o título dramático do Flamengo, campeão da Libertadores 38 anos depois.
Jorge Jesus, o "Mister", levou o Flamengo ao título - Foto: Alexandre Vidal/CRF
A conquista abre mais uma vaga na Libertadores de 2020 para clubes brasileiros. Agora, até o quinto colocado do Campeonato Brasileiro passa a se classificar diretamente para o torneio continental. O sexto e o sétimo avançam para a pré-Libertadores.
As zonas de classificação para a pré-Libertadores e para a Sul-Americana também serão alteradas. Com a presença de Flamengo e Athletico-PR entre os primeiros, Internacional e Corinthians, sétimo e oitavo colocados, respectivamente, estão na zona de classificação para a pré-Libertadores. Já a zona de classificação da Sul-Americana passa a valer até a 14ª posição no momento.
Escalação do Flamengo - Diego Alves; Rafinha, Pablo Marí, Rodrigo Caio, Filipe Luís; W. Arão, Gerson, De Arrascaeta, Everton Ribeiro, Bruno Henrique; Gabriel Barbosa.
Torcedores do Flamengo comemoram o virada histórica - Foto: Alexandre Vidal/CRF
A repercussão na Argentina
O jornal La Nacion descreveu como tudo desmoronou em um piscar de olhos. O jornalista Ariel Ruya escreveu: "O roteiro estava escrito, rubricado. Restavam dois minutos. Apenas 120 segundos". Mas um contraataque do Flamengo, "liderado por um Diego inoxidável, genial no fim de sua carreira, acaba em gol". Era o empate. E um par de minutos depois o atacante Rubro-Negro virava o jogo.
Para o La Nacion foi "a derrota mais dolorosa" do técnico Gallardo.
A medalha de prata doeu, destacou o jornal Olé, o Pagina 12 ressaltou a "estrela" de Gabriel, o artilheiro do jogo, e o Clarin lamentou que o River Plate tenha deixado escapar o título nos últimos minutos.
Já o Canchallena, especializado em esportes, colocou em manchete o que considerou "três minutos fatais", em que o Flamengo perdia o jogo e o título e fez 2 gols para vencer e trazer para o Rio de Janeiro o bicampeonato na Libertadores.
O Flamengo no topo da América
Na Espanha, o El Pais estampou no título: "Gabigol em estado de Zico", acrescentando que como fez "o eterno ídolo rubro-negro, Gabriel entra para a galeria de jogadores imortais ao conduzir o Flamengo a mais uma conquista da Libertadores".
Em Portugal, a manchete do Diário de Notícias foi "Jesus superstar", lembrando o filme musical britânico de 1973, Jesus Cristo Superstar, dirigido pelo cineasta canadense Norman Jewison. Acima do título, uma foto do técnico enrolado em uma bandeira do país (fato também destacado pelo Correio da Manhã).
Para o jornal português, Jorge Jesus "atingiu a glória que só Artur Jorge, Mourinho e Manuel José tinham conseguido [um troféu internacional]".
O jornal O Público comemorou "Os milagres de Jesus" e disse que com a vitória o treinador leva o Flamengo "ao altar da América do Sul".
Depois do jogo
O atacante Bruno Henrique lembrou a caminhada até o título. "O sonho começou em Oruro, passamos por muitas dificuldades, Emelec, Inter, Grêmio..."
E Rafinha ressaltou o momento histórico. "Vai ficar marcado, a gente merecia isso."
O vice-presidente de Futebol, Marcos Braz, elogiou o trabalho do técnico Jorge Jesus. "Acho que a gente venceu o jogo no intervalo. Quem estava lá sabe."
O técnico do Flamengo falou sobre o nível do jogo. "Quem viu essa partida vai perceber o nível que essa final teve. Foi melhor que o da Champions [em que o Liverpool venceu o Tottenham por 2 a 0]". E concluiu: "Esta final de hoje teve mais conteúdo tático, mais conteúdo técnico e, nas arquibancadas, foi muito mais bonito que Liverpool x Tottenham, em Madri, que foi uma partida que eu vi ao vivo".
