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Polícia prende 110 pessoas e registra 3 mortes no Ceará

Força Nacional reforça segurança em terminais de Fortaleza

Foto: José Cruz/Agência Brasil
Com medo, os moradores se trancam em casa
Com medo, os moradores se trancam em casa

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) atualizou para 110 o número de pessoas capturadas por envolvimento nas ações criminosas registradas no estado há cinco dias. No total, até agora, foram 76 presos e 34 adolescentes apreendidos.

Na madrugada deste domingo (6), dois suspeitos, ainda não identificados, morreram, após troca de tiros com a Polícia Militar, no bairro Granja Portugal, segundo informou a secretaria.

Pela versão oficial, os suspeitos tentarem atear fogo em um posto de atendimento do Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Na última quinta-feira (3), outro suspeito de tentar destruir um radar de trânsito foi alvejado pela PM e morreu. Também foram foram apreendidos, segundo as forças de segurança, coletes à prova de bala, um revólver calibre 38, cartuchos de munição, coquetéis molotovs, galões de combustíveis, além de um veículo.

Entre as autuações, está ainda a de um suspeito, preso em flagrante, pela venda irregular de combustíveis a grupos criminosos. Um caminhão-tanque foi apreendido e o homem foi encaminhado para a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco). Segundo as apurações, o suspeito vendia cada galão de gasolina a R$ 70.

Agentes da Força Nacional de Segurança também estão atuando nas ruas da capital desde ontem (5). A reportagem da Agência Brasil registrou a presença do efetivo em algumas avenidas e terminais de ônibus da capital. No terminal Antônio Bezerra, no bairro de mesmo nomes, os agentes davam suporte à segurança do local, de onde partiam e chegavam ônibus urbanos que circularam pela capital ao longo do dia. Uma equipe de três policiais militares escoltava cada veículo coletivo.


Força Nacional de Segurança Pública faz policiamento ostensivo em Fortaleza - Foto: José Cruz/Agência Brasil

Transporte comprometido

Ao todo, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus) disponibilizou, durante a tarde deste domingo, um total de 136 veículos, que operaram 81 linhas. As operações, no entanto, sofreram ao menos duas interrupções, de duas horas cada, para a troca de turno dos policiais militares que faziam a segurança dos coletivos. Em um dia normal, a frota de ônibus é de 1.810 veículos urbanos e 350 metropolitanos.

Na entrada do terminal Antônio Bezerra, o moto-taxista Gilvan de Brito contou que faturava mais do que o habitual. Apesar do aumento do movimento, ele lamentou a situação para os moradores da capital. "O movimento aumentou uns 50%, mas a gente sabe que é uma situação de muito transtorno para a população", disse.

Por volta das 14h, a garçonete Danuzia Lacerda aguardava um ônibus no terminal, para chegar ao trabalho. A previsão, no entanto, era de que as linhas do terminal só voltariam a operar por volta das 17h. "Ontem eu tive que faltar ao trabalho porque não tinha transporte. Vamos ver se hoje consigo chegar", relatou. As principais ruas e corredores de ônibus da capital cearense estavam vazios neste domingo. Uma cena rara, segundo o taxista Ronaldo Barros.

"Domingo já é um dia com movimento, mas eu jamais vi a cidade sem praticamente nenhum ônibus coletivo nas ruas, ainda mais nas principais avenidas, onde há corredores e estações exclusivas", afirmou.

A partir de meia-noite, 20 linhas de ônibus “corujões”, que atuam na madrugada, serão escoltadas por viaturas da Polícia Militar em Fortaleza, visando inibir ações criminosas contra os veículos de transporte de passageiros.

Quem precisa se deslocar na região metropolitana de Fortaleza, seja para trabalhar, visitar familiares ou outro compromisso, enfrenta muitas dificuldades com a redução da frota de ônibus, após a série de ataques contra veículos, órgãos públicos, agência bancárias, estabelecimentos comerciais e equipamentos de segurança do Ceará.

Os atentados, organizados por facções criminosas, seriam uma represália ao anúncio do governo estadual de medidas para endurecer as regras no sistema penitenciário do Ceará. O governador do Ceará, Camilo Santana, avisou que não vai recuar no combate ao crime e à violência que se agravaram nos últimos dias no estado.

Pelas ruas da capital cearense, o que se percebe é a baixa circulação de ônibus. Os poucos veículos vistos pelas ruas estão sendo escoltados por três policiais militares cada um. Eles viajam dentro dos próprios veículos para evitar qualquer tipo de ataque. Desde a última quarta-feira (2), já foram incendiados 22 ônibus em Fortaleza, região metropolitana e cidades do interior.

O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus) anunciou que a operação emergencial de ônibus vai continuar neste domingo (6). Em Fortaleza, 77 linhas de ônibus estão disponíveis aos usuários, com uma frota total de 108 ônibus. Para se ter uma ideia, a frota normal é de 1.810 ônibus urbanos e 350 metropolitanos, em mais de 300 linhas.

Outra medida para inibir as ações criminosas, segundo as forças se segurança, são as operações com blitze da Polícia Militar do Ceará. Ao todo, 20 barreiras foram montadas em bairros e avenidas estratégicas da capital com mais de 100 profissionais de segurança empregados.

Turismo comprometido

Em um hotel do bairro de Praia de Iracema, zona turística da cidade, por exemplo, dois funcionários que trabalham na recepção não vieram trabalhar neste domingo por falta de transporte público. O gerente do hotel, Hélder Moreira, que tem carro próprio, teve que substituí-los. Em plena temporada de verão, a onda violência tem preocupado os turistas que tem pacotes para visitarem a cidade, conta o gerente.

"Desde que eclodiu a violência, temos recebido ligações de turistas, que já tem pacotes comprados para Fortaleza, pedindo informações sobre o cancelamento", relata Hélder. O auxiliar de serviços gerais José Almir, que trabalha na área de manutenção de um hotel da cidade, conta que conseguiu pegar um ônibus de Maranguape, cidade da região metropolitana, até o centro da capital, mas o restante do percurso até a orla de Iracema, ele teve que percorrer a pé, andando cerca de 4 quilômetros. "Os ônibus que vi circulando em Fortaleza estão sendo acompanhados por policiais", relatou.    

Em um shopping da cidade, funcionários de uma loja, que encerraram o expediente às 22 horas da última sexta-feira (4), não tiveram como retornar para suas casas e dormiram no próprio estabelecimento, por falta de transporte no horário da noite. A vendedora Ana Moraes, que trabalha no local, só tem conseguido chegar ao trabalho, nos últimos quatro dias, com táxi ou usando aplicativos de transporte particular. "Nos últimos quatros dias, gastei entre R$ 120 e R$ 140 para conseguir chegar ao trabalho e as empresas não estão oferecendo alternativa para os funcionários. Ou eles dão um jeito de vir ou se faltam tem o ponto descontado", explica.

Também na madrugada da última sexta-feira, criminosos atacaram a delegacia do 27º Distrito Policial, no bairro João XXIII, na capital, onde explodiram um veículo que estava estacionado no pátio da unidade. A explosão, provocada por dinamites, pôde ser ouvida a quilômetros de distância, inclusive em bairros vizinhos. "Eu estava na casa dos meus pais quando ouvi um estrondo. A delegacia fica a cerca de 1,5 quilômetros (km) de distância, deu para ver o clarão", relata o atleta Glauber Lorran.