Mulheres caminhando com cautela, protegendo a barra dos vestidos brancos da poeira do chão de terra. Logo atrás, familiares equilibram bolos e salgados.
É uma manhã de quinta-feira incomum em frente ao Presídio de Igarassu (PIG), na Região Metropolitana do Recife (RMR). A porta pesada de entrada, acostumada com o transitar de homens algemados e agentes penitenciários, vira passagem para noivas. É dia de casamento na prisão.
Uma parceria da Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres) com a Defensoria Pública de Pernambuco organizou o segundo casamento coletivo do PIG.
Ao todo, 32 mulheres compareceram à unidade para oficializar o matrimônio com o seu companheiro detento. Foram contabilizados cerca de 130 familiares na cerimônia, que ficaram com a missão de trazer os doces e salgados.
A celebração foi realizada no espaço ecumênico do presídio. Noivos se posicionaram em duas fileiras de cadeiras de plástico. O casamento foi conduzido pela igreja evangélica Casa da Benção de Rio Doce, Olinda.
Pela primeira vez o pastor Izidoro José fazia casamento de presidiário. Leu Gênesis, capítulo 2 versículo 24, sobre a união do homem e da mulher em uma só carne.
“As pessoas olham a ação, o delito, mas não vão atrás da história, do que levou esse homem a chegar até aqui. Muitos deles têm história. Infelizmente o delito foi cometido como uma forma de sobrevivência”, disse o pastor à reportagem.
Lá no fundo, uma mulher chorava sem cessar. Edinalva Antonio dos Santos, de 46 anos, é mãe do detento Robert William, que subiu no palco para cantar.
“Eu estou feliz de ver meu filho aqui dentro. Hoje ele podia estar morto. É meu filho único. Dei muito conselho para ele”, ela afirmou. William estava casando com Ana Maria Oliveira, que, juntamente com Edinalva, trabalhava de diarista em um apartamento de Boa Viagem, no Recife. “Ela começou a vir aqui no presídio para me ajudar. Graças a Deus ela entrou na vida dele”.
Por dois meses, a artesã Rejane Maria Pereira, 45, esteve empenhada em uma peça especial: a confecção do seu próprio vestido de casamento. “Era uma vontade que eu tinha de eu mesma confeccionar meu vestido. É uma sensação única, você mesma confeccionar sua peça”, comentou. Ela se casou com o primo Gabriel Pereira, 30, com quem mantém relacionamento há três anos. Gabriel está preso há dois anos e, nesse período, passou por algumas unidades prisionais sempre procurando saber se conseguiria se casar. “A gente já se amava, faltava apenas oficializar o casamento”, complementou Rejane.
Tímida, Elisabete Santana, 38, escondia o sorriso para as câmeras da imprensa. O agora marido Ivan Santana, 36, era mais expansivo e queria contar a todos a empolgação para o matrimônio. Eles já têm três filhos, de 17, 13 e 12 anos. “Ninguém sabe a barra que ela aguentou. Ela sempre esteve do meu lado, nunca me abandonou. Eu sinto muito porque, com minha prisão, sei que minha família também está presa”, avaliou Ivan.
O defensor público Rafael Alcoforado explicou a importância de ações como o casamento coletivo. “O casamento garante a essas pessoas uma estrutura familiar quando elas saírem do presídio que facilita muito no processo de ressocialização delas”, detalhou. “É mais um elo de aproximação com a família e é como um prêmio para eles e para nós também”, salientou o gerente do PIG, Charles Belarmino.