Já o treinador do River Plate, Marcelo Gallardo, criticado após a partida por ter colocado o centroavante Lucas Pratto no segundo tempo (foi a partir de um erro do jogador que saiu o gol de empate) disse que a sensação, após a virada, "é dura, mas precisa ser digerida". Ele se mostrou orgulhoso da equipe. "Fizemos o que tínhamos que fazer, soubemos anular o poderia do Flamengo."
O volante Enzo Pérez lamentou: "O jogo estava morto, não acontecia nada. Não soubemos matar o jogo, eles reagiram depois do primeiro gol e depois nos liquidaram. Não tivemos tempo de reagir."
Escalação do River Plate - Franco Armani; Gonzalo Montiel, Lucas Martínez Quarta, Javier Pinola, Milton Casco; Enzo Pérez, Exequiel Palacios, Nicolás De La Cruz, Ignacio Fernández; Rafael Borré y Matías Suárez.
Marcelo Gallardo: "Fizemos o que tínhamos que fazer" - Foto: River Plate
Agora, Flamengo, Cruzeiro, Internacional e Atlético Nacional, têm, cada um, duas conquistas da Libertadores. O River Plate chegou ao terceiro vice-campeonato na história. São Paulo e Grêmio venceram 3 vezes.
A Argentina lidera no número de conquistas do torneio frente ao Brasil. Os argentinos têm 25 taças, contra 19 dos brasileiros.
O maior campeão é o Independiente, da Argentina (7 títulos).
Teve gol de Gabigol

Gabi(2)gols
O artilheiro da Libertadores da América deixou sua marca também na final. E não uma, mas duas vezes. A atuação decisiva, além de ajudar a recolocar o Flamengo no topo da América, rendeu ao atacante o prêmio de craque da partida. Com os gols deste sábado, Gabriel terminou a competição com 9 tentos em 13 jogos.
– Eu poderia falar muitas coisas. Mas primeiro quero agradecer a Deus por esse momento especial. Momento que ficará guardado para o resto da minha vida, momento histórico para todos nós, flamenguistas, brasileiros. Agradecer muito minha família, ao estafe, aos jogadores, à nação que invadiu Lima. Quero só agradecer. Momento histórico – declarou o jogador.
O primeiro gol de Gabriel Barbosa foi logo o da vitória rubro-negra na estreia da competição: 1 a 0 sobre o San José na Bolívia. Na segunda rodada, ele fez um no triunfo por 3 a 1 sobre a LDU.
Já na segunda fase, foram do camisa nove os dois gols na vitória sobre o Emelec, que levou a decisão das oitavas para os pênaltis e classificou o time às quartas.
Depois, frente ao Internacional, Gabriel garantiu o empate em 1 a 1 no Sul.
Nas semifinais, mais dois gols contra o Grêmio, no histórico 5 a 0 no Maracanã.
Bruno Henrique é o melhor da Libertadores
Contratado no início da temporada, Bruno Henrique ganhou destaque desde as primeiras partidas no ano, seja com gols ou assistências. Na Libertadores, não foi diferente. O atacante fez 5 gols e distribuiu 5 passes precisos para os companheiros. Com isso, o jogador do Rubro-Negro venceu a eleição contra o companheiro Gabriel Barbosa, Nacho Fernández e Nicolás De La Cruz, ambos do vice-campeão River Plate.
O atacante do Flamengo foi eleito o craque do torneio em 2019 - Foto: Alexandre Vidal/Flamengo
– O mais importante é a vitória, se sagrar campeão aqui hoje. Estão todos de parabéns por essa performance na Libertadores. Eu só tenho que agradecer a Deus. É ele que me faz levantar todos os dias para trabalhar, dar o meu melhor. Só agradeces a Ele e minha família, que sempre acreditou em mim – comentou o jogador após partida.
A votação foi aberta ao público no site de uma das patrocinadoras da Libertadores, mas também contou com um júri técnico. Com o prêmio, Bruno Henrique ainda recebeu um anel de ouro com 128 pedras de diamante.