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Animais que vivem em Salvador: riscos e benefícios dos morcegos

No Brasil existe uma lei que garante a preservação dos morcegos

Foto: Pixabay/Creative Commons
Morcego e lua cheia
A interação entre morcegos e os habitantes das cidades às vezes sai do controle

No dia 12 de maio de 2017 uma notícia alarmou a população de Salvador: 17 pessoas foram atacadas por morcegos no Bairro do Santo Antônio Além do Carmo.

O Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da Prefeitura investigou e chegou à conclusão de que algum tipo de desequilíbrio no habitat dos morcegos havia provocado a reação dos animais, que moram nos muitos casarões abandonados do Centro Histórico.

Nas cidades, locais escuros, silenciosos e sem movimentação são a moradia dos morcegos, e como não há animais de grande porte, como cavalos e bois, eles atacam cães e humanos.

Num aglomerado urbano como Salvador, onde a vegetação nativa vem sendo derrubada drasticamente, é natural que os morcegos  tentem se adaptar às mudanças, passando a habitar locais construídos por humanos.

Mas essa interação entre morcegos e os habitantes das cidades às vezes sai do controle e situações como as os ataques no Santo Antônio Além do Carmo tendem a acontecer.

Mas o que você faria se vivesse em uma realidade onde seu habitat fosse cada dia sendo mais reduzido? Como você faria para sobreviver?

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O Leiamais.ba conversou com o biólogo Norlan dos Santos, doutor em Ciência Animal nos Trópicos da Escola de Medicina Veterinária da UFBA e mestre em Ecologia e Biomonitoramento (ECOBIO-UFBA) que ressalta a importância dos morcegos, dentro de uma cidade com poucas áreas verdes, um verdadeiro ecossistema construído com muito concreto.

Segundo ele, os morcegos exercem funções importantes. Equilibram a existência de insetos dentro de uma determinada região,  são fundamentais  no processo de polinização e facilitam a dispersão de sementes. Portanto, são animais que exercem um importante papel para o equilíbrio ecológico.

O biólogo fala de algumas das condições que podem facilitar a prevenção do tipo de situação como a que ocorreu no bairro de Santo Antônio, como a preservação das áreas de fragmentos urbanos de mata. “Essas áreas funcionam de modo fundamental para o equilíbrio ecológico e, por consequência, provavelmente possuem papel importante para o controle de zoonoses”, afirma Norlan dos Santos, destacando a  importância do equilíbrio das populações das espécies de morcegos e a dependência dos mesmos em relação a essas áreas de vegetação.

Para ele, Salvador ainda apresenta como característica fundamental a permanência de parques urbanos, que deve ser considerada como estratégia importante, a ser priorizada e mantida. No entanto, a cidade carece de um investimento em estudos que facilitem o mapeamento das áreas em que esses animais se encontram com mais frequência.

“Eu desconheço estudos realizados em Salvador que sejam sistemáticos permitindo a definição da espécie com maior número de seres. Entretanto, é importante esclarecermos que as espécies mais comuns são de morcegos que se alimentam de frutas (frugívoros) ou de insetos (insetívoros). Adicionalmente devemos salientar a necessidade de realizarmos estudos amplos e sistemáticos das populações de morcegos para que entendamos qual a distribuição deles na cidade do Salvador”, acrescenta Norlan.


Morcegos podem transmitir várias doenças - Imagem: Pixabay/Creative Commons

O que fazer em caso de contato com um morcego

A Secretaria Municipal Saúde (SMS), através  do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), orienta sobre o que fazer em caso de invasão de morcegos ou de contato perigoso com o animal. Segundo o órgão, é importante observar se há morcegos circulando durante o dia e se há animais mortos, já que estes são sinais de que pode haver contágio por raiva.

Qualquer tipo de morcego adoece e pode contrair raiva e transmitir para humanos e outros animais através de mordedura, arranhadura ou contato direto com a saliva. E não são só os morcegos hematófagos – aqueles que não se alimentam de sangue, que podem transmitir a doença. Afinal, morcegos são mamíferos.

