Comportamento

Quase 40% das mulheres no País abrem mão da maternidade

No Brasil, 37% das mulheres não querem ter filhos

Foto: pxhere/Creative Commons

Por muito tempo acreditava-se que toda mulher queria e deveria ser mãe. Pouco se ouvia falar abertamente sobre o desejo da mulher de não querer engravidar. Mas com o crescimento e fortalecimento do movimento feminista, principalmente com a força adquirida na internet, as mulheres estão se manifestando mais abertamente sobre a sua vontade de abdicar da maternidade.

No Brasil, 37% das mulheres não querem ter filhos, é o que aponta uma recente pesquisa global da farmacêutica Bayer, com apoio da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, e do Think about Needs in Contraception (TANCO), feita com mais de 7 mil pacientes, sendo 1.113 brasileiras.  Já no mundo, 72% não querem filhos no período entre os três e cinco próximos anos, pelo menos.

Com base nos dados da pesquisa, eu e uma amiga realizamos uma enquete em nosso instagram perguntando se as mulheres queriam ou não ser mães. Deixamos a pergunta 24h em nosso stories e tivemos o seguinte resultado:  60 mulheres que votaram na enquete desejam ter filhos, 27 não querem.

É importante ressaltar que a nossa rede de seguidores no instagram é de um público mais jovem, dos 16 anos aos 40, sendo a maioria de 20 a 30 anos.

Também perguntei o motivo das respostas, e a maioria que respondeu sim relacionou o desejo de ser mãe à realização pessoal. “Ser mãe deve ser a melhor experiência que deve existir”, “é ter um sentido para viver”, “sinto que serei ainda mais realizada e feliz”, “quero ter uma família”, “quero que meu legado perdure através dos meus filhos”. A maioria dos nãos não descartaram a possibilidade de terem filhos, mas no momento não possuem o desejo. “Talvez um dia, agora não”, “eu amo a minha liberdade”, “o mundo está tão ruim que não sei se quero um filho para viver assim”.

Para a estudante BI em humanidades Larissa Ferreira, 18 anos, suas realizações pessoais não incluem uma criança. “Acho que a mulher pode sim ter filho, ser bem-sucedida e tudo que ela quiser, só que ser mãe não é uma vontade que tenho, até porque os meus sonhos são muitos mais ligados à minha pessoa do que as outras. Também me preocupo com o momento que estamos vivendo, com o meio ambiente sendo tão maltratado, se é em um lugar assim que uma criança deve crescer”, explica.

Em conversa em um grupo com 6 amigas no WhatsApp, fiz as mesmas perguntas, e somente 2 falaram que precisam pensar no assunto, não descartando a possibilidade, mas acreditam que para ser mães precisam primeiro conquistar uma independência e estabilidade financeira, realizar alguns desejos pessoais, como viajar o mundo, e ter a idade ideal para engravidar.

Uma delas, a estudante de psicologia Priscila Rodrigues, 22 anos, revelou que não pensa nisso agora. “Talvez muito lá para frente eu pense nessa possibilidade, mas daqui até eu ter uma estabilidade para ter um filho, eu sonho em viajar o mundo e fazer outras coisas, acho que um filho meio que atrapalharia isso”.

Já Talissa Alves, 21 anos, também estudante de psicologia, acha que ser mãe depende de vários fatores, como situação financeira, carreira profissional, preparação psicológica, rotina entre outros. “Vontade eu até tenho, mas acredito que para colocar uma criança no mundo é necessário muito mais que vontade”, revela.

Métodos contraceptivos

O estudo também revela que a baixa adesão das mulheres aos métodos de longa duração tem relação direta com a falta de informação sobre o tema. Quase 70% das participantes da pesquisa afirmaram que considerariam o contraceptivo de longa duração se recebessem mais informações de seus médicos.

Hoje o método mais utilizado é a pílula anticoncepcional, adotado por três em cada dez mulheres. Já uma entre cada dez usa apenas camisinha. Além disso, 51% das brasileiras já utilizaram a pílula do dia seguinte pelo menos uma vez.

“Eu não colocaria DIU. Todo mundo que eu conheço e colocou, o ciclo ficou maior e mais intenso, acredito que aconteceria o mesmo comigo porque meu ciclo já é forte, o que reduz é o anticoncepcional. Eu consigo ficar no máximo três meses sem tomar anticoncepcional”, revela Talissa.

A jornalista Alana Almeida, 23 anos, também tem medo de colocar o DIU. “Eu já ouvi algumas histórias sobre pessoas que colocaram, que o DIU até furou o útero. Não colocaria, tenho medo que possa acontecer comigo também”.

Com Priscila é diferente. Além do ciclo menstrual ser fraco, ela explica que o anticoncepcional está fazendo mal e quer parar de usar o remédio, por isso pesquisou e procurou saber com sua ginecologista sobre o DIU. “Nunca foi oferecido essa opção, mas eu pesquisei e me informei, perguntei a minha médica, porém ela só coloca particular e custa R$1.500,00. Ela até indicou outra profissional, mas por não conhecer não sinto confiança para fazer o procedimento”.

L. A, 27 anos, também pretende colocar o DIU. “Eu tomo remédio a 6 anos e ano passado comecei a ter efeitos colaterais, a engordar bastante. Eu consegui pelo SUS o DIU de cobre, mas estou juntando para colocar o Mirena, que custa R$500 reais”.

A estudante Ana Carolina Pinheiro, 17 anos, também teve que parar com o anticoncepcional porque o remédio começou a causar fortes dores de cabeça. “Eu tomo outras precauções, mas é meu sonho ser mãe. Quando fizer 24 anos, acredito que já vai ser a hora, se tudo der certo até lá”, idealiza.

Além da pílula anticoncepcional, as mulheres podem evitar a gravidez por meio de outros três métodos contraceptivos: o DIU hormonal (SIU – Sistema Intrauterino) que permanece no lugar por até cinco anos; o   DIU de cobre que pode durar até 10 anos; e o implante hormonal que dura até 3 anos. Tanto o DIU hormonal como o DIU de cobre são pequenos dispositivos em forma de T, inseridos no útero. Já o implante fica logo abaixo da pele, na parte superior do braço.

DIU pelo SUS

DIU de cobre é disponibilizado em Unidades Básicas de Saúde (SUS), podendo ser colocado desde a adolescência até a menopausa. O primeiro passo é procurar uma Unidade Básica de Saúde ou hospitais com atendimento ginecológico e agendar uma consulta com um ginecologista da rede pública. Para isso a paciente precisa ter o cartão do SUS.

Durante a consulta a paciente deve manifestar o seu interesse em colocar o DIU de cobre, então o médico irá encaminhá-la para uma consulta de planejamento familiar para conhecimento de outros métodos contraceptivos disponíveis, analise do seu perfil e esclarecimento de dúvidas. Lembrando que essa etapa não é obrigatória, mas é de extrema importância para a mulher.

Depois o médico ginecologista irá solicitar uma série de exames pré-operatórios para avaliar se o corpo da mulher está realmente apto para o DIU. A paciente deve esperar por algum tempo até a data da cirurgia, que pode ser de 15 dias até dois meses.