Cidade

Moradores e turistas enfrentam os 6,7 km da Cidade Baixa ao Bonfim

A cor de Oxalá (branca) estava na maioria das roupas

Foto: Leimais.ba
A pé ou de carro, moradores e visitantes mostravam sua fé no Senhor do Bonfim
A pé ou de carro, moradores e visitantes mostravam sua fé no Senhor do Bonfim

Leiamais.ba
Cobertura da Lavagem do Bonfim:
Doris Pinheiro, Monalisa Leal, Rosana Andrade, Felipe Belmonte, Antonio Muniz, Roberto Aguiar, Djair Sant'Anna, Gina Marocci, Alberto Oliveira

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A segunda quinta-feira do mês de janeiro já estava na agenda de muitos devotos e turistas do mundo inteiro. Muitos vieram preparados para enfrentar os  6,7 quilômetros de caminhada entre as igrejas da Conceição da Praia, na Cidade Baixa, e do Bonfim, na Colina Sagrada, homenageando os santos católicos e orixás do candomblé.

Eles se muniram de tênis, chapéus, água e câmeras para registrar a festa. Outros nem estavam tão preparados assim. Quem veio de regiões mais frias sentia o sol forte e o calor de 29 graus em Salvador, mas sem reclamar. Pelo contrário, com um sorrisão no rosto, fé e devoção. 

“Lavagem do Bonfim já faz parte do meu calendário de eventos há quase dez anos. Sou de Petrolina e este ano paguei caro na passagem porque comprei de última hora, mas está valendo a pena. Agradecer e se divertir pra começar o ano com o pé direito”, disse Nathali Vasconcelos, que é católica, admiradora e estuda religiões de matrizes africanas. 

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A cor de Oxalá (branca), o deus Yoruba sincretizado na imagem católica do Senhor do Bonfim estava na maioria das roupas. Viam-se muitos trajes típicos, turbantes, colares, braceletes, saias longas e bem engomadas.

As baianas carregavam moringas e potes cheios de água perfumada para a lavagem das escadarias da Igreja do Senhor do Bonfim, encantando moradores e visitantes.


E foram muitos os exemplos de fé - Foto: Leiamais.ba

O  cortejo saiu da Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, no bairro do Comércio, pouco antes das 9h desta quinta-feira (17/1), em direção à Colina Sagrada.

“É uma festa que realmente encanta. A gente vem pra Lavagem do Bonfim e é só paz, momento de purificação. Já venho há muitos anos e sempre é uma emoção diferente, gosto muito de sentir essa energia”, afirmou a devota Dora Browne.

Veja no vídeo - Um exemplo de fé

47 entidades

Bloquinhos e minitrios, fanfarras e DJS davam o tom profano da festa. 47 se cadastraram para o cortejo.

A entidade com o maior número de participantes é a Devoção do Senhor do Bom Jesus do Bonfim, com 3 mil integrantes. A Associação Filhos de Gandhy sairá com 800 pessoas e a Banda do Mestre Memeu com 700.

Mas 2 se destacavam pelo baixo número de participantes. José Eduardo se cadastrou junto à empresa de turismo do município, a Saltur. A previsão é de apenas 2 participantes. E havia menor, ainda. Paulo Sérgio levará o DJ Móvel para o cortejo. Número de participantes: 1.


O Bloquinho Marana, na Conceição da Praia - Foto: Leiamais.ba


Microtrio fazendo a festa - Foto: Leiamais.ba

Protestos

A Festa do Bonfim dá espaço tanto aos que desejam expressar sua fé quanto aos que pensam apenas em se divertir ou a grupos que aproveitam a caminhada para protestar.

Aprovados no último concurso do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), que aguardam nomeação do órgão desde 2014, programaram um ato contra a demora do TJ. 

A ação tem o objetivo de chamar a atenção dos dirigentes do órgão para a necessidade de convocação dos profissionais. Cerca de duas mil pessoas aprovadas em cadastro de reserva estão esperando pela nomeação.

De acordo com Jakson Rodrigues, um dos aprovados, "a reivindicação é legítima, visto que existe um déficit de mais de 25 mil vagas para servidores no TJ, um número superior de cargos comissionados do que estipula a legislação, servidores sobrecarregados e comarcas fechando ou funcionando de forma precária por falta de pessoal – o que impacta negativamente no acesso à Justiça, por parte da população".


Protesto contra o TJBA


A violência contra as mulheres e o decreto do presidente Jair Bolsonaro facilitando a posse de armas também foram temas de protestos

Segurança

Fé, diversão e protestos seguiam juntos e misturados, com a proteção de 1.803 policiais militares distribuídos ao longo do cortejo e nas principais vias de acesso à festa.

O policiamento foi montado a partir das 5h, com o efetivo atuando em patrulhas, nos 20 postos elevados de observação, em barreiras de trânsito apoiando à Transalvador, além do apoio de viaturas (carros e motos), cavalos, helicóptero e drone.

Foram empregadas equipes do Comando de Policiamento Regional Baía de Todos os Santos (CPRC-BTS), do Comando Especializado (CPE) e do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP).

A Polícia Militar dava atenção especial às principais vias de acesso ao trajeto e entorno da festa, corredores de tráfego, estações de metrô e pontos de ônibus, bem como aos eventos paralelos.

Correndo

Se uma multidão (20 mil pessoas, de acordo com previsão da Prefeitura) caminhava até o Bonfim, mais de 900 pessoas (de 16 a mais de 80 anos) foram correndo. Elas fazem parte da Corrida Sagrada e saíram às 7 horas da Conceição da Praia em direção à Basílica do Bonfim. 

O policial militar reformado, de 65 anos, Roberto de Jesus Santana, participa há cinco anos da corrida. Em 2019 fez a prova em 50 minutos. Já acumula mais de 70 medalhas no atletismo e futebol amador. "Muita fé e paz para começar o ano"

Nancy Lima, de 68 anos, já participa da prova há mais de 30, tendo 8 troféus de primeiro lugar em sua estante. Iniciou no esporte com a natação aos 40 anos, depois mudou para a corrida. "Essa é diferente. Emocionante. Nos acorda para o ano que se inicia", disse.

Com 58 anos, o juiz de Direito Rilton Góes Ribeiro, participa há 15. A cadeira de rodas não é desculpa para não encarar o desafio. Rilton também pratica basquete em cadeira de rodas. "O esporte e a fé nos fortalecem."


Marivaldo Brito: atletismo, basquete e dança - Foto: Antonio Muniz/Leiamais.ba

Para o técnico de manutenção em materiais hospitalares, de 48 anos, Marivaldo Brito, a cadeira de rodas também não o impede de participar há quase 30 anos. Além do atletismo ele ainda pratica basquete e dança.