Além da raiva, os morcegos podem transmitir doenças como salmonelose, que causa infecção intestinal, e histoplasmose, que traz problemas respiratórios.

O Centro de Controle de Zoonoses  orienta também sobre como agir quando o animal entrar na residência: não se deve tentar pegar com as mãos sem proteção diretamente no morcego. O ideal é  tentar imobilizá-lo colocando sobre ele um balde, um pano ou uma caixa, e chamar o centro de Controle de Zoonoses pelo telefone 156 ou ainda pelos telefones 3611-7331/3611-7310.

Caso tenha havido algum contato direto, com mordedura ou arranhão, é preciso procurar imediatamente orientação médica. Se foi um animal de estimação que teve o contato, é preciso  informar o CCZ para receber as orientações, pois existe um protocolo de orientações para animas que tiveram contato de morcegos.

Para evitar que os morcegos entrem em casa – é importante não tentar matar o animal, afinal eles têm direito de viver e têm uma função no ecossistema – a orientação é de manter janelas e basculantes fechados.

Saiba mais sobre os morcegos

Entre os mamíferos que começaram a tomar conta do planeta depois que os dinossauros foram extintos, o morcego é um dos mais antigos. O fóssil de morcego mais velho já encontrado tem cerca de 50 milhões de anos e parece bastante com os espécimes atuais.

Há hoje no mundo cerca de mil espécies identificadas e morcegos em quase todos os ecossistemas do planeta, mesmo nos muito frios.

O maior deles é o Pteropus giganteus, que vive na Ásia e Oceania e pode chegar a quase dois metros de envergadura. O menor morcego é o tailandês Craseonycteris tonglongyaii, que pesa cerca de dois gramas e está entre os menores mamíferos do planeta. No Brasil, há 138 espécies, espalhadas por todo o país e de tamanhos e cores variados. A maior espécie é o carnívoro Vampyrum spectrum, encontrado na Amazônia, que atinge um metro com as asas abertas.

Apesar de pequenos, os morcegos têm uma vida relativamente longa, podendo chegar até 20 anos na natureza. Os morcegos têm poucos cones na retina, isso quer dizer que eles possuem uma percepção de cores muito limitada. No entanto, sua principal forma de orientação na natureza é pela ecolocalização e é por isso que geralmente esses animais possuem orelhas grandes, olhos pequenos e grandes cavidades nasais, pelo fato de ser o principal recurso de orientação, detecção de alimentos e obstáculos durante o vôo.

Entre todos os mamíferos, os morcegos são os principais dispersores de sementes na natureza, algo que ajuda significativamente para a variação da vegetação no ambiente. Além disso, esses seres desempenham importante papel também para a área de estudos epidemiológicos, farmacológicos e na pesquisa de mecanismos de resistência a doenças e desenvolvimento de vacinas.

No Brasil existe uma lei que garante a preservação dos morcegos, o Artigo 1º da Lei 5197 de 3 de janeiro de 1967 diz: “Os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro, constituindo a fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais são propriedades do Estado, sendo proibida a sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha.”

No entanto, isso não ocorre na prática e existem espécies desses animais que estão marcadas com risco de extinção. Os morcegos são ameaçados por inseticidas, desmatamento e até mesmo pela falta de conhecimento e a quantidade de lendas que foram criadas em torno desses seres que sempre são vistos como animais perigosos que se alimentam de sangue e que, no entanto, em sua maioria são insetívoros.

São espécies da ordem dos quirópteros (caracterizada por animais de hábitos noturnos e majoritariamente insetívoros) e costumam ser encontrados em locais remanescentes de mata, onde é possível que encontrem fontes de alimentos variadas. Eles podem apresentar, entre outros, hábitos de folivoria (se alimentam de folhas), pscivoria (se alimentam de peixes) e hematofagia (se alimentam de sangue). As espécies mais comuns de morcegos se alimentam de frutas (frugívoros) ou de insetos (insetívoros).